Lisboa quer ser a capital verde da Europa. Conheça os trunfos apresentados ao júri
Lisboa, Ghent (Bélgica) e Lahti (Finlândia) ficam esta noite a saber qual vai ser a "Capital Verde Europeia" em 2020. O presidente da câmara lisboeta, Fernando Medina, tentou convencer o júri mostrando que está a ser feito em termos de sustentabilidade ambiental. Primeiro-ministro, António Costa, e ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, enviaram mensagens de apoio
Quatrocentos hectares de espaços verdes até 2021 (mais 200 até esse ano que se juntarão aos 200 existentes desde 2008), uma melhor mobilidade na cidade, mais zonas com árvores, edifícios novos com incentivos para serem mais eficientes a nível energético, uma Praça de Espanha com um novo parque verde com uma bacia de retenção de água para controlo de cheias, um vale de Alcântara renovado com melhores acessibilidades e rega utilizando água reciclada na Estação de Tratamento de Águas Residuais de Alcântara. Projetos que devem estar concluídos até 2020.
Estes foram alguns dos trunfos que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa apresentou esta quarta-feira - além de mensagens de apoio do primeiro-ministro António Costa e do ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes - durante cerca de uma hora ao júri do projeto "Capital Verde Europeia 2020", que na noite desta quinta-feira deverá anunciar em Nijmegen (Holanda e a atual cidade com este galardão) qual das três localidades com mais de 100 mil habitantes que chegaram a esta final - Lisboa, Ghent (Bélgica) e Lahti (Finlândia) - conquistou o título.
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Como curiosidade, recorde-se que todas fizeram parte no ano passado da última lista que incluía cinco cidades, tendo Oslo sido a escolhida para "Capital Verde da Europa" em 2019.
As representações tiveram esta quarta-feira uma hora para mostrar os seus projetos e responder a perguntas do júri, sessão onde só puderam estar os elementos das comitivas de cada candidata. Para evitar "espiões" nesta fase que antecedeu o anúncio oficial que será feito esta noite.
Uma cidade "para ser feliz"
Lisboa foi a última das candidatas a apresentar os seus projetos e começou com um vídeo onde a voz off de uma grávida sobre a cidade que está a nascer ao mesmo tempo que ia descrevendo as qualidades da capital portuguesa: a reconversão da Ribeira das Naus, os jardins que existem na cidade, os projetos tecnológicos ligados à mobilidade (como o emov) e à reciclagem. Tudo isto acompanhado com imagens de jovens a jogar à bola, cães a passear, pessoas sorridentes. E o vídeo termina com duas frases chave, como se falasse com o filho: "Tu vais ser feliz aqui"; "Tu és a cidade meu filho. Chamámos-te Lisboa".
E a ideia central da candidatura - a terceira, segunda consecutiva como finalista - a "Capital Verde Europeia" passou pela mensagem com que Fernando Medina começou a sua intervenção: Lisboa é uma cidade que tem uma história de habitabilidade desde há três mil anos e quer manter-se sustentável por mais três mil.
Para isso quer continuar a apostar na melhoria do transporte público - numa ótica metropolitana -, mais mobilidade elétrica partilhadas, até como complemento do transporte público (onde se inclui a renovação da frota da Carris e o investimento na rede de elétricos).
O presidente da câmara frisou também que se está a "promover a eficiência nos edifícios" públicos e privados - e aqui entra o projeto Renda Acessível onde os projetos para os prédios têm de ter essa componente. O investimento na energia solar, por exemplo, com um primeiro grande parque solar que produzirá 2 a 4 MW para alimentar alimentar o transporte público e a frota de veículos ligeiros da autarquia.
Experiência no espaço do Rock in Rio
Outra das ações promovidas e que foi apresentada como um dos exemplos das qualidades de Lisboa no âmbito ambiental foi a aposta na despoluição do Rio Tejo, em que após um investimento de 210 milhões num espaço de 10 anos no tratamento de águas residuais ao longo da bacia do rio (com empréstimos do Banco Europeu de Investimento e fundos estruturais) foi possível chegar ao ponto de se ter golfinhos no estuário e de a Reserva Natural fazer hoje parte da Rede Natura 2000. A poupança de água - desde a rede de distribuição da EPAL que reduziu as perdas de 23,55 em 2005 para menos de 8% atualmente, até à aposta municipal na aposta municipal na deteção de fugas e sua resolução rápida em lagos, fontes e sistemas de rega, permitindo poupança de cerca de 17% entre 2014 e 2016 - também foi destacada por Fernando Medina.
E, numa demonstração de que a cidade está a apostar numa gestão eficiente da água, até exemplificou que após ter sido autorizado pelas entidades competentes uma zona do parque da Bela Vista, onde tem lugar este fim de semana o Rock in Rio, foi regada com água tratada na ETAR de Alcântara.
Incineradora produz energia
Uma das práticas da gestão da cidade que o presidente da câmara frisou ter de melhorar é a da gestão dos resíduos. Neste ponto lembrou que Lisboa recicla 33% do total de lixo que é produzido, mas que esse número tem de aumentar. Destacou, porém, que apenas 1% vai para aterro. O restante é incinerado e usado para produzir energia: 25% do consumo doméstico da cidade é assim produzido.
Apresentou ainda dados que indicam que 76% da população lisboeta vive a 300 metros de uma zona verde, com as vantagens que apresenta em disponibilizar áreas onde o ruído é menor. Além de lembrar o projeto Uma Praça em Cada Bairro, que funciona como uma forma de requalificar o espaço público, ao mesmo tempo que os corredores verdes ajudam a uma mobilidade ativa da população. Não faltando, também, a referências às Giras - as bicicletas disponibilizadas pela cidade e para cuja utilização já foram vendidos 10 mil passes, sendo 60% da sua utilização às chamadas horas de ponta.
As hortas biológicas - há 650 famílias que já têm esperando a câmara chegar em 2021 às mil - também mereceram destaque por parte do autarca que não esqueceu a vinha de Lisboa, plantada há três anos, e que após a sua primeira vindima recebeu dois prémios. Entre as garantias dadas ao júri ficou ainda a de que na cidade não se utiliza pesticidas.
A força da cidade mediática
Quando questionado sobre porque devia Lisboa ser escolhida e não Ghent ou Lahti, Fernando Medina lembrou que Lisboa é uma cidade muito procurada, muito mediática e que durante o ano em que ostentar (no caso de ganhar) o galardão de "Cidade Verde Europeia" pode até utilizar a ligação cultural e histórica que tem com muitos países, em vários continentes, para mostrar a necessidade de se terem apostas na sustentabilidade futura das cidades. Além disso, já mostrou que sabe organizar grandes eventos e voltou a falar de quatro temas que considera fundamentais: as obrigações ao nível da eficiência energética dos novos projetos imobiliários (nomeadamente os de responsabilidade da autarquia), a mudança da Praça de Espanha, as alterações pensadas para o Vale de Alcântara e a utilização de água reciclável para regas e lavagens de ruas.
Quem já ganhou
O galardão a que Lisboa concorre hoje existe desde 2008 e já foi conquistado por: Estocolmo (Suécia), Hamburgo (Alemanha), Vitoria-Gasteiz (Espanha), Nantes (França), Copenhaga (Dinamarca), Bristol (Reino Unido), Liubliana (Eslovénia), Essen (Alemanha), Nijmegen (Holanda) e Oslo (Noruega, que será a "Cidade Verde Europeia" em 2019).