Coral Vivo é o título da peça que Vanessa Barragão fez para o Estado português oferecer à ONU.
Coral Vivo é o título da peça que Vanessa Barragão fez para o Estado português oferecer à ONU.DR

A tapeçaria portuguesa que decora as paredes das Nações Unidas

O governo português doou à ONU uma peça de Vanessa Barragão, que está agora na Sala dos Delegados na sede desta instituição, em Nova Iorque. Com recurso a materiais reciclados, a artista algarvia quer alertar para a importância de todos fazerem a sua parte na preservação do planeta.
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A inspiração para o trabalho da artista têxtil Vanessa Barragão é o mar e a natureza, mas também a ecologia e a sustentabilidade. E é tudo isso que está bem patente na sua peça de tapeçaria que está, desde segunda-feira, na exposição permanente do edifício-sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque. Uma doação do governo português a esta instituição a que a artista chamou Coral Vivo e que quer ser uma luz de esperança na proteção dos ecossistemas marinhos.

“Esta é uma peça muito positiva e que traz esperança para este mundo vir a mudar num sentido também positivo e de mais consciencialização”, afirma Vanessa Barracão, a partir de Nova Iorque, em entrevista ao DN. 

Com quatro metros de largura por dois metros de altura e feita a partir de tufado manual, esta tapeçaria celebra a importância e riqueza dos recifes de coral, um ecossistema com a maior biodiversidade do mundo.

Um detalhe de paça de Vanessa Barragão. DR

É toda feita com lã e tencell, uma fibra semi-sintética usada para fazer têxteis para vestuário e outros fins. No seu trabalho, Vanessa Barragão utiliza apenas fibras desperdiçadas da indústria têxtil nacional e foi durante os anos em que trabalhou como designer têxtil numa fábrica de tapetes artesanais que viu o valor que este desperdício ainda poderia ter.

“É a partir do material que me enviam que começo a tentar desenvolver novas técnicas e novas formas para adaptar e progredir no meu trabalho”, diz a artistas que, além de Portugal, está a desenvolver parcerias com fábricas em Itália para se desafiar a evoluir o seu trabalho.

A artista algarvia trabalha com o desperdício das fábricas.
Foto: Claudia Gori

Nascida em Albufeira, no Algarve, é no mar e na natureza que Vanessa Barragão vai buscar a grande inspiração para o trabalho. “Inspira-me a natureza em geral, mas o mar em particular. É dos sítios que mais me inspira por ser um local onde consigo estar em silêncio e observá-lo é meditativo. O fundo do mar é dos sítios mais incríveis que já vi”, explica a artista.

Através da sua arte, Vanessa Barragão quer passar a mensagem de que é importante todos fazerem a sua parte na preservação do planeta para que as gerações futuras possam viver de forma saudável e prazerosa. “Os recifes de coral são um grande pilar do ecossistema marinho e se eles entrarem em degradação isso terá grandes consequências e podemos, inclusive, perder tudo o que é vida marinha no oceano”, alerta.

O convite do Governo para produzir esta peça foi uma surpresa mas um motivo de grande orgulho. “Isto é um grande reconhecimento do meu trabalho, do meu país, e vai estar num local onde vai viver para sempre. É um grande orgulho para mim ter o meu trabalho num sítio como este, dado pelo meu país”, afirma a artista têxtil.

Todas as peças de Vanessa Barragão são feitas utilizando técnicas artesanais e ancestrais, o que torna o processo de produção mais longo. “Através destes métodos de produção artesanais, as peças ganham um valor inexplicável e acho isso muito importante no mundo em que hoje tudo é descartável. Estas peças vão viver para sempre e acho que o mundo não precisa de mais lixo”, diz.

Atualmente, todas as peças de Vanessa Barragão são feitas por encomenda e com base nas coleções que já tem abertas. Trabalha com as galerias This is Not a White Cube, em Lisboa, a Cobra Gallery, em Xangai, na China, e na Galeria Casa Quadrada, em Bogotá, Colômbia.

A cerimónia de doação aconteceu na segunda-feira na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, onde a peça está agora exposta na Sala dos Delegados desta instituição. Este evento contou com a presença do primeiro-ministro, António Costa e da ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva.

“Com esta oferta, para exposição permanente no edifício-sede da ONU, o Governo afirma querer valorizar a participação ativa de Portugal” naquela organização, “bem como o papel cimeiro das Nações Unidas na agenda dos Oceanos e na construção de um futuro mais verde, mais seguro e mais próspero”, pode ler-se na nota divulgada pelo gabinete de António Costa. Esta doação pretende ainda reconhecer o trabalho do secretário-geral das Nações Unidas no combate às alterações climáticas.

Guterres agradeceu a “generosa doação”, dando ênfase às técnicas artesanais tradicionais e aos materiais reciclados usados, remetendo para as formas vibrantes e orgânicas do oceano.

“Tal como os fios delicados, mas resistentes desta tapeçaria, toda a vida neste planeta está entrelaçada numa rede intrincada e codependente. Os recifes de coral estão entre os habitats mais deslumbrantes, com maior biodiversidade e mais vitais do nosso planeta”, assinalou.

sara.a.santos@dn.pt

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