Para Marcelo, o ano de 2017 teve um saldo negativo
O Presidente da República entende que "a confiança dos portugueses na sua segurança" foi abalada e lembra que essa confiança "é mais do que a estabilidade governativa, finanças sãs, crescente emprego, rendimentos". Para 2018, Marcelo Rebelo de Sousa quer ter a certeza "de que, nos momentos críticos, as missões clássicas do Estado não falham nem se isentam de responsabilidades". Na mensagem de Ano Novo, o Presidente elogiou as conquistas do governo em matéria económico-financeira, mas aproveitou para dividir o ano num antes e num depois de 16 de junho e que fica marcado, "sobretudo, pelas tragédias dos incêndios" que "acabariam por largamente pesar no balanço de 2017".
"Ano estranho e contraditório", "vivendo, como se de um sonho impossível se tratasse, finanças públicas a estabilizar, banca a consolidar, economia e emprego a crescer, juros e depois dívida pública a reduzir". E tudo o mais que veio com o fim do Procedimento por Défice Excessivo e o papel de relevo que Portugal assume no euro. Um caminho de sucesso que o Presidente fez questão de salientar foi "sem dúvida iniciado no ciclo político anterior, mas confirmado e acentuado neste, que tão grandes apreensões e desconfianças havia suscitado, cá dentro e lá fora".
Só que a olhar para o que deve ser 2018, fazendo uma retrospetiva do que foi 2017, Marcelo Rebelo de Sousa fez questão de salientar que o ano se dividiu em dois. "Se o ano tivesse terminado a 16 de junho, ou tivesse sido por mais seis meses exatamente como então, poderíamos falar de uma experiência singular, constituída apenas por vitórias." Marcelo pôs o dedo na ferida, de 2017, a memória guardará acontecimentos que o país dispensava. As tragédias dos incêndios de 17 de junho e de 15 de outubro, "tão brutalmente inesperadas e tão devastadoras em perdas humanas e comunitárias", mas também a "perplexidade em Tancos, o pesar no Funchal e o espectro da seca".
Se António Costa tinha começado a sua mensagem de Natal com uma espécie de penitência pelas mortes nos incêndios, dando o exemplo do sucesso económico como prova de confiança de que a tragédia não voltará a acontecer, Marcelo fez o caminho inverso, pedindo "o mesmo empenho" e "exigindo a coragem de reinventarmos o futuro". Para o Presidente da República, "o ano que ora começa tem de ser o ano dessa reinvenção", com um destaque particular para a "reinvenção da confiança dos portugueses na sua segurança".
Para uma "reinvenção que é mais do que mera reconstrução", feita "com verdade, humildade, imaginação e consistência", Marcelo lembra a mensagem que ouviu por todo o país: "Temos de converter as tragédias que vivemos em razão mobilizadora de mudança, para que não subsistam como recordação de irrecuperável fracasso."
No balanço de 2017, o Chefe do Estado lembrou também a morte de Mário Soares, a vinda do Papa Francisco a Fátima, a vitória na Eurovisão, os sucessivos galardões no turismo e os sucessos no digital, nas artes, na ciência ou no desporto. E, no que temos de fazer em 2018, Marcelo Rebelo de Sousa considera que, nesta "exigente frente de luta coletiva", "temos de superar o que de menor nos divide para afirmar o que de maior nos une". Para o Presidente "esta é a palavra de ordem que vem do povo, deste povo, do mais sofrido, do mais sacrificado, do mais abnegado. Vem do que ele pensa, do que ele sente, do que ele faz". E porque o Presidente acredita nos portugueses, terminou a mensagem com otimismo: "Acredito em Portugal."