O comissário europeu para o Emprego resumiu o último ano, marcado pela pandemia, como aquele em que se passou de trabalhar em casa para viver no trabalho, realçando que essa possibilidade foi, porém, "uma bênção" para a economia..Nicolas Schmit, comissário europeu para o Emprego e Direitos Sociais, quis dizer que, sem a possibilidade do teletrabalho, "a crise económica teria sido muito pior"..Na abertura da conferência de alto nível "Trabalho remoto: desafios, riscos e oportunidades", promovida pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, no quadro da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia (UE), o comissário europeu frisou que "não há nada que aparte as condições de trabalho dignas e a flexibilidade laboral, ao contrário, devem andar de mão dada"..Prevendo que, após a pandemia, venham a ser adotados mais frequentemente "sistemas híbridos", o comissário realçou que "o trabalho do futuro tem de respeitar os valores europeus", devendo garantir aos trabalhadores "o direito a desligar"..Desenvolver as competências digitais das pessoas é outro ponto fundamental no quadro de um maior recurso ao trabalho remoto, acrescentou.."Ninguém ficará para trás", disse António Costa, o primeiro-ministro, nas palavras de boas-vindas à conferência. Ana Mendes Godinho, a ministra do Trabalho, repetiu-o, um pouco depois, focando na necessidade de "um futuro de trabalho digno"..Ambos apontaram que "é tempo de agir" e de adotar "iniciativas concretas e sinais inequívocos" que garantam aos europeus que o teletrabalho é "uma oportunidade e não uma ameaça"..Para tal, a presidência portuguesa do Conselho da UE, que decorre até final de junho, decidiu promover "uma ampla reflexão" sobre o caminho a seguir.."Esta conferência não é um momento isolado", assinalou António Costa, vincando a necessidade de "uma reflexão conjunta que garanta que os processos conjunturais não se transformam em desigualdades estruturais"..Defendendo "uma abordagem sistémica, integrada e estratégica", que envolva parceiros sociais, empresas e sociedade civil, o primeiro-ministro reconheceu "os desafios e riscos para trabalhadores e empresas"..Neste cenário, os "sistemas sociais precisam de se adaptar", constatou, frisando que "o pilar dos direitos sociais é fundamental"..No mesmo sentido, o diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder, sublinhou que o trabalho remoto "é compatível" com a legislação em vigor, "tal como o trabalho tradicional"..Não faltam diretivas, garantiu. "Precisamos agora é da vontade política e da ação que esta desencadeia", disse.."É mais importante do que nunca (...) pôr as pessoas no centro", resumiu, defendendo uma abordagem ao trabalho centrada nas pessoas.."O trabalho não é uma mercadoria" e "os trabalhadores não são computadores nem robôs e não podem ser regulados por estes", vincou, defendendo diálogo social, regulação internacional e cooperação global..Entre as "oportunidades excitantes" que o trabalho remoto traz - enumerou - estão ganhos ambientais, flexibilidade, maior inclusão para pessoas com deficiência ou outras barreiras e um potencial maior equilíbrio entre vida profissional, familiar e pessoal..Já nas desvantagens "a mais evidente" é "o esbatimento da fronteira" entre casa e trabalho e a ideia de "disponibilidade total" dos trabalhadores, assinalou..O futuro do trabalho e as mudanças no mercado laboral serão hoje debatidas ao longo de quatro painéis sobre as "tendências, oportunidades, desafios e riscos" do trabalho remoto, a organização do trabalho e sua regulação, a conciliação entre a vida pessoal, familiar e profissional, o direito a desligar, a proteção social e a negociação coletiva..Irene Mandl, chefe da unidade do Emprego do Eurofound, Tina Weber, chefe de investigação do Eurofound, Manuel Carvalho da Silva, diretor do CoLABOR (Laboratório Colaborativo para o Trabalho, Emprego e Proteção Social) e Barbara Gerstenberger, chefe da unidade Vida Ativa do Eurofound, farão a introdução dos quatro painéis..A sessão de encerramento contará com os ministros do Trabalho do trio de presidências do Conselho da UE, composto pela Alemanha (segundo semestre de 2020), Portugal (em curso até junho) e Eslovénia (segundo semestre de 2021).