Vieram de longe e daqui não mais saíram

Vieram de Angola, Coreia do Sul, França, Finlândia, Grécia, Marrocos, Espanha. Trabalharam na Expo"98, há 20 anos, adotaram Portugal como segunda pátria. Desses tempos, recordam uma felicidade imensa. E dos portugueses e do país que os acolheu só têm coisas positivas a dizer
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A guerra era um dos destinos possíveis de Elísio do Capitão Grosso, não fosse a realização da Expo"98 em Portugal. Chegado a Luanda vindo de Cuba, onde estivera a receber instrução militar, com especialização em ação psicológica, Mestre Capitão, como é conhecido, fez-se valer da sua veia artística e experiência como ator e percussionista. "Tive sorte porque, nos quartéis, fazíamos ensaios, representávamos e, por isso, a tropa que fiz até foi muito saudável", conta o angolano que foi percussionista no Ballet Nacional de Angola e ator na companhia de teatro Elinga.

Foi através desta que, em 1997, foi selecionado como bolseiro para o primeiro estágio internacional de artistas lusófonos. Em Portugal. Quando saiu de Luanda, sua cidade natal, já sabia que na fase final da bolsa iria trabalhar na Expo"98. E nos Olharapos. Assim se chamavam as criaturas, meio-humanas, meio-animais que, de dia e noite, eram movimentadas por performers, técnicos e produtores e deambulavam pelo recinto da exposição, interagindo de forma divertida com o público. Muitos os retiveram na memória até hoje, com o mesmo carinho com que Mestre Capitão, um dos que lhes deram vida, guardou para sempre a Expo"98 (inaugurada faz terça-feira 20 anos).

"Cada país da CPLP mandou um bolseiro, alguns tiveram direito a dois, para um estágio dividido em quatro fases: a primeira no Teatro da Trindade em Lisboa, as outras duas no Porto e Braga, a última, de novo em Lisboa, na Expo"98. Fomos inaugurar aquelas casas novas na Expo, fomos muito bem recebidos, diria até que fomos mimados", conta o músico quinquagenário, que depois da Expo"98 ficou em Portugal. "Angola não oferecia muita segurança na altura, então fiquei indeciso e permaneci aqui" - recorde-se que a guerra civil angolana só foi dada como terminada em 2002.

"Os Olharapos estavam divididos em dois turnos, tínhamos dois dias de folga, mas não podíamos faltar nunca porque se não a coreografia não batia certo", recorda, entre risos, realçando que conheceu milhares de pessoas e fez muitos amigos. Mais estrangeiros. Mas também alguns portugueses. "Acompanhei músicos angolanos no pavilhão de Angola. Não esqueço os espetáculos a que tive acesso, pois tinha uns passes especiais, entrava no palco da Praça Sony, onde conversei com o B.B. King [que morreu a 14 de maio de 2015]".

A música continuou sempre a ser a sua vida e a filha, Maria, de 14 anos, também tem as artes no sangue. "Ela é a minha razão de permanecer em Portugal. É bailarina solista em Almada". Mestre Capitão trabalha como percussionista com músicos como Don Kikas, Bonga, Kussundulola, Yuri da Cunha, Paulo Flores, Grace Évora, etc... Viaja muito - "passo muito tempo também na Suíça". Com a moda da kizomba, é convidado para dar palestras em países como a República Checa ou Itália. Mas a pesar de ganhar com a moda não deixa de fazer críticas: "A kizomba expandiu-se de forma descontrolada e isso deu azo a muita coisa, a muitas disputas. A kizomba é de Angola e ponto final. Os nossos avós dançavam isso. Não há isso noutro país. Velhos de 90 anos a dançar kizomba. Eles não foram aprender agora."
Em Lisboa mora perto do Martim Moniz, símbolo de encontro de culturas, um pouco como aconteceu na Expo. "Cada vez que vou àquela zona sinto muita nostalgia. Fui muito feliz lá. Eu vi a Expo a ser feita. Fui lá uma vez, de botas de borracha, era só lixo, cheirava mal, era só lama por todos os lados. Ia a ouvir a explicação dos sítios onde iríamos atuar com os Olharapos, mas olhava à volta e só via era lama. Mas depois tudo bateu certo. Foram quatro meses. Mas pareceram anos".

