Até à Primavera podem ser evitados 27 mil casos e 147 internamentos entre crianças
A decisão, garante Graça Freitas, foi feita " a pensar exclusivamente no benefício direto para as crianças". E esse benefício surge quantificado no parecer da Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19 (CTVC): no pior cenário de evolução da pandemia, as vacinas podem evitar até 27 mil infeções, 147 hospitalizações, 16 internamentos em cuidados intensivos e 15 casos de Síndrome Inflamatório Multissistémico entre as crianças dos 5 aos 11 anos, até à Primavera de 2022.
Após vários dias de debate inflamado, o polémico plano de vacinação das crianças foi ontem apresentado e a inoculação desse grupo etário arranca já a partir do próximo fim de semana de 18 e 19 de dezembro (ver calendário). Além disso, respondendo aos pedidos generalizados de transparência - ontem suportados pelo próprio primeiro-ministro António Costa - também foi integralmente publicado no site da Direção-Geral da Saúde o parecer da CTVC (que pode consultar aqui). E, com ele, ainda os pareceres consultivos que serviram de base ao mesmo, como reclamavam desde partidos políticos à Ordem dos Médicos.
"A Direção-Geral da Saúde tomou a decisão de publicar o parecer da Comissão Técnica de Vacinação tal qual o recebeu porque há uma necessidade social, um pedido da sociedade, que quer conhecer esse parecer", justificou Graça Freitas, recusando que a decisão tenha obedecido a pressão política, numa conferência de imprensa conjunta com o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Lacerda Sales, e com o coronel Penha Gonçalves, líder da equipa responsável pela coordenação de vacinação.
Sem "nada secreto" a esconder, sublinharam, Graça Freitas e Lacerda Sales procuraram tranquilizar pais e famílias sobre as razões pelas quais avança o plano de vacinação neste grupo etário. As crianças , garantiu a diretora-geral da Saúde, não estão a ser usadas para reforçar a proteção dos adultos. Esta é uma decisão a pensar no "benefício físico direto"das crianças. O resto - proteção dos adultos, benefícios na vida social, escolar e saúde mental - serão "bónus".
E sobre o benefícios diretos para os pais poderem avaliar na altura de decidir sobre a vacinação dos filhos, o parecer técnico da CTVC quantifica alguns cenários que ajudaram a suportar esta decisão. De acordo com uma avaliação de risco/benefício feita pela comissão, a vacinação das crianças dos 5 aos 11 anos, num epaço temporal de quatro meses - até à Primavera de 2022 (março) -, pode poupar, num cenário pessimista de evolução da pandemia (ou seja, de maior incidência), até 27 mil infeções.
Num cenário mais otimista de evolução pandémica (menor incidência), a vacinação pode ainda assim ajudar a evitar quatro mil infeções, nove hospitalizações, um internamento em UCI e um caso de Síndrome Inflamatório Multissistémico. Num cenário mediano, invocado por Graça Freitas na conferência de imprensa, "com uma cobertura vacinal de 85% evitar-se-iam 13 mil infeções, 51 internamentos e eventualmente cinco casos em unidades de casos intensivos".
A avaliação de risco/benefício da CTVC admite ainda, para o mesmo período, o surgimento de entre sete (cenários otimista e mediano) e 12 (cenário pessimista) casos de miocardite (inflamação do músculo do coração) associados à vacinação, mas também evoca um estudo do CDC norte-americano para realçar que esse risco é mais elevado em crianças não vacinadas infetadas com covid.
Reforçando os argumentos em defesa da vacinação desta faixa etária, Lacerda Sales lembrou a situação atual da pandemia em Portugal e o facto de "o grupo etário dos zero aos nove anos" ser agora "o mais atingido nos casos de infeção", enquanto "a faixa dos cinco aos 11 anos representa 40% dos casos em idade pediátrica". "Todos os dias, nos últimos 14 dias, 451 crianças dos 5 aos 9 anos adoeceram com covid-19, e estas são as que estão registadas. Isto dá 6320 casos", sublinhou, por seu lado, Graça Freitas, acrescentando que "se pensarmos que cada criança destas que está numa escola originou isolamento de contactos percebemos quão pesada é a carga de doença neste grupo etário".
Questionada sobre se a vacinação pode fazer reduzir os períodos de isolamento nas escolas, a diretora-geral da Saúde não se comprometeu: "Obviamente que a vacinação pode modelar os períodos de isolamento, tornando-os mais curtos, como já fizemos noutras faixas etárias. Mas é preciso ter em atenção o patamar epidemiológico em que nos encontramos a cada momento." Graça Freitas garantiu ainda que as crianças não vacinadas não serão discriminadas.
Quanto à eventual administração de uma terceira dose da vacina perante a propagação da variante Ómicron, Graça Freitas disse ser "muito cedo" para ponderar tal hipótese. "A ciência ainda não disse qual o efeito da variante na imunidade que já construímos."
O auto-agendamento para a vacinação das crianças arranca na segunda-feira e, nas datas de vacinação deste grupo etário, os centros de vacinação estarão exclusivamente abertos para as crianças, informou o coronel Penha Gonçalves. "Não vai haver outro tipo de vacinação e outras vacinas não vão estar disponíveis nessa altura", detalhou o responsável.
As crianças entre os 5 e os 11 anos serão vacinadas com duas doses da vacina da Pfizer/BiONtech, com um terço da dosagem dos adultos, e o intervalo entre doses será de seis a oito semanas. Já ao final do dia, Marcelo Rebelo de Sousa pediu aos pais que "sejam sensíveis" em relação à vacinação das crianças, destacando a importância da"liberdade de escolha".
18 de 19 de dezembro - serão vacinadas as crianças de 10 e 11 anos
6,7 8 e 9 de janeiro - crianças entre os 7 e 9 anos
15 e 16 de janeiro - Crianças entre os 6 e 7 anos
22 e 23 de janeiro - Crianças de 5 anos
Entre 5 de fevereiro e 13 de março
Serão administradas as segundas doses.
Crianças com comorbilidades serão prioritárias independentemente da idade, desde que com indicação médica.
- Vacinação de crianças de 5 a 11 anos feita com a vacina Comirnaty®, na formulação pediátrica (10cg)
- Intervalo entre doses de 6-8 semanas.
- Deve ser respeitado um intervalo de 14 dias entre a administração desta vacina e de outras vacinas, do Programa Nacional de Vacinação, ou outras vacinas administradas nestas faixas etárias. - As crianças que recuperaram da covid-19 podem ser vacinadas com uma dose de vacina, pelo menos, 3 meses após a covid-19.
- As crianças com história de Síndrome Inflamatório Multissistémico (MIS-C) podem ser vacinadas contra a covid-19, pelo menos 3 meses após a covid-19. O benefício da vacinação contra a covid-19 deve ser avaliado, caso-a caso, pelo médico assistente.
- A vacinação de crianças com história prévia de miocardite (relacionada ou não com vacinas de mRNA) deve ser adiada pelo menos até à resolução completa do quadro clínico. O benefício da vacinação contra a covid-19 deve ser avaliado, caso-a caso, pelo médico assistente.
- As crianças que após a primeira dose de vacina completem 12 anos devem ser vacinadas com a dose pediátrica de Comirnaty® (10cg), de forma a completar o esquema com a mesma formulação.