Vieira suspende funções como presidente. "O Benfica está primeiro"
A direção do Benfica vai reunir-se nas próximas horas, depois de Vieira anunciar a suspensão de funções como presidente do clube. Rui Costa deve assumir a pasta da presidência.
Luís Filipe Vieira suspendeu as funções como presidente do Benfica. Foi o advogado Magalhães e Silva quem comunicou a decisão de Vieira, que está no Tribunal Central de Instrução Criminal para ser ouvido pelo juiz Carlos Alexandre, no âmbito da Operação Cartão Vermelho.
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"A partir deste momento o senhor Luís Filipe Vieira suspendeu as suas funções como presidente do Sport Lisboa e Benfica e das suas participadas", informou o advogado à porta do tribunal. Esclarecendo depois que "suspensão não é renúncia".
Magalhães e Silva explicou que esta decisão estava a ser comunicada "em simultâneo à comunicação social e às estruturas interessadas".
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"O Benfica está primeiro. Perante os eventos dos últimos dias, em que sou diretamente visado, e enquanto o inquérito em curso puder constituir fator de perturbação, suspendo com efeitos imediatos o exercício das minhas funções como presidente do Sport Lisboa e Benfica, bem como de todas as participadas do clube", disse Vieira num comunicado lido pelo seu advogado.
"Apelo a todos os benfiquistas para que se mantenham serenos na defesa do bom nome da grande instituição que é o Benfica", acrescentou Luís Filipe Vieira.
Aos jornalistas, o advogado concluiu: "[Luís Filipe Vieira] está em completa serenidade, que é revelada exatamente por este comunicado, que revela, como compreendem, um sentido da responsabilidade entre a sua posição pessoal e a posição institucional e a prevalência da posição institucional sobre a posição pessoal".
Direção do clube vai reunir-se
Perante estes últimos desenvolvimentos, a direção do clube da Luz vai reunir-se nas próximas horas, estando previsto um comunicado para dar conhecimento dos próximos passos, sendo que Rui Costa deverá substituir Vieira à frente dos destinos do Benfica. Aliás, ao que o DN apurou, a direção deverá emitir um comunicado ainda nesta sexta-feira a informar os sócios e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (porque Vieira é também presidente da SAD) das novas alterações no organograma da direção e da SAD.
Os interrogatórios relacionados com a operação 'Cartão Vermelho', processo em que está envolvido o presidente do Benfica, foram retomados na manhã desta sexta-feira, com a audição de José António dos Santos, também conhecido como 'rei dos frangos', informou o Conselho Superior da Magistratura.
"Por solicitação do Exmo. Senhor Juiz titular do processo em que está envolvido, entre outros, o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, informa-se o seguinte: os interrogatórios reiniciaram-se às 09:25 de hoje com a audição de José A. Santos, que decorre", informa uma nota enviada à comunicação social.
À entrada do tribunal, o advogado de José António dos Santos afirmou que o seu cliente "não fez nada de ilegal, nem imoral e muito menos praticou qualquer crime".
O advogado de Luís Filipe Vieira foi questionado sobre quando serão conhecidas as medidas de coação, tendo afirmado que "pode demorar ou ser rápido, tudo vai depender do interrogatório".
Magalhães e Silva vincou que não se encontra preocupado com os indícios que constam nos autos, num dia em que Vieira suspendeu funções como presidente do Benfica.
Tiago Rodrigo Bastos, que representa o filho de Luís Filipe Vieira, Tiago, também à entrada do tribunal, afirmou que vai contrariar a tese do Ministério Público. Tiago Vieira deverá prestar "alguns esclarecimentos", acrescentou.
"Não se trata de acreditar ou não acreditar. Diria que não se justifica rigorosamente de forma nenhuma", indicou Tiago Rodrigues Bastos aos jornalistas, quando questionado se acredita numa medida de coação preventiva de liberdade para os arguidos, tendo acrescentado: "A indiciação não faz muito sentido. A seu tempo, explicaremos".
Como tal, o causídico admitiu que Tiago Vieira poderá "prestar alguns esclarecimentos", de forma que se possam ultrapassar "algumas dúvidas que existam", num processo que "é muito grande" e que "demora algum tempo a ser visto", realçou.
Sem prestar quaisquer declarações, a advogada do agente de futebol Bruno Macedo, Paula Lourenço, foi a última a chegar às instalações do tribunal criminal, em Lisboa.
Os interrogatórios aos detidos no âmbito do processo 'Cartão Vermelho', entre os quais Luís Filipe Vieira, vão decorrer ao longo do dia de hoje. Na quinta-feira, os detidos foram identificados pelo juiz de instrução, com a defesa a consultar a prova indiciária até às 22:00.
O empresário Luís Filipe Vieira, de 72 anos, foi um dos quatro detidos na quarta-feira numa investigação que envolve negócios e financiamentos superiores a 100 milhões de euros, com prejuízos para o Estado e algumas sociedades.
Segundo o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) estão em causa factos suscetíveis de configurar "crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento de capitais".
Para esta investigação foram cumpridos 44 mandados de busca a sociedades, residências, escritórios de advogados e uma instituição bancária em Lisboa, Torres Vedras e Braga. Um dos locais onde decorreram buscas foi a SAD do Benfica que, em comunicado, adiantou que não foi constituída arguida.
