Finanças garantem que não há processo a aguardar autorização para obras urgentes na Ponte 25 de Abril
Ministério das Finanças reage, pela primeira vez, ao relatório do LNEC, hoje conhecido, que aponta graves riscos na Ponte 25 de Abril
O Ministério das Finanças já reagiu à revelação do artigo do LNEC que aponta para graves riscos na Ponte 25 de Abril.
"O Ministério esclarece que todos os pedidos de intervenção na Ponte 25 de Abril, nomeadamente os projetos de portarias de extensão de encargos, foram atempadamente aprovados pelos ministérios competentes. Os processos referiam-se a intervenções regulares e programadas no âmbito de um calendário de manutenção plurianual da referida infraestrutura", lê-se no comunicado.
"Não existe, assim, qualquer processo a aguardar autorização do Ministério das Finanças relativo a intervenções de cariz urgente na Ponte 25 de Abril", garantem as Finanças. Uma posição que vai contra o que foi divulgado no artigo publicado pela revista Visão.
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De acordo com a revista, o secretário de Estado das Infraestruturas, Guilherme W. d' Oliveira Martins, aguarda há seis meses pela resposta do ministro das Finanças, Mário Centeno, ao seu pedido de libertação de verbas para as obras, ou seja, 20 milhões de euros.
Fissuras e parafusos soltos na Ponte 25 de Abril
Foram encontradas fissuras numa zona estrutural da Ponte 25 de Abril, que podem afetar a segurança. Esta foi uma das conclusões do relatório que o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) entregou ao Governo em fevereiro, divulgado esta quinta-feira pela revista Visão. O documento diz que, sem medidas urgentes, poderá ser necessário restringir o tráfego de pesados e de comboios de mercadorias.
O documento agora publicado deixa um sério aviso ao Executivo de António Costa sobre o estado da estrutura que liga as duas margens do rio Tejo. Diz que, se não forem tomadas medidas urgentes, poderá ser necessário restringir o tráfego de pesados e de comboios de mercadorias.
A publicação conta ainda que, com base num modelo matemático "extremamente complexo", o LNEC refere em relatório o que pode acontecer caso não se faça uma intervenção e as fissuras nas estruturas continuem a aumentar. Os técnicos não afastam a possibilidade de um dia haver mesmo o risco de "colapso". Mas para já, a ponte é segura, referem os peritos.
Além do que diz o LNEC, a Visão teve acesso a outros documentos, nomeadamente do Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ), que nos últimos relatórios mensais deixa avisos ao Governo sobre a degradação da estrutura, por onde passam todos os os dias uma média de 160 mil automóveis. "As fissuras das treliças transversais aumentam em número e em comprimento", refere o documento.
CDS quer ouvir ministro das Infraestruturas e o LNEC no Parlamento
O ISQ admite até parafusos soltos, nomeadamente no sistema de fixação das travessas dos caminhos-de-ferro. A Visão relata um caso insólito e grave relacionado com esta anomalia na ponte. Um parafuso em aço com cerca de 60 centímetros e três quilos quase ia caindo em cima de um casal de turistas e de um português que passeavam numa zona mesmo por baixo da ponte.
As reações a este relatório até agora desconhecido não se fizeram esperar, com os partidos a exigirem respostas do Governo.
Assunção Cristas, do CDS, já fez saber em declarações à Visão que vai chamar "com carácter de urgência" à Assembleia da República o ministro do Planeamento, Pedro Marques, e o LNEC. Hélder Amaral, deputado do CDS, espera ver o relatório do LNEC, uma vez que considera que "o Parlamento tem de saber" o que está a acontecer na Ponte 25 de Abril, sobretudo quando estão em risco a vida de pessoas e bens.
Em declarações aos jornalistas, na Assembleia da República, o deputado disse que é necessário esclarecer, da parte do Governo, se este é o único relatório que existe e que tipo de obras são necessárias.
É preciso esclarecer tudo até para que "não exista qualquer tipo de alarme" entre a população, justificou.
O relatório que alerta para fissuras na estrutura foi enviado há cerca de um mês para o Ministério das Finanças, de acordo com a Visão.
O gabinete do ministro do Planeamento e das Infraestruturas disse à Lusa que Pedro Marques ainda aguarda conhecimento oficial do pedido, mas "está sempre disponível" para esclarecer os deputados.
BE pede esclarecimentos ao Governo
O BE pediu hoje a presença no parlamento do ministro do Planeamento para explicar as "notícias preocupantes" quanto à situação da ponte 25 de Abril e criticou que seja o Estado a pagar obras urgentes necessárias.
"É surpreendente, sabendo que existe uma Parceria Público-Privada, com a Lusoponte para a gestão das pontes Vasco da Gama e 25 de abril, é motivo de grande perplexidade que seja o Estado a pagar 20 milhões de euros", disse aos jornalistas o deputado do Bloco de Esquerda Heitor Sousa.
