Tua: Cristas e Portas terão sido essenciais para a obra da Mota-Engil
Pouco depois do ex-vice-primeiro-ministro Paulo Portas ser contratado pela empresa que lidera o consórcio de construção da obra, o programa "Sexta às 9", da RTP, recorda o seu envolvimento no processo
Desde que foi lançada a primeira pedra, em 2011, ano em que o Governo de José Sócrates assinou o contrato de concessão da água do Tua com a EDP, que a construção da barragem de Foz Tua está envolta em polémica.
O programa Sexta às 9, da RTP, recuperou nesta sexta-feira os factos que envolvem a obra de mais de 300 milhões de euros cujo consórcio de construção é dirigido pela Mota-Engil, empresa de que o ex-vice-primeiro-ministro Paulo Portas é agora consultor.
Paulo Portas era ministro dos Negócios Estrangeiros e Assunção Cristas, atual líder do CDS, assumia a pasta da Agricultura, do Mar, do Ambiente, e do Ordenamento do Território no primeiro governo de Passos Coelho.
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Pouco depois de tomar posse, em junho 2011, o Governo recebe o relatório da UNESCO que pedia a "interrupção imediata" da construção da barragem evocando um "impacto irreversível" no Alto Douro Vinhateiro, área incluída desde 2001 na Lista do Património Mundial da UNESCO.
Em fevereiro de 2012, Paulo Portas nomeou Francisco Seixas da Costa embaixador junto da UNESCO. Em resposta ao programa Sexta às 9, Seixas da Costa afirma que Assunção Cristas lhe havia dito que parar as obras "teria um custo de dezenas de milhões de euros" para os portugueses.
No final de julho, a situação era revertida, a UNESCO vinha a Portugal numa nova missão e acabaria por voltar atrás na sua decisão em relação à obra, apresentando apenas condições para a construção da barragem.
Em março de 2013, Seixas da Costa era contratado pela Mota-Engil como consultor da construtora para África. Em abril de 2016, o ex-embaixador integra o conselho de administração da EDP Renováveis, concessionária da barragem.
Em relação à sua possível influência no processo de construção da barragem Foz Tua, Portas afirmou ao Sexta às 9 que está em causa uma "teoria conspirativa" e que "o Governo lidou sempre com a EDP e não com as construtoras subcontratadas".
Questionada pela sua influência no processo de continuar a construção do empreendimento hidroelétrico que, desde que o projeto foi anunciado, viu a sua necessidade e viabilidade postas em causa, e ao qual tem sido sistematicamente apontado o impacto ambiental na região, a atual líder do CDS respondeu em comunicado. Cristas lembrou a crise que o país atravessava e a indemnização de centenas de milhões de euros que o Estado teria de pagar à EDP se voltasse atrás e cancelasse a construção da barragem.
João Joanaz de Melo, da Plataforma Salvar o Tua, que tem lutado desde 2013 contra a construção da barragem, rebate a resposta da ex-ministra afirmando que o cancelamento da barragem do Alvito e de Girabolhos provam justamente o contrário.
A barragem já registou um primeiro enchimento da albufeira, embora o tenha feito sem autorização da Agência Portuguesa do Ambiente, que afirmou na quarta-feira já ter notificado a EDP para que tomasse as diligências necessárias.