Ao fim da tarde desta segunda-feira, 11 de agosto, completam-se 72 horas após a chegada de 38 migrantes de nacionalidade marroquina à Praia da Boca do Rio, em Vila do Bispo, Algarve. E desde essa altura que a presidente da autarquia, Rute Silva, diz estar a aguardar um contacto de um elemento do Governo de Luís Montenegro, nomeadamente do “secretário de Estado que tem a tutela da Migração ou de outro, para discutir uma solução para estas pessoas”, afirma. Mas até esta segunda-feira, “nada". "Ninguém nos contactou, nem sequer sabíamos que era a PSP que estava a tentar arranjar uma solução para o alojamento.” Rute Silva diz ainda que “os serviços regionais, desde autarquia, Proteção Civil, GNR, organizações humanitárias, estão no terreno desde sexta-feira a acompanhar as 38 pessoas que estavam em risco". "É da nossa competência e da Proteção Civil, ajudar pessoas em risco. E desde sexta-feira que os migrantes têm estado a ser sempre acompanhados por técnicos nossos e pela GNR. Arranjámos um espaço com as condições básicas para que ali pudessem ficar 72 horas, mas até hoje, segunda-feira, ninguém do Governo nos contactou ou informou sobre como e quando é que o problema vai ser resolvido. E precisamos do pavilhão até terça-feira”, argumenta..Com centros de instalação lotados, PSP procura alternativas para alojar migrantes que chegaram ao Algarve .A autarca destaca que em pouco tempo as entidades regionais instalaram zonas de acolhimento para dar um teto aos 38 migrantes, 25 homens, seis mulheres e sete crianças. “Foram montadas no pavilhão zonas de dormir e de refeição, mas estas 38 pessoas, como estão sob custódia das autoridades, não podem sair daquele espaço, precisam urgentemente de um outro espaço interior e exterior, onde possam estar, andar e apanhar ar. O pavilhão tem uma sala para tudo e estão ali confinados.” A sorte, sublinha, “é que todas as pessoas que têm acompanhado estes migrantes têm sido incansáveis e muito humanas na prestação do apoio que eles necessitam e têm pedido”.Por isto mesmo, “e dado que é uma realidade que nunca tinha acontecido no país, estranha não ter recebido sequer um contacto de um elemento do Governo sobre como e quando vai ser resolvida a situação destas pessoas. É urgente uma alternativa condigna àquilo que é a vida humana”, reforça ao DN. E exemplifica: “No domingo, tivemos no pavilhão a Unidade Saúde Pública da Unidade Local de Saúde para observar as pessoas. Os bombeiros também, que têm prestado apoio em tudo o que tem sido necessário. A Santa Casa da Misericórdia também tem dado apoio nas refeições, mas, o poder central, aqueles que deveriam ajudar neste caso e que deveriam tentar resolver o problema o mais rápido possível não têm dado resposta e nem sequer se preocuparam em tentar perceber como estávamos a resolver a situação”..PSP prepara distribuição de migrantes que chegaram ao Algarve pelos quatro centros do país.Pouco tempo depois de Rute Silva ter prestado declarações ao DN, fonte da PSP dava conta à Lusa que a questão do alojamento iria ser resolvida com a distribuição dos 38 migrantes pelos espaços equiparados a Centros de Instalação Temporária, sediados nos aeroportos do Porto, Lisboa e Faro. Uma hipótese que o DN já tinha avançado no domingo no texto em que dava conta que o problema maior era mesmo onde alojar estes migrantes dado que os CIT estavam lotados.Mais uma vez Rute Silva critica a gestão do processo dizendo ao DN, que se mantém a total falta de informação por parte do Governo. “O que sei é através da Lusa”, assegurando que “da parte da autarquia, enquanto estas pessoas estiverem cá, terão tudo o que for possível". "No domingo, eu própria fui buscar baralhos de cartas para eles se distraírem, quiseram jogar à bola e arredámos as camas para o poderem fazer, demos-lhes roupas limpas, alimentação e cuidados de saúde”, mas “continuamos sem saber o que vai ser feito”.Uma coisa a autarca sabe: “Retirámos os tempos livres das nossas crianças daquele pavilhão, mas vamos precisar dele para as Festas de Sagres que começam no dia 15. Portanto, até terça-feira tem de ser arranjada uma solução.” A única garantia que tem “é das autoridades regionais no sentido de ajudarem a autarquia no acolhimento destas pessoas”.A autarca diz que tirando a situação da pandemia da covid-19, que tiveram também de montar as tais zonas de acolhimento para receber doentes, nunca o concelho de Vila do Bispo tinha vivido nada igual. “Foi uma surpresa, mas as pessoas têm reagido de forma muito humana tentando ajudar quem está na situação”.