A mesma desconfiança inicial sentiu Jin Sun Lee, sul-coreana, hoje com 49 anos e funcionária da secção cultural da embaixada da Coreia do Sul. "Lembro-me de vir aqui montar o pavilhão, era só lixo e pó por todos os lados. A estrada era de terra batida. No dia da inauguração estavam a cortar a fita e ainda havia gente a pregar pregos. Trabalhei como intérprete na construção do pavilhão da Coreia do Sul, depois durante a Expo como uma responsável por relações públicas e pelo protocolo. Depois disso também no desmantelamento. Custou-me muito ver desmontar tudo. Chorei, chorei e chorei", conta ao DN, enquanto faz o percurso de teleférico, no que é hoje o Parque das Nações.
Na altura da Expo"98, Jin Sun Lee estava ao serviço do Kotra (uma espécie de AICEP da Coreia do Sul). Mas em Portugal já se encontrava desde 1992. O país do fado, estilo de música que adora (ver texto na coluna da página 43), sempre foi a sua grande paixão. "Estudei português e formei-me em estudos estrangeiros na Universidade Hankuk de Seul. Em 1992, Portugal estava na presidência do Conselho da União Europeia e precisavam de uma pessoa na embaixada de Portugal em Seul. E eu fui. Depois disso vim para Lisboa. Cheguei a 26 de outubro de 1992. Estava um lindo dia de céu azul. Nunca mais me esqueci".

Os amigos previram que não aguentaria muito tempo aqui, pois era muito esquisita com a comida. Mas o que aconteceu foi o contrário. "Adoro bacalhau com natas, arroz de marisco, porco preto, pastéis de Belém, vocês têm muito bom azeite e muito bom peixe", nota, enquanto toma café numa das muitas esplanadas do Parque das Nações. Está calor e, não muito longe, um daqueles vulcões de água coloridos explode, trazendo à memória os dias em que os visitantes da exposição ali se refrescavam.

"Todos os dias havia festa. Criou-se amizade com as pessoas que trabalhavam aqui e cada vez que aqui venho sinto muita nostalgia. O pavilhão da Coreia do Sul estava virado para a Praça Sony e escutava ou via todos os espetáculos", recorda, no final da atual FIL, apontando para o que, hoje em dia, é um parque de estacionamento. O ecrã gigante da Sony também dali saiu há muito. "Depois do fim da Expo aproveitou-se bem a zona para comércio, empresas, espetáculos. Há de tudo um pouco aqui. A localização à beira rio é ótima. Transformaram isto numa zona nobre de Lisboa. Eu gostava muito de viver aqui", confessa a sul-coreana que já está há mais tempo em Portugal do que na Coreia do Sul.

Casada com um português que foi seu colega na Faculdade de Letras, onde frequentou o curso de Língua e Cultura Portuguesa para Estrangeiros, Jim Sun Lee vive um pouco entre dois mundos. "Aproveito melhor dos dois lados. Todos os dias, na embaixada, trabalho e falo com coreanos. Mas com os portugueses aprendi a não ser tão direta, a contornar os assuntos de forma mais flexível, isso às vezes traz-me mais benefícios. Os portugueses têm muita tolerância, não são tão rígidos e disciplinados como os sul-coreanos. Na Coreia do Sul, onde há muito a dinâmica da concorrência, as coisas são um pouco diferentes. Quando vou lá dizem-me que estou muito ocidentalizada na forma de pensar", sublinha esboçando um sorriso.

A maneira de ser dos portugueses também é, em grande parte, o que prende Marie-line Darcy a Portugal. "Gosto de Lisboa, apesar de tantos turistas, gosto das pessoas, da vida de bairro, toda a gente se conhece. Há uma maneira de viver que é humana, ainda, uma certa proximidade que ainda dá algum alento à vida. Não estou a dizer que é tudo perfeito. Tudo às mil maravilhas. Mas o saber viver português é algo que eu considero muito agradável". Atual correspondente de media franceses como a RFI ou a Radio France, a jornalista francesa chegou a terras lusas no mesmo ano do que Jim Sun Lee, em 1992, seis anos antes da inauguração da Expo"98.

