“Somos uma marca politizada”, assumem Maria Malaquias, 34 anos, e Isabel Braga, 35 anos, as mulheres, ativistas, feministas, por trás da Pópria, assim mesmo, sem o “r”. Não havia grandes dúvidas de que assim fossem ou não tivessem optado por uma coleção de meias alusivas ao 25 de Abril para primeiro lançamento. “Sempre”, “Em cada esquina, uma canção” e “Brava, Meu bem” são algumas das palavras/frases bordadas nas meias que vendem para tentar promover uma consciência coletiva da luta vitoriosa pela liberdade..Foto DR.“Somos pessoas politizadas e a nossa marca passa esses ideias de vivência em comunidade”, diz Maria Malaquias. Porque, defendem, a luta deve ser coletiva e, neste caso, feita a meias. E o produto que vendem é “uma forma de afirmação e posicionamento” não para usar no dia 25 de Abril para descer a Avenida da Liberdade mas para todos os dias porque esta “é uma luta diária”..Para já, a marca conta com um modelo só com um cravo bordado (8€) e outro com um cravo e a palavra “sempre” (10€) e ainda uma lista de sete frases icónicas, extraídas de hinos da liberdade: “em cada esquina um amigo”, “em cada rosto igualdade”, “o povo é quem mais ordena” e “eles comem tudo e não deixam nada”, de Zeca Afonso; “a paz, o pão, habitação, saúde, educação”, “que força é essa, amigo?”, de Sérgio Godinho; e “cá dentro inquietação”, de José Mário Branco (14€). Frases que enaltecem o poder da palavra enquanto veículo transformador, o qual se prolonga em inúmeras referências femininas, como a mensagem das três Marias em Novas Cartas Portuguesas, ou os poemas contemporâneos de Francisca Camelo e as canções de Capicua e de A Garota Não. “São pessoas de tempos e gerações diferentes, mas a mensagem é a mesma”, constata Maria Malaquias..Foto DR.Foto DR.São desenhos e frases bordados à mão pelas próprias, de forma tosca, numa prática que lhes foi passada pelas mães. Porque elas assim o quiseram, “não como uma imposição”, realçam, porque, garantem, não foram educadas para ser “mulheres recatadas no lar”..O nome Pópria vem de uma brincadeira linguística com os amigos mas, mais importante que isso, assinala a oposição à ideia de perfeição. “Há uma ideia de que se nos esforçarmos chegamos onde queremos. Não é assim. A meritocracia é uma falácia. A corrida é desigual, não partimos todos do mesmo sítio”, defendem..A Pópria nasceu a 3 de março, véspera das eleições legislativas, quando as sondagens já apontavam para a viragem à direita e para o crescimento da extrema-direita que se veio a concretizar. “Acredito no poder das mãos enquanto fazedoras de objetos em construção”, realça Maria. E neste momento, defende, a liberdade precisa de ser reconstruída. Uma ideia partilhada certamente por todos aqueles que já compraram as meias do 25 de Abril no Instagram da Pópria. O stock esgotou, mas as duas sócias têm esperança de conseguir assegurar mais pares até ao 25 de Abril..Depois disso, além de meias personalizadas (por valores entre os 10 e os 15 euros), a Pópria terá outras coleções. Mas esta, a do 25 de Abril, será para manter. Sempre..Outros produtos que assinalam a revolução.Infusão de cravo.A Companhia Portugueza do Chá lançou uma tisana de cravo para celebrar os 50 anos do 25 de Abril. “Conhecemos o cravo como símbolo de liberdade, a nossa proposta é que possam conhecer também a infusão de cravo”, diz a marca, com loja em Lisboa..Foto DRA infusão é “ligeiramente adocicada, de uma belíssima cor encarnada, bem floral, e com algumas notas de frutos vermelhos” e está disponivel numa caixa comemorativa com 10 unidades (11€)..Usado há muito na medicina tradicional chinesa, o cravo tem muitas propriedades: ajuda a acalmar a ansiedade, a descansar, é uma flor com muitos minerais e antioxidantes, diz a Companhia Portugueza do Chá, que, alerta que o cravo usado é chamado de “cravo agrícola” porque o seu cultivo é feito como alimento e não como flor decorativa..“É uma infusão muito bonita, a flor abre, quase que fica a bailar dentro da água”, diz o fundador nas redes sociais..Uma colheita de 1974 de Vinho do Porto Barros.A Barros, casa de Vinho do Porto fundada em 1913, celebra o 50.º aniversário do 25 de abril com o lançamento de uma edição especial da colheita de 1974. Em parceria com a artista portuguesa Teresa Rego, apresenta-se agora com um packaging especial que marca este momento histórico..Ilustradora e designer que cria ilustrações coloridas e ousadas, Teresa Rego desenvolveu um trabalho, patente na garrafa, no rótulo e contra-rótulo, e na caixa individual, que representa valores como a jovialidade e a vivacidade, através das cores que, juntas, dão fôlego a uma desconstrução da data. .Foto DR.A obra, diz a Barros, pretende ser um contrassenso cénico - a serenidade em confronto com a força da data - , uma homenagem viva à coragem de um povo e à beleza da liberdade de pensamento. E de criação. Tem o preço recomendado de 170 euros.