Maioria dos professores queixa-se da indisciplina
Para metade dos professores, a indisciplina na sala de aula é a principal dificuldade para conseguir fazer o seu trabalho. À frente de questões como a extensão dos programas curriculares (o maior problema para 30,3%), as mudanças nas metas curriculares (9,3%) ou o trabalho com os colegas (4,5%). Estas são algumas das conclusões do inquérito "As preocupações e as motivações dos professores", da Fundação Manuel Leão, que será apresentado amanhã, em Vila Nova de Gaia.
Os professores queixaram-se de ser preciso estar constantemente a mandar calar um aluno, evitar que faça observações inapropriadas ou impedir conversas. A chamada "pequena indisciplina", que é também a mais perturbadora da ação dos professores. Só no 1.º ciclo os docentes indicaram o tamanho dos programas como o maior problema, à frente da indisciplina. Enquanto os professores do ensino profissional (63,9%) e das escolas profissionais (65,4%) são os que mais se queixam da indisciplina.
Para o coordenador do estudo, o professor universitário e ex-secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário (1992-1993) Joaquim Azevedo, "a indisciplina é a manifestação mais óbvia de problemas a montante que é preciso enfrentar, sociais e escolares". No entanto, uma das soluções estará certamente em ouvir os indisciplinados. "Quando ouço os alunos com calma, as aulas de 90 minutos e os métodos de ensino [exemplo, as "aulas de passar", em que o professor escreve e os alunos copiam] aparecem à cabeça das queixas. Ouçam-nos, as escolas não ouvem os alunos, ouçam-nos e vão ter por diante uma rigorosa identificação do que é preciso fazer", aponta.
[citacao:As escolas não ouvem os alunos, ouçam-nos e vão ter por diante uma rigorosa identificação do que é preciso fazer]
A mesma opinião é defendida pelo professor do ensino básico e secundário Alexandre Henriques. O também autor do blogue Com Regras, que tem promovido inquéritos semelhantes entre professores, diretores e pais, lembra que a indisciplina é um problema referido por todos estes elementos. "Os pais apontam os problemas de indisciplina em casa, os diretores e professores dizem que a indisciplina está a crescer", refere. E nas salas de aula não há espaço para inovar nos métodos, porque as metas a cumprir são muito rígidas, acrescenta.
Além disso, Paulo Guinote, professor do 2.º ciclo e especialista em História da Educação, apresenta como principal problema a falta de consequências. "Hoje a indisciplina não é mais frequente do que era há 20 anos, quando comecei a dar aulas ou até quando andava na escola. O que mudou foi a natureza da indisciplina." Ou seja, a indisciplina "era responsabilizada, pelo menos é esse o entendimento do professor. Agora os alunos quando tem suspensões e faltas não chumbam e há esse sentimento de impunidade", desde 1998, com a alteração do estatuto do aluno, recorda.
Quanto à sua experiência, o professor confessa que não tem grandes problemas: "Prefiro lidar com a indisciplina com humor. Raramente mando alguém para a rua. Mais facilmente expulsava um aluno há 20 anos do que hoje. Sei que eles ficam mais satisfeitos se saírem da sala."