Pedrógão: aldeias deviam ter sido evacuadas até às 16.00

Comando inicial falhou ao não dar instruções às populações sobre o que fazer no incêndio de Pedrógão Grande, concluiu Comissão Técnica Independente.

A Comissão Técnica Independente concluiu que o incêndio de Pedrógão Grande foi impossível de controlar a partir de certa altura, cerca das 17.00, notando que pelas 15.00/16.00, daquele dia 17 de junho, deviam ter sido dadas instruções pelo comando local no terreno de "retirada das pessoas das aldeias" ou que as pessoas ficassem nas suas casas, como explicou o seu presidente, João Guerreiro aos jornalistas. O comando em causa na altura era dirigido por Mário Cerol, segundo comandante no Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Leiria.

Esta Comissão, presidida pelo antigo reitor da Universidade do Algarve, entregou hoje um documento de quase 300 páginas ao presidente da Assembleia da República e a representantes de todos os grupos parlamentares. O relatório já está disponível no site da Assembleia da República.

Para os peritos, o comando inicial devia ter antecipado medidas que "poderiam ter moderado" as consequências do incêndio, sublinhou aos jornalistas João Guerreiro. "Se houvesse um sistema de informação e sensibilização do comando, na altura apropriada, no sentido de sensibilizar a população, no sentido de que fosse retirada, ou dando indicações para se meterem nas casas e não saírem das casas, provavelmente o drama não teria acontecido", esclareceu o presidente da comissão.

O professor universitário deixou outra certeza: a GNR não conduziu ninguém para a estrada nacional 236-1, onde morreram 47 das 64 vítimas do incêndio. "As necessárias medidas de proteção civil (disposições relativas à circulação na rede viária, acompanhamento da população rural, preparação de evacuações) deveriam ter sido equacionadas logo às 16.00-17.00 e cumpridas a partir das 18.00", aponta um documento de síntese do relatório entregue aos jornalistas.

Nesse texto, a comissão escreve que "o incêndio de Pedrógão Grande foi causado por descargas a partir da rede de distribuição de energia, provavelmente por ação de um raio". Os especialistas apontam outro dado impressionante: o incêndio "queimou 28 914 hectares sendo o segundo maior de sempre em Portugal desde que há registos, e muito provavelmente aquele que libertou mais energia e o fez mais rapidamente (com uma estimativa máxima de 4459 hectares ardidos numa só hora)".

O que falhou?

Os peritos apontam várias falhas que permitiram a tragédia de Pedrógão Grande: faltou limpeza junto de casas e edifícios e das estradas. "O cumprimento anual das ações de gestão do combustível previstas nos planos municipais de Defesa da Floresta contra Incêndios incidiu em apenas 1,4% do território florestal (0,6% em Pedrógão Grande). A pouca expressão e grande dispersão destas intervenções implica que o efeito na expansão de um incêndio seja nulo."

Mais: as previsões da meteorologia para esse dia, com a "possível ocorrência de fogos causados direta ou indiretamente por trovoada 'seca'", entre outros fatores, justificavam "plenamente um nível elevado de prontidão de resposta".

Os postos de vigia não estavam ativos e a vigilância móvel estava limitada aos sapadores florestais. "O ataque inicial fez-se de acordo com as regras de despacho estabelecidas, mas o tempo de resposta e os meios disponíveis foram insuficientes para as condições do dia."

A partir de certa altura, independentemente dos meios usados, confirmam os peritos, "após as 16.00, e especialmente após as 17.00, a probabilidade de contenção do incêndio seria sempre reduzida, mesmo na presença de ataque ampliado e bem organizado".

Os especialistas acabam por minimizar a resposta dos sistemas de comunicações. "A características do incêndio, as condições em que evoluía e as previsões meteorológicas existentes não anteviam o seu domínio rápido.

Para o futuro, a comissão apontou a necessidade de estar previsto um "acompanhamento real das condições meteorológicas e dos incêndios ativos", incluindo "operacionais especializados em meteorologia aplicada a incêndios" ou a "análise de incêndios no apoio à decisão".

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