PS reforça frente de combate político e foca-se no défice

João Galamba, Porfírio Silva, João Tiago Silveira, Manuel Pizarro são alguns dos 10 noves que integram a nova Comissão Permanente, os "generais" da estratégia das batalhas políticas do PS
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Tabuleiro na mão, com um sumo de laranja natural e um pãozinho de sementes com fiambre, António Costa passava bem por um cidadão comum a preparar-se para lanchar n"A Padaria Portuguesa. Foi onde o DN o encontrou, minutos depois de ter terminado a reunião da Comissão Nacional, no hotel Altis, na rua de cima, que elegeu Ana Catarina Mendes como secretária-geral adjunta do partido.

"Então agora com uma mulher a tratar do partido vai tudo ficar em ordem?", perguntámos. "Já era assim!", respondeu, sorridente, com Pedro Nuno Santos, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, ao lado, igualmente de tabuleiro na mão. Seguiram os dois para uma mesa na esplanada, com o carro e os seguranças estacionados em frente à porta.

Apesar de aparentemente descontraído e do apoio, praticamente unânime, da máquina partidária às suas propostas para os órgãos de comando, António Costa tem sobre si a questão do défice e de saber se consegue ou não cumpri-lo. Na sexta-feira, o ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho tinha afirmado que era "possível" alcançar a meta acordada de 3%, bastando, para atingir esse objetivo, "manter o nível de esforço de despesa e ter o mesmo padrão de receita que até outubro foi observado".

Recorde-se que a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) estimou na quinta-feira que o défice das administrações públicas, em contas nacionais, tenha ficado nos 3,7% entre janeiro e setembro deste ano, um valor acima da meta do anterior governo para a totalidade do ano.

Apesar de o assunto não ter sido matéria de discussão na Comissão Nacional, segundo Ana Catarina Mendes (ver entrevista ao lado), à entrada da reunião, o presidente do PS e líder da bancada parlamentar não deixou de clarificar a posição dos socialistas, começando por sublinhar desconfiança do anterior chefe de governo.

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"As palavras de Pedro Passos Coelho não são um fator de grande segurança, porque, como se sabe, o ex-primeiro-ministro prometeu e comprometeu-se com inúmeras metas e raramente as cumpriu. O que agora releva é que o governo que entrou em funções fará tudo o que for possível para que nos vinte e poucos dias que restam [até ao fim do ano] não sejam comprometidos os objetivos de saída de Portugal do procedimento por défice excessivo [instaurado pela União Europeia]", afirmou.

César repetia a ideia que, horas antes, na convenção regional da FAUL - Federação da Área Urbana de Lisboa do Partido Socialista, tinha sido defendida pelo ministro das Finanças, Mário Centeno. Que o governo vai "fazer todo o possível, dentro daquilo que é a execução orçamental, para que o país saia do procedimento de défice excessivo", lembrando que esse objetivo "foi sempre aquilo que o PS sempre prometeu na campanha eleitoral".

Segundo disse ao DN Ana Catarina Mendes, a nova secretária-geral adjunta, "o partido está empenhado no sucesso do governo para ganhar esta etapa", o que mostra a sintonia de socialistas nesta batalha que tem como consequência uma maior autonomia do governo nas decisões orçamentais, deixando de ter o controlo prévio da União Europeia.

Costa entregou a Ana Catarina Mendes, a primeira vice-presidente da bancada parlamentar do PS, a organização e mobilização do aparelho partidário, deixando-o livre para a ação de governo. Com 97% de votos favoráveis (três abstenções e dois votos contra), Ana Catarina é assim o novo rosto do combate político do PS, assumindo um cargo que tinha sido criado ainda no tempo de António José Seguro mas nunca tinha sido ocupado.

Na intervenção que fez, Costa salientou a necessária separação de águas entre a atividade do seu governo e a do partido. "Ao governo cabe governar, ao PS cabe o combate político", citou uma fonte socialista à agência Lusa. De resto, foi essa a justificação para criar o secretário-geral adjunto e a nova comissão permanente. Para esta foram designadas dez figuras fortes do aparelho, entre as quais João Galamba, Porfírio Silva, João Tiago Silveira, Carlos César, João Torres (JS), Maria da Luz Rosinha e Manuel Pizarro. O secretariado nacional, com 15 elementos, substituiu Sérgio Sousa Pinto (que se demitiu em protesto contra o acordo à esquerda), Bacelar Vasconcelos (preside à 1.ª comissão parlamentar) e Jorge Gomes (governo), por João Tiago Silveira, Maria Antónia Almeida Santos e Hugo Pires.

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