Alunos do Superior em protesto: "Até quando vai o muro aumentar?"
Estudantes exigem fim das propinas, mais financiamento público nas instituições de ensino, mais e melhor alojamento e reforço da Ação Social Escolar.
O Dia do Estudante assinala-se amanhã, mas os alunos do Ensino Superior manifestam-se já hoje, com concentrações em Aveiro, Braga, Castelo Branco, Coimbra, Lisboa e Porto. Até quando vai o muro aumentar? Fim às barreiras no Ensino Superior!, é o nome dado às ações de protesto, que marcam o descontentamento dos estudantes do Ensino Superior (ES).
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Ao DN, Mafalda Borges, da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (AEFCSH) explica a revolta dos alunos. "De há vários anos para cá tem sido cada vez mais difícil para nós. Há barreiras que impedem que os estudantes se mantenham no ES, desde as propinas ao alojamento. Este ano, tem sido particularmente difícil devido à inflação. E no que se refere ao preço do alojamento, o problema é preocupante. O Plano Nacional de Acesso ao ES, que já foi implementado, está longe de ser cumprido. Apontava para a construção de residências públicas, o que não aconteceu", sublinha.
A estes problemas, conta, "acrescem as propinas, taxas e emolumentos e outros custos associados ao Ensino Superior que continuam a ser um dos principais muros que deixam de fora milhares de estudantes". "As insuficiências da Ação Social Escolar limitam os apoios sociais e deixam cada vez mais estudantes sem solução. A ausência de bolsas ou a insuficiência dos seus valores, o encerramento ou degradação das cantinas públicas e as filas cada vez maiores, o aumento do valor da refeição social são muros que crescem perante os estudantes", destaca.
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Já Margarida Moreira, presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, afirma haver um sem número de "problemas estruturais e crónicos no ES", temendo um abandono do ES cada vez mais significativo.
"O valor das propinas e do alojamento são a súmula das dificuldades. No Porto, em termos de residências públicas, ou estão cheias, ou são completamente obsoletas. Na residência de estudantes Novais Barbosa, por exemplo, não existe sequer cozinha e há muitos problemas de infiltrações. Os estudantes que recorrem ao alojamento privado pagam por um espaço equivalente a uma despensa cerca de 350 euros, sem despesas de água, de luz e gás", explica. Margarida Moreira defende, por isso, "um mercado regulado do alojamento" e o "fim das propinas".
"Nenhum estudante pode ficar para trás"
Cerca de duas dezenas de associações de estudante assinaram um manifesto, apontando os problemas que consideram ser de resolução urgente, sob pena de haver "cada vez mais alunos a desistir do Ensino Superior por não poderem fazer face às despesas".
"Hoje, os estudantes e as famílias sentem na pele as consequências do aprofundamento das desigualdades e do aumento do custo de vida, dos bens essenciais, da habitação, dos transportes. Orgulhosos do passado de luta dos estudantes portugueses, olhamos para o presente e exigimos um futuro justo e digno, em que se cumpram os nossos direitos e em que nenhum estudante fique para trás", pode ler-se no documento. No manifesto, os jovens pedem também "mais voz" junto dos órgãos decisores do Governo. "Queremos entrar nas reuniões e ter espaço na mesa das discussões do Ensino Superior, nas câmaras municipais, nas federações académicas ou no Ministério do Ensino Superior", salienta Margarida Moreira.
"A ausência de bolsas ou a insuficiência dos seus valores, o encerramento ou degradação das cantinas públicas e as filas cada vez maiores, o aumento do valor da refeição social são muros que crescem perante os estudantes", frisa Mafalda Borges.
"Não podemos continuar este caminho. Não tem de ser assim. Se o Ensino é um direito - que, com muito esforço, o povo português conquistou - é possível e urgente que esteja ao acesso e serviço de todos. Perguntamos: até quando? Reivindicamos a gratuitidade do Ensino Superior, o financiamento público necessário e condições materiais e humanas nas instituições, mais e melhor alojamento e o reforço da Ação Social Escolar. Exigimos ter uma palavra a dizer", refere o manifesto.
No documento, os estudantes explicam também que os protestos do dia de hoje servem para assinalar "o Dia Nacional do Estudante, marco na história do movimento estudantil contra o fascismo, em defesa da democracia e da liberdade". "Celebramos as suas conquistas e o direito de todos a um Ensino Superior público, gratuito, democrático e de qualidade - consagrado na Constituição da República Portuguesa", conclui o manifesto.
Os estudantes do Ensino Superior vão concentrar-se junto às reitorias das diferentes universidades, estando a presença confirmada de alunos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, Associação Académica da Universidade de Lisboa, Escola Superior de Teatro e Cinema, Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
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