Portugal usa munições todas na ONU a favor de Guterres
A abertura oficial da 71ª sessão da Assembleia Geral da ONU decorre hoje em Nova Iorque mas a semana mais importante da diplomacia portuguesa em 2016, para eleger António Guterres como líder da ONU, começou ontem e liderada pelo Chefe do Estado.
Marcelo Rebelo de Sousa, acompanhado pelo ex-Presidente Jorge Sampaio, deixou-o claro ao enfatizar que, até quinta-feira, serão feitos "muitos contactos bilaterais que, em parte, têm a ver com o objetivo da candidatura" de Guterres.
"[Estou em Nova Iorque] combinado com o primeiro-ministro e com o ministro dos Negócios Estrangeiros, para revelar a unidade da política externa portuguesa" e falar - a meio desta tarde, noite em Lisboa - de "grandes temáticas" como as alterações climáticas, os oceanos, a integração europeia e os refugiados, explicou Marcelo.
O dia de ontem do Chefe do Estado e de Jorge Sampaio - Alto Representante para a Aliança das Civilizações (2007/2013) e atual presidente da Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes da Síria, que a Rússia apoia - nas Nações Unidas começou com uma intervenção na cimeira de alto nível dedicada aos refugiados e migrantes, precisamente a área de intervenção da ONU liderada durante a última década (2005/2015) por Guterres.
Tenha ou não significado essa coincidência, certo é que continua a falar-se numa candidatura de última hora para a sucessão do sul-coreano Ban Ki-moon e Moscovo - cujo presidente, Vladimir Putin, se fez substituir pelo ministro Sergey Lavrov - é apontada, na imprensa internacional, como uma das capitais com reservas a Guterres.
Curiosamente, ontem surgiu na rede social Twitter uma mensagem atribuída a Guterres em que este dizia ter falado ao telefone com o embaixador russo junto da ONU e recebido o apoio daquele membro permanente do Conselho de Segurança (CS) - o que várias fontes portuguesas asseguraram ao DN "[ser] falsa".
Recorde-se que Guterres venceu as quatro votações informais e secretas do CS para aquele cargo, tendo o ministro eslovaco Miroslav Rajkac - que também terá em Nova Iorque o seu Presidente, Andrej Kiska - ficado em segundo lugar nas duas últimas votações.
Com os presidentes Barack Obama (EUA) e François Hollande (França) a intervirem hoje perante uma Assembleia Geral da ONU a quem cabe indicar formalmente o nome proposto pelo CS para secretário-geral, Marcelo Rebelo de Sousa iniciou ontem uma série de encontros bilaterais em que o tema "eleger Guterres" estava no topo da agenda - desde o Rei de Espanha ao presidente do Brasil e ao secretário-geral cessante da ONU.
Confirmados estão também encontros com os presidentes de Moçambique, Filipe Nyusi, do Chile, Michelle Bachelet, da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, do Senegal, Macky Sall, da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, e do Gana, John Dramani Mahama.
África "é provavelmente o grupo regional onde encontraremos um apoio mais homogéneo" a António Guterres, disse ontem ao DN a especialista em Nações Unidas Mónica Ferro. Acresce, adiantou a académica, que entre "os [nove] candidatos não há nenhum com uma ligação tão forte" àquele continente como o português, tanto pela ação como primeiro-ministro português como depois pelo papel que teve como Alto Representante da ONU.
Registe-se ainda que em Nova Iorque, onde Portugal tem uma representação permanente junto da ONU com dezena e meia de elementos liderados pelo embaixador Álvaro Mendonça e Moura, também está o Presidente búlgaro, Rosen Plevneliev, que apoia a candidata feminina mais bem posicionada para chegar ao topo das Nações Unidas, Irina Bukova. Com Lusa