Autarca de Reguengos de Monsaraz vacinado. Francisco Ramos fala em "uso indevido da vacina"
O presidente da Câmara de Reguengos de Monsaraz foi vacinado contra a covid-19 por ser dirigente de uma fundação de um lar de idosos. O coordenador do plano de vacinação fala em "uso indevido" da vacina. Secretário de Estado da Saúde diz que poderá ter existido justificação.
José Calixto, presidente da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz, foi vacinado contra a covid-19, avança a SIC. Uma situação que levanta dúvidas já que não pertence a nenhum dos grupos prioritários da primeira fase do plano de vacinação.
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A câmara justifica a toma da vacina por parte do autarca, uma vez que é o presidente do conselho de administração da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva, dona de um lar de idosos, onde no ano passado morreram 18 pessoas na sequência de um surto de covid-19. O coordenador do plano de vacinação, Fernando Ramos, fala em uso indivíduo da vacina.
A câmara municipal de Reguengos de Monsaraz justifica que o autarca estava na lista de prioridades por dirigir a fundação que gere o lar de idosos. O que torna a toma da vacina "um procedimento normal", argumenta a autarquia, citada pela estação de televisão.
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"A autarquia está a tratar todas as pessoas dos lares por igual para evitar todas as cadeias de contágio", refere ainda a câmara municipal.
Em comunicado enviado à agência Lusa, a Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva (FMIVPS) explicou ter indicado para serem vacinados "todos os utentes, funcionários, administrativos, técnicos e dirigentes que têm contacto regular direto com os utentes".
Segundo a instituição, essa comunicação foi dada em "obediência às indicações recebidas pelas autoridades de saúde e da segurança social".
"O critério recomendado pelas autoridades de saúde e consensualizado com a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) para definir o universo a vacinar foi o do contacto próximo e regular com os utentes, sendo expressa a necessidade de incluir os membros das direções das instituições que mantivessem esse contacto próximo", pode ler-se no comunicado.
No comunicado, a FMIVPS realçou ter conhecimento de que "os membros das direções" de instituições em "todo o país" estão a ser vacinados nesta fase e que "pelo menos isso acontece" na região do Alentejo.
E insistiu que decidiu "seguir a recomendação da CNIS e submeter a vacinação de todos os membros do conselho de administração em exercício regular de funções, porque têm um contacto regular, direto e próximo com os utentes".
Lembrando que o lar que gere enfrentou "um surto com consequências sérias", a fundação sublinhou ter entendido "ser de elementar cautela que todas as pessoas que têm esse contacto fossem vacinadas".
A FMIVPS assegurou que José Calixto, que exerce "de forma voluntária o cargo" de presidente do conselho de administração da fundação, "acompanha de forma diária o trabalho desenvolvido" e tem "contacto com os seus utentes".
"A sua vacinação, além de corresponder ao determinado no Plano Nacional de Vacinação das Estrutura Residencial para Idosos (ERPI) pelas autoridades de saúde e seguir a recomendação da CNIS, foi uma medida exigida para salvaguarda da saúde e da vida dos utentes da fundação", assinalou.
Para a instituição, as notícias de que José Calixto foi "vacinado contra a determinação das autoridades de saúde procurando obter uma situação de privilégio injustificado são falsas e gravemente prejudiciais para o seu bom nome, honra e consideração pessoal, profissional e política" e prejudicam a fundação.
"A perseguição de que a fundação e o presidente do conselho de administração vêm sendo vítimas, por constituírem atos ignóbeis no contexto da tragédia que assola o país e o mundo, será, por isso, objeto das respostas adequadas nas instâncias competentes que, não reparando o prejuízo já causado, reporão, pelo menos, a verdade", acrescentou.
À SIC, Francisco Ramos, coordenador da task-force do plano nacional de vacinação contra a covid-19, refere que "a ter acontecido, foi um uso indevido da vacina".
O responsável pela coordenação da vacinação lembra que, além dos utentes, "o que está previsto é que a vacina seja administrada aos profissionais e não aos dirigentes dos lares", a não ser que sejam, também, prestadores de cuidados.
Secretário de Estado defende que a atividade política deve "ser inserida no serviços críticos"
Em declarações feitas na manhã desta sexta-feira, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Lacerda Sales vê com bons olhos a inclusão de políticos como prioritários no processo de vacinação. "Penso que a atividade política deverá ser inserida nos serviços críticos", defende o governante, reagindo à notícia de que o grupo de trabalho para o plano de vacinação está a preparar uma proposta para incluir os titulares de altos cargos de decisão e os bombeiros entre os prioritários a vacinar.
Lacerda Sales defende que os serviços críticos deviam integrar os prioritários na vacinação contra a covid-19, assim como as forças de segurança, os bombeiros.
Questionado sobre o autarca de Reguengos de Monsaraz que foi vacinado, não estando nos grupos prioritários da primeira fase de vacinação, que inclui os profissionais e residentes de lares, o secretário de Estado Adjunto disse que "todos nós devemos ser vacinados nas nossas fases devidas".
Pressionado para comentar a polémica administração da vacina a José Calixto, afirmou: "acho que este autarca deveria ter sido vacinado na fase correspondente, que seria a fase dos serviços críticos", caso os autarcas sejam inseridos.
Quando foi confrontado com o facto de o autarca pertencer à administração do lar de idosos, referiu que esse pode ter sido um fator equacionado para esta vacinação.
"Talvez por isso tenha sido vacinado, então assim justificar-se-á", disse Lacerda Sales aos jornalistas.