Mais de 27 mil pessoas receberam tratamento por toxicodependência
No âmbito do tratamento da toxicodependência, em 2014, no ambulatório da rede pública estiveram em tratamento 27 689 utentes, inscritos como utentes com problemas relacionados com o uso de drogas. Dos que iniciaram tratamento no ano, 1 803 eram utentes readmitidos e 1 950 eram novos utentes. Cerca de metade destes tinham como droga principal a cannabis, revela o Relatório Anual "A Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependências - 2014", apresentado hoje no Parlamento.
"Em 2014, nas redes pública e licenciada registaram-se 793 internamentos por problemas relacionados com o uso de drogas em Unidades de Desabituação e 2 256 em Comunidades Terapêuticas, correspondendo respetivamente a 53% e a 66% do total de internamentos daquelas estruturas. Quanto aos consumos, a heroína continua a ser a droga principal mais referida pelos utentes das diferentes estruturas, com exceção, tal como sucedido nos últimos anos, dos novos utentes em ambulatório em que foi a cannabis (49%), e dos utentes das Comunidades Terapêuticas públicas em que a predominante foi a cocaína (61%). De um modo geral, nos últimos quatro anos por comparação com os anos anteriores, verifica-se uma tendência de aumento nas proporções de utentes que referem a cannabis e a cocaína como drogas principais", refere o documento elaborado pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD).
De acordo com o relatório, nos cinco últimos anos constatou-se uma maior heterogeneidade nas idades dos utentes que iniciaram tratamento no ambulatório: por um lado um grupo cada vez mais jovem de novos utentes e por outro de utentes readmitidos cada vez mais velhos. "Tendo em consideração esta heterogeneidade dos perfis demográficos e de consumo dos utentes em tratamento, torna-se essencial reforçar a diversificação das respostas e continuar a apostar nas intervenções preventivas de comportamentos de consumo de risco."
Overdoses subiram 50%
Quanto às mortes com presença de pelo menos uma substância ilícita em 2014, o Instituto Nacional de Medicina Legal registou 220 mortes, das quais 33 (15%) foram considerados overdoses. Este valor representou um aumento de 50% em relação a 2013, mas abaixo dos valores registados entre 2008 e 2010.
"Entre as substâncias detetadas nestas overdoses, é de destacar a presença de cocaína em 64% dos casos, seguindo-se-lhe os opiáceos (45%) e a metadona (42%). É de notar, enquanto tendência emergente, embora ainda com valores residuais, a ocorrência de casos de overdose com a presença de drogas sintéticas. Uma vez mais, na maioria (85%) das overdoses foram detetadas mais do que uma substância, sendo de destacar em associação com as drogas ilícitas, as overdoses com a presença de álcool (21%) e benzodiazepinas (46%). Em relação às outras causas das mortes com a presença de pelo menos uma substância ilícita ou seu metabolito em 2014 (187 casos), foram maioritariamente atribuídas a acidentes (40%) tal como nos anos anteriores, seguindo-se-lhes a morte natural (35%), suicídio (17%) e homicídio (4%)", aponta o relatório.
No que se refere à mortalidade relacionada com o VIH/sida e de acordo com as notificações de óbitos recebidas no Instituto Ricardo Jorge, "em 2014 foram notificados 87 óbitos ocorridos no próprio ano em casos de infeção VIH associados à toxicodependência, 57 em estadio sida. A distribuição das mortes segundo o ano do óbito evidencia uma tendência decrescente no número de mortes ocorridas a partir de 2002".