Turismo aumenta número de espectadores nas touradas

Assistência subiu em 2017, segundo relatório da IGAC e da Protoiro. Albufeira foi a praça com mais espetáculos. Plataforma antitourada contesta dados e lembra maus-tratos
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Após oito anos em que a descida de espectadores era dada como certa nas touradas, em 2017 há inversão da tendência. O relatório da Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAC) apresenta uma subida de 4,3%, para um total de 377 952 espectadores, em que não inclui os Açores, e a Protoiro divulga números ainda maiores: 435 660. Segundo esta Federação Portuguesa de Tauromaquia, a recuperação de poder de compra pelos portugueses e o turismo explicam o aumento. A Basta, uma plataforma antitouradas, contesta estes valores, que diz serem obtidos por estimativa, e frisa que "não representam a realidade de contínua descida de pessoas" nas praças de touros.

A IGAC é a entidade do Ministério da Cultura que regula e fiscaliza as atividades tauromáquicas em Portugal continental. Os Açores, onde há forte tradição taurina e muitos espetáculos, estão fora desta contabilidade que indica uma subida de 15 895 espectadores de 2016 para 2017, com o número de espetáculos a diminuir de 191 para 181. "É absolutamente normal esta subida. A média de espectadores está agora ao nível pré-troika. Com a recuperação económica há mais consumo. É o regresso dos portugueses aos toiros", considera Hélder Milheiro, dirigente da Protoiro, que acrescenta o fenómeno turístico como fator de crescimento.

"O efeito turístico é, sem dúvida, importante. Temos uma série de praças mais vocacionadas para o turismo, ao longo do litoral. Casos de Lisboa, com o Campo Pequeno, a Póvoa de Varzim, Figueira da Foz e o Algarve, em que Albufeira registou um crescimento exponencial. Significa que a tourada é uma especialidade da cultura portuguesa, da sua identidade", disse ao DN o aficionado dos toiros.

Além dos números no terreno, Hélder Milheiro realça que as quatro corridas transmitidas no ano passado nas televisões, três na RTP e uma na TVI, tiveram "audiências brutais", cerca de 1,8 milhões de telespectadores. "Poucos espetáculos culturais têm estas audiências. E recebemos muitos pedidos da diáspora portuguesa para haver mais corridas nas televisões."

Este responsável aponta ainda que há muita juventude, como praticantes e entre o público. "Há um público muito jovem e isso surpreende os estrangeiros. Há uma renovação contínua, com uma diversidade muito grande. Os dois rankings de jovens são liderados por mulheres. Temos um grande número de mulheres jovens", assegura.

O valor económico da tourada em Portugal é algo que está ainda por esclarecer. "Não queremos inventar números. Por isso, não avançamos com nenhum dado e esperamos um estudo de impacto económico que está a ser feito."

Falhas na fiscalização?

Do lado dos que são antitouradas, a leitura da realidade é diferente. A plataforma Basta contesta o relatório da IGAC, por ser feita "com base em estimativas de espectadores e não em número de bilhetes vendidos". Por isso, põe "em causa a credibilidade e o rigor". Sérgio Caetano, da Basta, disse ao DN que os delegados da IGAC "são pessoas ligadas ao meio, como antigos forcados". Diz não perceber como é que o número de espectadores sobe quando houve menos touradas. Mas o foco é nos maus-tratos. "Continuam as violações gravíssimas aos regulamentos, como animais feridos a não serem retirados. Falta fiscalização a sério."

Hélder Milheiro reage. "Quando os números não agradam, surgem os factos alternativos, a pós-verdade. A verdade é que os portugueses gostam de touradas."

Os números do relatório de 2017

Espectadores: O aumento do número de espectadores entre 2016 e 2017 foi de 15 895, segundo a Inspeção-Geral das Atividades Culturais, o que representa um acréscimo de 4,39%. O total, segundo a Protoiro (que contabiliza, além dos números da IGAC, os Açores) chega aos para 435 660. Desde 2010 que não havia uma subida de espectadores.

Praças: Os espetáculos realizados em praças fixas foram 154, em que estiveram 350 841 espectadores. Houve 27 espetáculos em praças ambulantes, com 27 111 espectadores. O total foi de 377 952 espetadores, segundo o relatório da IGAC.

Público: A praça de toiros do Campo Pequeno foi a que registou maior número de espectadores, com 61 580, o que significa descida de 2,71% relativamente ao ano anterior. Quatro corridas de toiros foram transmitidas por TV, três na RTP e uma na TVI, e obtiveram um acumulado médio de 1,8 milhões, diz a Protoiro.

Inspeções: No licenciamento das praças de toiros pela IGAC, realizaram-se 53 inspeções, 35 das quais conseguiram parecer favorável, sem condicionantes, e 17 tiveram com parecer favorável, com condicionantes.

Tendência: Em 2008, o número de espectadores contabilizados pela IGAC foi de 698 142. Até 2017, com exceção de 2009, desceu sempre para os 377 952 atuais.

Algarve: Albufeira recebeu 26 corridas, o maior número do país, com 25 199 espectadores.

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