Abandono de máscara terá impacto ligeiro ou nulo na incidência
A medida entrou em vigor há uma semana e o uso de máscara deixou de ser obrigatório em espaços fechados, havendo apenas três exceções, mas ainda é cedo para se perceber o impacto no número de casos de novas infeções. O professor Carlos Antunes estima que este não será significativo, embora se possa sentir alguma alteração nas camadas mais jovens.
Uma semana depois de ter entrado em vigor a norma que permite o abandono do uso de máscara nos espaços exteriores, com exceção das unidades de saúde, lares e transportes públicos, o professor Carlos Antunes, da equipa da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que faz a modelação da evolução da covid-19 desde o início da pandemia, diz ao DN que ainda é cedo para se perceber o impacto da medida no número de casos de covid-19, mas que tudo aponta para que este "seja ligeiro ou, provavelmente, nulo".
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Segundo o analista, os indicadores usados na sua análise não apontam para "um agravamento significativo da situação pandémica. Poderá haver algumas alterações no número de casos em certas faixas etárias ou em algumas regiões, mas sem grande repercussão". E isto por várias razões: "Por um lado, porque a taxa de infeção diária ainda é elevada. Está na ordem dos dez mil casos, o que também reforça a imunidade natural e dificulta a progressão do vírus. Por outro lado, porque o tempo começa a aquecer, as pessoas fazem mais vida ao ar livre, o que também condiciona a sobrevivência do vírus".
Mas não só. A análise dos indicadores secundários também aponta para isto mesmo. "Os indicadores secundários, que refletem sempre os internamentos e os óbitos, não registam uma evolução positiva no sentido de haver um agravamento". Nesta semana, foi registado um ligeiro aumento no número de internamentos na região Norte, na faixa etária acima dos 80 anos, mas, provavelmente, especifica Carlos Antunes, esta subida deve ter a ver com casos que chegaram ao hospital devido a outras doenças, mas que à entrada testaram positivo, já que este aumento nos internamentos também não teve repercussão nas entradas nos cuidados intensivos e na gravidade da doença.
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Isso mesmo é possível observar-se também na análise da mortalidade. O professor explicou que, neste momento, o número diário de óbitos já baixou para os 20 e para os 25 por milhão de habitantes a 14 dias. Portanto, "isto corrobora a ideia de que a gravidade imunológica não é significativa".
De acordo com os dados divulgados ontem pela Direção-Geral da Saúde (DGS), Portugal registou no dia 27 de abril 13 011 casos e 17 óbitos, no dia anterior tinha registado 13 102 e 20 óbitos, embora nos dias de fim de semana, em que a testagem foi muito menor, os números tenham oscilado entre os 3400 e 6600 infetados. "Os dados de terça-feira e de quarta-feira são mais elevados, porque houve mais testagem, o que não aconteceu no fim de semana".
Para a equipa da Faculdade de Ciências é necessário aguardar-se mais uma semana, pelo menos, para se perceber o verdadeiro impacto dos fins de semana alargados e do abandono da máscara, mas, como diz Carlos Antunes, "a existir alterações na incidência serão ligeiras", podendo até começar por uma alteração do padrão etário. "Se houver aumento de casos, estes começarão nas camadas mais jovens, porque são estes que mais facilmente aceitam a medida. As camadas mais velhas manterão o seu uso. Serão aqueles que mais resistência terão em abandonar a máscara".
O professor referiu ao DN que o índice de transmissibilidade também está a descer. "A nível nacional o R(t) está nos 0.98. Só as regiões Norte, Centro e Açores mantém um R(t) acima de 1.0".