Bastonário dos Médicos defende revisão dos critérios do mapa de risco
Em causa está o chamado mapa de risco associado à pandemia da covid-19 que determina as condições do desconfinamento.
O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) defendeu esta quinta-feira que o critério de gravidade deve ser incluído no mapa de risco da covid-19, uma revisão que "já deveria ter acontecido" e que "nada tem a ver com Lisboa".
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"Esta revisão já devia ter acontecido há duas, três, quatro semanas atrás, quando entrámos em acalmia, e agora está a ser empurrada pelo concelho de Lisboa. A revisão não tem de ser feita por causa de Lisboa (...) O Governo atrasou-se. Não o fez, paciência. Mas este é o momento de o fazer. Tem de o fazer amanhã [sexta-feira] depois da reunião dos especialistas", disse Miguel Guimarães.
Em causa está o chamado mapa de risco associado à pandemia da covid-19 que determina as condições do desconfinamento.
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Miguel Guimarães recordou que este foi feito com um algoritmo que "inclui apenas o Rt [índice de transmissibilidade] e o número de infetados por dia", o que "fazia sentido antes".
Agora "a avaliação do mapa de risco não pode continuar presa a estes dois indicadores, tem de se incluir a gravidade", considerou.
O bastonário, que falava aos jornalistas à margem do debate sobre a "Reforma dos Serviços de Urgência no Pós-Pandemia" que decorreu hoje de manhã no Hospital de São João, no Porto, defendeu que "é fundamental" que na reunião de sexta-feira no Infarmed "o Governo e os peritos analisem esta situação e façam um novo mapa de risco, independentemente da questão de Lisboa".
"Mas isto não se está a fazer para que Lisboa não confine. Se fizerem testes em massa, têm condições para controlar a situação em Lisboa", salvaguardou.
Para explicar a sua tese, Miguel Guimarães recordou que o atual mapa de risco foi feito num período em que o princípio passava pelos serviços hospitalares que "estavam completamente saturados e o número de óbitos era elevado".
"Foi desenhado assim, e muito bem, para uma determinada circunstância. Mas a partir do momento em que temos muito menos doentes internados -- e já temos há muito tempo, não aconteceu ontem --, temos já uma folga enorme nos cuidados intensivos e o número de óbitos também caiu a pique e ainda bem, a avaliação do mapa de risco não pode continuar presa a estes dois indicadores [Rt e o número de infetados por dia]", descreveu.
Quanto à forma de determinar a gravidade, Miguel Guimarães disse que esta "até se pode ter em conta por concelhos, por regiões, por NUTS II" e pediu que sejam incluídas variáveis como as variantes, algo que teme que não esteja a ser "muito monitorizado".
"Temos de incluir outras variáveis. [Além] das novas variantes, [também] o registo das pessoas que já tiveram a infeção e estavam vacinadas. Isso permite-nos perceber que há novas variantes no país mesmo que não estejam a ser muito monitorizadas", referiu.
"É capital" pedir às pessoas que continuem a proteger-se
O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) disse esta quinta-feira que "é capital" transmitir às pessoas que têm de continuar a proteger-se porque só se Portugal mantiver a pandemia da covid-19 controlada terá a economia a funcionar.
"Têm de se continuar a proteger por si porque podem apanhar uma nova variante. Têm de se continuar a proteger pelos outros. Têm de se continuar a proteger-se pelo país porque estamos sob vigilância epidemiológica de países que trazem para cá turistas, como é o Reino Unido. Só se mantivermos a situação controlada, mantemos a economia a funcionar. Se tudo se descontrolar a economia volta para trás", disse Miguel Guimarães.
No Porto, à margem do debate "Reforma dos Serviços de Urgência no Pós-Pandemia" que decorreu no Hospital de São João, Miguel Guimarães procurou deixar uma mensagem quer de esperança face aos recentes números da pandemia de covid-19 em Portugal, mas também sublinhou a ideia de que "a situação não está completamente resolvida".
"É essencial transmitir a ideia às pessoas de que pelo facto de estarem vacinadas, a coisa não está resolvida. Nós quando somos vacinados ficamos protegidos contra a doença grave e provavelmente até contra a própria infeção. Eu estou vacinado, mas se for uma variante nova posso apanhar a infeção também e sem cuidados não protejo as outras pessoas", disse o bastonário.
Numa conversa com os jornalistas, na qual também defendeu que o Governo e os especialistas devem rever os critérios do mapa de risco, Miguel Guimarães quis realçar a necessidade de se manter os cuidados.
"Usem máscara, mantenham distanciamento e lavem frequentemente as mãos com água e sabão ou solução alcoólica", pediu.