"Estava cá a trabalhar desde 1992, na Rádio Paris-Lisboa. Eu e um colega francês fomos trabalhar para a Expo. Tínhamos um estúdio na parte de trás do pavilhão da França. Ia lá todos os dias. Fazíamos notícias sobre o que acontecia, reportagens e flashes de informação de cinco ou dez minutos. Estive lá sempre. Ficar lá o dia todo era como viver noutra aldeia. Conhecemos muita gente. Podíamos ver coisas, espetáculos, havia sempre concertos, convites, tínhamos muito trabalho mas ao mesmo tempo também nos divertíamos muito. Era muito cansativo, mas muito divertido, muito divertido mesmo", afirma ao DN a jornalista que, 20 anos depois, voltou ali para fazer a cobertura do Festival Eurovisão da Canção no Altice Arena (pavilhão da Utopia à altura da Expo"98).
Marie-line fazia parte dos 6312 jornalistas estrangeiros acreditados na expo'98 (portugueses eram 5204). "A vivência entre os jornalistas era boa. Muitos vinham ter connosco no dia do seu país. Cada dia tinha um tema ou era dedicado a um dos países representados. Havia muito movimento. Andávamos muito, porque o recinto era muito grande. Eu na altura morava em Campo de Ourique e, de transportes públicos, levava quase uma hora a chegar. Neste momento, com a Eurovisão, o metro cheiíssimo, é como um déjà vu do tempo da Expo"98. Deu-me um pouco de nostalgia", admite a jornalista francesa.

A Eurovisão também trouxe a Expo"98 à memória de Katriina Pirnes, mas por causa da longa fila para entrar no Altice Arena em frente à FIL. Era dia de jury show e o seu país, a Finlândia, tinha já passado à final do festival (acabaria em penúltimo, em 25.º, à frente de Portugal). "As filas eram sempre enormes. Havia pessoas que, para passar à frente, arranjavam todo o tipo de explicações, apareciam com atestados médicos". Caminhando pela FIL, a finlandesa de 42 anos procura o sítio exato onde ficava o pavilhão do seu país na Expo"98. "É aqui onde diz pavilhão 3. O pavilhão da Finlândia era o último desta rua que agora está tapada, do lado esquerdo, de quem está virado para o rio Tejo", recorda, de forma detalhada e precisa.

Hoje em dia responsável pela comunicação da embaixada da Finlândia, Katriina lembra que a procura pelo pavilhão do seu país era muito grande - e aumentava nos dias de maior calor. "Nós tínhamos para mostrar lá a tecnologia de navegação no gelo. Havia uma pista de gelo e, metido nesse gelo, estava uma parte de um quebra-gelo. Muita gente ia para lá porque estava muito mais fresquinho lá dentro. As pessoas tinham um simulador para atracar dois barcos num porto finlandês, podiam simular com gelo ou sem gelo".

Na altura, refere, as pessoas faziam muitas perguntas sobre a Finlândia, que só estava há três anos na UE (aderiu em 1995 e Portugal entrara em 1986). "Os portugueses surpreendiam-se pela falta de luz na Escandinávia. Também perguntavam sobre a terra do Pai Natal, sobre a Lapónia. Os finlandeses também só conheciam de Portugal a Madeira e desde então evoluíram muito a sua opinião sobre os portugueses. Hoje em dia penso que os finlandeses conhecem melhor Portugal do que o contrário, pois a Finlândia é, para muitas pessoas, um país distante e destino de Inverno. Mas há quem goste, pessoas que procuram destinos alternativos".

Katriina tomou contacto com a língua portuguesa através do Brasil, onde o pai trabalhara como engenheiro numa mina de cobre de Salvador da Bahia, que usava tecnologia finlandesa. "Íamos de férias a Portugal e eu ia ao Estoril ver F1. Depois desliguei-me um pouco após a morte de Ayrton Sena. Em 1997 estava decidida a vir para Portugal, pois não lhe agradava a insegurança no Brasil, quando ouviu falar na Expo"98. Candidatou-se para o pavilhão da Finlândia e foi aprovada. Chegou em abril de 1998. Teve formação e depois trabalhou como guia durante os quatro meses. Quando a exposição acabou ficou a estudar História na Universidade Lusíada. "Acabei em 2002 e fui procurar emprego. Tive sorte porque a embaixada da Finlândia estava à procura de pessoas. E lá continuou então até aos dias de hoje".