Essas obras, acrescentou, "deveriam estar integradas nesse contrato".
Para o deputado bloquista, é "surpreendente que a notícia de uma intervenção urgente surja agora, sabendo-se que existe uma monitorização e fiscalização permanente da parte das entidades, nomeadamente do LNEC".
O Bloco enviou duas perguntas, ao Ministério do Planeamento e Infraestruturas e das Finanças, quer conhecer o relatório do LNEC e ouvir as explicações do ministro Pedro Marques.
O deputado Heitor Sousa receia os efeitos de obras prolongadas e estranha um eventual atraso na resposta do Governo à necessidade de obras urgentes, dado que o alerta do LNEC aconteceu há seis meses e o concurso público necessita de seis meses.
PS repudia "alarme social"
PS afirmou hoje que os ministros das Infraestruturas e das Finanças estarão em breve no parlamento para esclarecer o estado da ponte 25 de Abril e insurgiu-se contra "o alarme social", recusando qualquer "risco iminente".
"Os utentes da ponte 25 de Abril, sobretudo aqueles que diariamente recorrem a esta infraestrutura, podem estar tranquilos. Este não é o momento de alimentar demagogias estéreis ou alarme social, entrando-se em ligeirezas políticas", declarou o deputado do PS eleito pelo círculo de Setúbal.
André Pinotes Batista afirmou depois que "o Governo tem vindo a fazer a sua parte" e "30 dias depois de ter recebido o relatório do LNEC há uma solução formalizada".
"Os ministros das Finanças, Mário Centeno, e do Planeamento e Infraestruturas, Pedro Marques, estarão no parlamento para prestar todos os esclarecimentos", adiantou o mesmo deputado socialista do Barreiro.
Parece que só quando a Visão disse que ia revelar os relatórios é que apareceu a verba para as obras
A editora executiva da Visão, Catarina Guerreiro, autora do artigo que revela os pormenores do relatório do LNEC, conta que não obtiveram resposta do Governo após as tentativas da revista de esclarecimento junto ao Ministério das Finanças. "Parece que só quando a Visão disse que ia revelar os relatórios é que apareceu a verba para as obras" na Ponte 25 de Abril, referiu a jornalista à SIC Notícias.
Trabalhos na ponte vão demorar dois anos
A Ponte 25 de abril vai ser alvo durante dois anos de trabalhos manutenção, orçados em 18 milhões de euros, conforme anunciou a Infraestruturas de Portugal (IP), que lança ainda este mês o concurso público internacional para adjudicação da obra.
Em comunicado, a empresa refere que "vai lançar, no decorrer deste mês, uma empreitada de trabalhos de reparação e conservação da Ponte 25 de Abril", que liga as duas margens do Rio Tejo (Almada e Lisboa), "com um preço base de 18 milhões de euros e prazo de execução de dois anos".
Questionada pela Lusa, fonte da empresa explicou que o prazo de dois anos para a realização das obras só se inicia após a adjudicação da empreitada, na sequência do concurso que será lançado no decorrer deste mês.
"Esta empreitada tem por objetivo a realização de um conjunto de trabalhos identificados no âmbito das atividades de inspeção e de monitorização do comportamento estrutural da Ponte 25 de Abril, promovidas em contínuo pela IP, e executadas pelo ISQ -- Instituto de Soldadura e Qualidade e Laboratório Nacional de Engenharia Civil, respetivamente", explica a nota.
Os trabalhos de manutenção à noite e aos fins de semana.
"À semelhança das intervenções de manutenção anteriores realizadas na Ponte 25 de Abril, e de modo a minimizar eventuais impactos na normal circulação rodoviária e ferroviária, os trabalhos serão executados em períodos de menor fluxo de tráfego, nomeadamente em período noturno e em dias não úteis", indica a Infraestruturas de Portugal.
As intervenções previstas, segundo a IP, incidem sobre elementos metálicos da ponte suspensa e em elementos de betão armado pré-esforçado do viaduto de acesso norte.
Genericamente, trata-se da execução de trabalhos de construção metálica, soldadura, reposição localizada da proteção anticorrosiva, substituição de elementos não estruturais, limpeza, tratamento e pintura pontual de superfícies de betão
O projeto de execução de suporte a esta empreitada contempla as soluções técnicas de reparação definidas pela empresa projetista americana Parsons e pela empresa projetista portuguesa TalProjecto, cujo desenvolvimento foi acompanhado e validado ao longo das suas diversas fases pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
"De referir que a Parsons é a empresa projetista que detém os direitos de autor do projeto de construção da Ponte que data da década de 60, e que é simultaneamente a autora do projeto de instalação do caminho-de-ferro, alargamento do tabuleiro rodoviário e de beneficiação geral da Ponte 25 de Abril, concretizada na década de 90", refere a Infraestruturas de Portugal.
A Talprojecto é uma empresa projetista portuguesa na área das estruturas metálicas.