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Assim será viajar no Comboio Presidencial

A partir de março, a relíquia da CP onde viajar reis, chefes de estado e papas até sair de circulação em 1970, volta a fazer o percurso pelos socalcos do Douro entre São Bento e Pocinho. A experiência a bordo é da responsabilidade do chef Chakall e custa 750 euros.
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Da estação de Sao Bento, no Porto, até ao Pocinho, Vila Nova de Foz Coa, e depois em sentido inverso, num museu sobre carris a apreciar a paisagem do Douro e “sempre a comer e a beber bem”. É esta a proposta da CP, da Fundação do Museu Nacional Ferroviário e do chef Chakall para 20 viagens exclusivas a bordo do comboio presidencial que vão decorrer a partir de março. Um luxo num percurso de ida e volta que dura cerca de 10 horas e que promete celebrar a alma, a comida, o vinho e as histórias desta região.

A ementa está definida, bem como as quintas e restaurantes que integrarão o projeto, depois de o chef Chakall ter passado as últimas semanas a viajar pelo país para (re)descobrir os segredos que teriam obrigatoriamente de ser revelados nas viagens a bordo do comboio presidencial. Como o pão do sr. Aníbal da padaria Díbia, em Vila Real, que, garante, “é o melhor do mundo”. Ou o cabrito do restaurante Gémeas, em Vila Verde, que, diz, “é o melhor do país”.

Ao longo de 10 fins de semana, espera-se que cerca de 1400 passageiros (a uma média de 70 por viagem) se deliciem com o que de melhor o Douro (e não só) tem para oferecer num menu de nove momentos, cuja base será sempre igual: mini francesinha para começar, logo à saída do Porto, sopa de castanhas com pato desfiado, mini croquetes de rabo de boi e de polvo, tartar de carne mirandesa sobre couve assada, quenelles de alheira, ovo de codorniz em redução de vinho do Porto e polvo panado com migas de tomate. Mas nenhuma viagem será igual, já que o prato principal, responsabilidade de um resturante familiar, muda a cada fim de semana. Além do cabrito das Gémeas, será servido o bacalhau do chef Manuel Almeida do Dourum, de Vila Nova de Gaia, o marisco do Ramiro, de Lisboa, a cataplana da Adega do Hotel Vila Vita, em Porches, além de iguarias do Tombalobos, em Portalegre, da Tasquinha do Matias, em Tarouca, ou da Casa Velha do Palheiro, do Funchal.

A acompanhar, os vinhos de 10 quintas, como Vale de Meão, Crasto, Ventozelo, Grifo ou Valbom. “Teremos os melhores vinhos e os melhores pratos de Portugal”, garante o chef Chakall. “Espero ter um serviço de excelência, que mostre que gostamos de Portugal”, acrescenta o argentino, que antes de aceitar dirigir a cozinha do comboio presidencial embarcou num Alfa para, pela primeira vez, conhecer o percurso pelos socalcos do Douro.

Além da gastronomia, dos vinhos e das paisagens, os passageiros poderão apreciar a peça musológica que é o próprio comboio, datado de 1890, que transportou reis, chefes de estado e papas até sair de circulação em 1970. Restaurado pela CP, o comboio - que habitualmente pode ser visitado no Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento – é composto por seis veículos: o Salão do Chefe de Estado, o Salão dos Ministros, o Salão da Comitiva e Segurança, o Salão Restaurante, a Carruagem dos Jornalistas e o Furgão. Espécie de “museu vivo”, nas palavras de Manuel Cabral, da Fundação Museu Nacional Ferroviário, o comboio presidencial terá nestas viagens a missão de “proporcionar experiências e provocar emoções nas pessoas”.

Toda a experiência, desde as visitas do chef Chakal às quintas e restarantes com os quais vai trabalhar no comboio presidencial até às viagens, será documentada para posterior exibição num program de televisão a emitir no canal Casa e Cozinha.

Experiência “democrática”

O projeto marca o regresso do comboio presidencial aos carris, depois da última viagem em outubro de 2022. Nessa época, a iniciativa era dinamizada pela Lohad, empresa que agora decidiu avançar para o tribunal contra os atuais promotores, acusando-os de "utilizar de forma não autorizada o património intelectual da empresa e o reconhecimento mundial do projeto, causando-lhe danos reputacionais elevados". Para a CP, através do seu presidente, este novo serviço proporciona “uma experiência completamente diversificada do anterior”, com acordos com várias quintas e restaurantes.

Mesmo tendo sido organizado de forma “democrática”, com envolvimento de vários parceiros, o projeto continua a ter preços proibitivos para a grande maioria da população: 750 euros por pessoa. “É caro e não é”, constata o chef Chakall. Ou seja, o preço do bilhete “é uma brutalidade de dinheiro”, mas a experiência de que cada passageiro vai desfrutar é impagável, defende. “É algo único”.

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