Katriina sente-se portuguesa e finlandesa em partes iguais. 50%-50%. "Aqui não foi difícil sentir-me em casa. As pessoas são muito acolhedoras. Os portugueses são um pouco introvertidos, não se impõem logo. Mas são mais extrovertidos do que os finlandeses. No preferir observar primeiro, intervir depois, mas também numa certa melancolia, acho que são os dois iguais", constata, sentada num café junto à FIL.

Omar Suisse também acha que "os portugueses confiam desconfiando, mas quando confiam são muito abertos, simpáticos e gentis". Caterina Arampatzi explica que o que mais gosta "é a calma e o respeito pelos outros". Omar e Caterina, ele marroquino, ela grega, são amigos de longa data em Portugal e têm muitas coisas em comum. A Expo"98 é apenas uma delas. Ambos com bolsas de estudo foram colegas no curso de português para estrangeiros da Faculdade de Letras de Lisboa. Omar já tinha estado antes na capital portuguesa. "Fui viajar para Espanha e apanhei um comboio para Lisboa, Santa Apolónia, depois fiz um curso de um mês. De manhã estudava em Lisboa, à tarde ia à Costa da Caparica e à noite ao Bairro Alto", conta entre gargalhadas divertidas. Caterina foi primeiro para Génova, em Erasmus, porque queria ser aluna de Antonio Tabucchi, escritor italiano, professor de língua e literatura portuguesa. "Quando cheguei lá ele tinha mudado de faculdade. Mas queria vir para Portugal. Li O Livro do Desassossego de Pessoa. Queria ler em português".

Coincidiram então na Faculdade de Letras e, depois disso, na Expo"98. "Nunca ri tanto na minha vida. Trabalhava das 08.00 da manhã às 02.00 da manhã e estava sempre feliz. Ganhava na altura o equivalente hoje a 800 euros. Era muito dinheiro. Andava de táxi. Convidava todos para almoçar", afirma Omar, que é oriundo da zona de Fez em Marrocos. "Para mim foi um período de grande felicidade, não tínhamos preocupações, era tudo de acesso gratuito, andávamos sempre muito felizes. Lembro-me com alguma graça de as pessoas que iam ao pavilhão grego andarem obcecadas pelos carimbos nos passaportes", diz Caterina, que na Grécia, em Mykonos, trabalhou do turismo e do turismo se fartou.
Quando a Expo"98 terminou, Omar foi representante da HP Marrocos em Portugal, fez um mestrado em Aveiro, passou a dar aulas de árabe na Universidade Nova de Lisboa. Onde ainda está. Caterina trabalhou na comunicação da embaixada da Grécia. Durante alguns anos os seus destinos não se cruzaram. Os amigos que fazem anos com um dia de diferença, ele terá 46 a 1 de agosto, ela terá 49 no dia 2 de agosto, voltaram a encontrar-se em 2010. "Fui a uma entrevista para embaixada do Koweit, lançada provisoriamente no hotel Ritz, quando começo a ver ao longe uma figura que me parecia familiar. Era o Omar. Desde então que assessoramos o embaixador do Koweit em Lisboa", conta a Caterina, enquanto o amigo marroquino constata que "foi tudo muito fluído".

Na opinião de ambos, a Expo"98 ajudou a abrir muitas portas. Mesmo sem Facebook ou outras redes sociais fizeram muitos contactos na altura. "Na praça Sony vi a final do Mundial de 1998, disputada entre França e Brasil, em que o árbitro era marroquino [Said Belqola, que morreu em 2002]", recorda Omar, que confessa ter levado muito tempo a voltar à zona da Expo. "Demorei quase dois anos a conseguir olhar para isto. Até hoje, quando olho para as coisas, não vejo restaurantes mas sim pavilhões. Estou aqui, não vejo o Vasco da Gama, mas imagino sim a bilheteira. Não venho muito para esta zona, custa-me, palavra de honra que me custa. A última vez que vim aqui a um evento foi em 2005, acho, é preciso muito para vir aqui. Olhe, como esta entrevista por exemplo", garante entre risos.

