#18 “Canção de madrugar” (José Carlos Ary dos Santos / Nuno Nazareth Fernandes), Hugo Maia de Loureiro, 1970
O “VII Grande Prémio TV da Canção” foi de protesto contra o que sucedera a Portugal no ano anterior na Eurovisão. A RTP decidira não participar lá fora, e continuar a fazer um festival cá dentro, apelidado de “Festival da Primavera”, mas foi nesse ano que terminou a primavera de Marcello Caetano. À entrada dos anos 70, o País estava em ressaca, depois de um ano anterior absolutamente vibrante. Sérgio Borges levou o seu barco até ao primeiro lugar, mas muitos, à esquerda, consideraram ser “Canção de madrugar” a mais conveniente, porque dizia as coisas que eram necessárias: “Sei meu amor inventado que um dia / Teu corpo há-de acender / Uma fogueira de sol e de fúria / Que nos verá nascer”. A censura deixou passar a metáfora incluída numa letra aparentemente de amor, mas que era um apelo a que o País se alvorecesse. Os delegados da RTP em cada distrito estavam avisados. Os últimos votos não deviam fazer pender a vitória para Hugo Maia de Loureiro, que não era propriamente de esquerda, mas dava voz a uma canção incómoda. Sempre se queixou dos problemas de som que teve nos ensaios e no espetáculo final. O cantor participara no “Zip-Zip” e foi escolhido pela dupla de autores em casa de Ary dos Santos, onde a letra foi sendo alterada. A editora foi a Zip-Zip, com arranjos de Thilo Krasmann e coros de Nuno Gomes dos Santos, Luís Pedro Faro, Ana Maria Pires e Isabel Maria Pires. A capa de grande qualidade plástica é da autoria de Manuel Vieira. No lado B, está a canção promocional de “Canção de madrugar” intitulada “Canção de amanhecer”, criada pelos mesmos autores.