Gonçalo Pires, administrador financeiro (CFO) da TAP.
Gonçalo Pires, administrador financeiro (CFO) da TAP.ANDRÉ KOSTERS/LUSA

Administrador da TAP explica prejuízo com custos com pessoal e efeito de sazonalidade

Gonçalo Pires está a ser ouvido pelos deputados sobre a situação financeira da TAP. Chega quer chamar António Costa ao parlamento.
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O administrador financeiro (CFO) da TAP afirmou esta terça-feira e que a empresa vive um momento histórico, justificando os prejuízos do último trimestre de 2023 e primeiro de 2024 com os custos com pessoal pelos novos acordos e o efeito sazonal.

Gonçalo Pires está esta terça-feira a ser ouvido pelos deputados sobre a situação financeira da TAP, na sequência de um requerimento do Chega, tendo referido que "obviamente que os custos com pessoal tiveram impacto" nos resultados registados, porque a companhia aérea celebrou acordos de empresa "que representam um encargo adicional".

Mas nestes resultados pesa também "um efeito de sazonalidade" do negócio, disse, salientando que se vive "um momento histórico na TAP", pois os resultados de 2023 "são históricos" -- notando que o plano de reestruturação apenas apontava para resultados positivos em 2024.

A TAP comunicou prejuízos de 71,9 milhões de euros no primeiro trimestre do ano, um agravamento face ao resultado líquido negativo de 57,4 milhões registados no mesmo período do ano passado.

Em 2023, a companhia aérea registou um lucro 'recorde' de 177,3 milhões de euros, com um prejuízo de 26,2 milhões no último trimestre daquele ano.

Durante a audição os deputados do PSD Gonçalo Lage e do Chega Carlos Barbosa questionaram o responsável financeiro da TAP sobre a privatização mas a resposta de Gonçalo Pires não se afastou do registo de que o papel dos gestores é gerir e não fazer comentários sobre cenários, nem sobre 'timings', nem sobre desejos do acionista.

O administrador financeiro da transportadora aérea disse ainda que o custo com combustível representa 30% dos custos da empresa, tendo sido "mais de um dos desafios que a TAP enfrentou desde o início da execução do plano" de reestruturação.

Apesar dos resultados no primeiro trimestre, afirmou que o segundo e terceiro trimestres do ano "meses fortes" onde a TAP gerará resultados positivos, ainda que o ano de 2024 terá também o impacto da subida de custos.

A Comissão de Economia, Obras Públicas e Habitação vai ouvir também hoje o presidente da TAP, Luís Rodrigues, igualmente para prestar esclarecimentos sobre a situação da transportadora, nomeadamente, sobre os prejuízos registados no quarto trimestre de 2023 e no primeiro trimestre de 2024.

Os novos acordos de empresa foram negociados com todos os sindicatos representativos dos trabalhadores da companhia, após os antigos terem sido denunciados para que pudessem entrar em vigor os acordos temporários de emergência, que permitiram a aplicação de cortes salariais, no âmbito do auxílio de Estado e do plano de reestruturação, no seguimento das dificuldades causadas pela pandemia de covid-19.

Chega propõe chamar António Costa ao parlamento

O Chega vai propor a audição na Assembleia da República do ex-primeiro-ministro António Costa para dar explicações aos deputados na sequência de notícias de que terá dado indicação para o despedimento da ex-CEO da TAP.

O anúncio foi feito pelo líder do partido, André Ventura, numa declaração no parlamento, referindo que o requerimento já foi entregue na comissão de Economia, Obras Públicas e Habitação.

O Chega quer "chamar com urgência" António Costa ao parlamento "para explicar qual foi o seu papel neste despedimento, quais foram os reais motivos e interesses por detrás deste despedimento e se é verdade, conforme as conversas indiciam e as escutas hoje reveladas demonstram, que houve motivações absolutamente políticas de cálculo e tática eleitoral na forma como foi despedida a antiga CEO da TAP".

O presidente do Chega indicou também que quer confrontar o ex-chefe de Governo "com o que disse na altura, enquanto primeiro-ministro, e que não bate certo com estas declarações".

André Ventura disse que o partido vai pedir igualmente o levantamento de "declarações feitas na comissão de inquérito da TAP, para enviar para o Ministério Público tudo o que configurar o crime de falsas declarações e de mentiras ditas ao parlamento, quer pelo Partido Socialista, quer por antigos membros da TAP, quer especialmente por antigos membros do Governo".

A CNN Portugal divulgou hoje uma escuta da operação Influencer, de 05 de março do ano passado, na qual António Costa terá dito ao ex-ministro João Galamba que Christine Ourmières-Widener teria de sair da liderança da TAP por razões políticas, por forma a conter eventuais danos para o Governo.

O líder do Chega afirmou que "os elementos de conversação que ficaram disponíveis hoje mostram uma coisa para lá de toda a evidência, que o despedimento da antiga CEO da TAP teve motivações políticas e não, ao contrário do que disseram os então membros do Governo Fernando Medina e João Galamba, motivações técnicas sustentadas nos relatórios e sobretudo sustentada na auditoria". 

"Isto significa que o Governo mentiu aos portugueses, significa que o então primeiro-ministro mentiu aos portugueses e que o que fez foi criar um artifício que levasse a um despedimento rápido da antiga CEO da TAP para se livrar daquilo que ele chamou o inferno político de então", acusou.

Ventura sustentou também que estas iniciativas "nada têm a ver com o momento político, nem com o momento político nacional ou de António Costa", numa altura em que é um nome apontado ao Conselho Europeu.

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