"A Expo"98 foi uma passagem para uma era moderna. O Portugal moderno mudou a partir de 1998", constata Caterina, menos resistente à mudança, embora também com alguma nostalgia. Enquanto Omar admite voltar a Marrocos, porque, refere, para ele "Portugal é uma continuação de Marrocos", Caterina descarta regressar à Grécia. "Fui a única grega que ficou cá. Criei as minhas raízes em Portugal. A minha família está lá, cá a família são os amigos". 20 anos passados sobre a Expo"98, a Grécia vai no terceiro resgate financeiro da troika, Portugal ficou-se por apenas um. "Não é só por causa da crise que não voltaria. Sou mais calma e organizada. Mas não sou nem 100% grega nem 100% portuguesa. Vivo num limbo geográfico", admite, de forma divertida, enquanto aproveita o dia de calor para saborear um gelado numa esplanada do Parque das Nações.

Levar uma vida serena e ao mesmo tempo interessante é um dos motivos pelos quais Ramont Font, ex-jornalista e ex-funcionário público catalão, adora Portugal e os portugueses. "Gosto sobretudo das pessoas. A paisagem é engraçada, sim, mas paisagens engraçadas há em muitos lugares. O que gosto muito é a forma como as pessoas me têm tratado ao longo destes anos todos", declara ao DN Ramon Font, que passou em Portugal 25 dos seus 66 anos. "Estou bem em Portugal desde o primeiro dia que cá cheguei, como consequência do 25 de abril de 1974. Não vim como jornalista fazer a cobertura, porque na altura não dava para isso em Espanha [ainda não morrera Franco]. Vim de férias com amigos de Barcelona. Viemos passar uma semana para ver como era a liberdade... e era bonita".

Correspondente desde os anos 1980, em 1994 trabalhou na Lisboa Capital Europeia da Cultura e, em 1998, foi convidado para responsável da comunicação da Expo"98 para Espanha. "Fui trabalhar com o João Paulo Velez, também com António Mega Ferreira, que foi o ideólogo do projeto e de toda a operação e que considero um génio. Isto porque a Expo"98 não foi uma exposição efémera, que, no dia seguinte a acabar, deixava um rasto de melancolia. Percebi que o projeto constituía uma revolução urbanística e alertava também para uma questão que é hoje muito importante, que é o futuro dos Oceanos. A grande preocupação era que aquilo tivesse vida e , imediatamente a seguir, começou a haver vida ali. Com muitos equipamentos de que precisava Lisboa, como a estação de comboios do Calatrava, o Oceanário, a FIL, o Pavilhão Atlântico [atualmente Altice Arena]. Manuel Salgado, o arquiteto, tinha a preocupação de resgatar o espaço público para as pessoas e acho que isso começou na Expo"98. Tive orgulho em estar num projeto que viria a fazer história".

Entre os episódios que recorda, Ramon Font conta o dia em que, "numa promoção da Expo"98 em Barcelona, o então presidente Jorge Sampaio conseguiu reunir todos os jogadores portugueses na liga espanhola, como Figo, Pauleta, Paulo Bento, etc... Eram aí uns 20 e foram todos a Barcelona receber creden- ciais simbólicas para serem embaixadores da Expo"98". Naquele dia, diz, "senti que os portugueses, quando são mobilizados para missões de Estado, não pensam duas vezes". Depois da expo'98 Font trabalhou na Porto 2001, foi correspondente da TVE, trabalhou para a ERC da Catalunha e em seguida para o governo catalão, tornando-se seu representante em Portugal. Durante a Expo"98 o seu trabalho era acompanhar jornalistas e figuras espanholas. "Não ia a tantas festas como gostaria, mas claro que todos os dias havia um grande espetáculo e a programação cultural da expo'98 era qualquer coisa de espetacular". E, após alguns minutos de silêncio, buscando no baú da memória, Ramont lembra-se de algo que afinal foi especial: "Achava muito engraçado aquela coisa ao final do dia que era os Olharapos". As criaturas meio-humanas meio-animais, que deambulavam pelo recinto da Expo"98 e a quem Mestre Capitão, o percussionista angolano do início da reportagem, ajudou a dar vida.

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