No mesmo processo foram também detidos Tiago Vieira, filho de Luís Filipe Vieira, o agente de futebol Bruno Macedo e o empresário José António dos Santos, conhecido como 'o rei dos frangos'.
Rui Costa vai assumir funções
Luís Filipe Vieira entrou no Benfica como dirigente em 2001, na gerência de Manuel Vilarinho, e foi eleito a 3 de novembro de 2003 pela primeira vez como 33.º presidente do Benfica. Esta sexta-feira não se demitiu, mas suspendeu funções no clube, o que vai obrigar a que algum vice-presidente passe a desempenhar as suas tarefas. O eleito deverá ser Rui Costa, antigo jogador que está em funções de dirigente no clube da Luz desde 2008.
Durante os mandatos de Luís Filipe Vieira, a equipa de futebol conquistou os campeonatos de 2004/2005, 2009/2010, 2013/2014, 2014/2015, 2015/2016 e 2016/2017 as Taças de Portugal de 2003/2004 e 2013/2014, as Taças de Liga de 2008/2009, 2009/2010, 2010/2011, 2011/2012, 2013/2014, 2014/2015 e 2015/2016, e as Supertaças Cândido de Oliveira de 2005 e 2014, e 2016 tendo sido por duas vezes consecutivas finalista vencido da Liga Europa de 2012/2013 e 2013/2014.
Foi reeleito para um segundo mandato a 27 de outubro de 2006. Três anos depois, a 3 de julho de 2009, foi reeleito para um terceiro mandato, tendo vencido o seu adversário Bruno Costa Carvalho com 91,74% dos votos, depois de ter demitido a direção para provocar eleições antecipadas.
A 26 de outubro de 2012, foi novamente reeleito presidente do Benfica com 83,02% dos votos, contra 13,83% de Rui Rangel e 3,15% de votos brancos. Quarenta e dois dias depois, a 7 de dezembro, Vieira tornou-se no presidente com mais tempo de mandato na história do clube, ultrapassando Bento Mântua.
Em 27 de outubro de 2016, tornou a ser reeleito presidente do Benfica para um quinto mandato, com 95,52% dos votos, não tendo tido adversários no acto eleitoral.
Agora, na sequência da sua detenção no âmbito da operação Cartão Vermelho, decidiu esta sexta-feira suspender funções. A pasta da presidência, tal como indicam os estatutos do clube, irá ser ocupada por um vice-presidente, ao que tudo indica Rui Costa.
O antigo jogador, que abandonou os relvados ao serviço do clube da Luz na época 2007-08, iniciou funções de dirigente precisamente em 2008, como diretor desportivo. Ficaram celebres na altura algumas contratações sonantes, como quando foi buscar Pablo Aimar para herdar a sua camisola 10.
Alguns anos depois foi promovido a administrador da SAD do Benfica e depois da última eleição de Vieira passou a vice-presidente.
Rui Costa viu esta semana o seu nome envolvido numa polémica, depois de três sócios terem feito chegar ao Conselho Fiscal do Befica um pedido de esclarecimento sobre uma alegada ligação de negócios entre uma empresa que Rui Costa mantém com o filho e o clube, que teria intermediado a venda de jogadores e feito algumas parcerias com o Benfica, o que contraria os estatutos do clube.
O vice-presidente do Benfica, contudo, numa carta enviada ao Conselho Fiscal negou tudo, desmentido que tenha tido qualquer relação direta ou parceria com os encarnados através das empresas Footlab ou 10 Invest, falando numa tentativa de o denegrir e à sua família.
Já o Conselho Fiscal lembra que nas datas das alegadas transferências envolvendo empresas do ex-jogador aconteceram antes das eleições que levaram Rui Costa à vice presidência do Benfica.
Estatutos omissos na suspensão e Vieira pode designar vice-presidente
A suspensão de funções do exercício da presidência do Benfica não está contemplada nos estatutos do clube da Luz
Os estatutos são omissos em relação ao pedido de suspensão do presidente, assumindo apenas no ponto 3 do seu artigo 61.º que, em caso de impedimento ou ausência, compete ao titular do cargo designar o vice-presidente.
"O presidente deve (...) designar o vice-presidente que o substitua nas suas ausências e impedimentos", refere a alínea a) do terceiro ponto do artigo 61 dos estatutos, o qual define a "constituição" da direção do clube.
No ponto, é especificado que a direção é formada por um presidente, quatro ou seis vice-presidentes efetivos e dois vice-presidentes suplente.
Nos atuais órgãos sociais do clube 'encarnado', eleitos em outubro de 2020, Luís Filipe Vieira tem como vice-presidentes o ex-futebolista Rui Costa, José Eduardo Moniz, Varandas Fernandes, Domingos Almeida Lima, Fernando Tavares e Sílvio Cervan, enquanto Jaime Antunes e Rui Vieira do Passo foram eleitos como suplentes.
A cessação de mandato pode acontecer, entre outros casos, por "renúncia ou destituição", mas também hoje o advogado de Luís Filipe Vieira disse que a suspensão não significa uma renúncia do cargo.
Os estatutos referem no seu artigo 43 que a direção 'cai' com a cessação do mandato da maioria dos seus membros eleitos, efetivos e suplentes, o que não se verifica, num cenário que se aplica igualmente aos restantes órgãos sociais, Conselho Fiscal e Assembleia Geral.