Linha do Inatel recebe centenas de chamadas de idosos
Criado pela Fundação Inatel, no âmbito da nova direcção social, trata-se de um serviço telefónico que funciona todos os dias da semana, entre as 15:00 e as 22:00, onde voluntários ouvem os desabafos e os problemas de quem está do outro lado da linha.
É o caso de Manuela, 43 anos, que trabalha na "Conversa Amiga" há um ano e dá "apoio às pessoas", estando "atenta àquilo que a pessoa do outro lado" lhe diz. "Às vezes [quem liga] não quer partilhar nada e só quer saber que deste lado está cá uma pessoa e que está à escuta do que se possa passar do outro lado da linha", apontou. Dados do Inatel revelam que entre 01 de Agosto de 2009, quando arrancou o serviço, e 31 de Dezembro de 2010 foram recebidas mais de 1.200 chamadas, sendo que a maioria (73 por cento) são mulheres e a faixa etária predominante anda entre os 72 e os 80 anos.
"Umas vezes ligam porque têm alguma coisa que querem muito partilhar connosco, outras vezes estão muito deprimidas, outras estão sós mesmo quando têm uma família enormíssima e precisam de partilhar essa solidão connosco", explicou Manuela. De todas as chamadas que recebeu, recorda três situações de pessoas com intenções suicidas. Uma delas tentou "várias vezes" suicidar-se cortando os pulsos, recusa receber ajuda clínica e sente-se só apesar de ter marido e filhos.
"Eu funciono sempre da mesma forma, que é em sistema de interruptor, ou seja, enquanto aqui estou dou o melhor de mim, quando saio daqui o interruptor apaga-se porque lá fora é a minha vida", explicou.
Para o presidente do Inatel, este é um programa que parte do princípio de que há pessoas que vivem "em grande solidão" e que isso é também responsabilidade da actual sociedade "hedonista" e "imediatista". "Entendo mesmo que as sociedades, hoje em dia, mais do que respostas de natureza economicista, necessitam de respostas de natureza solidária porque tudo o resto vem por acréscimo. E se tivermos um projecto coerente suponho que isso minorará a sorte de muita gente, quer do ponto de vista material, quer do ponto de vista da afectividade", defendeu Vítor Manuel Ramalho, acrescentando que a fundação tem em vista aumentar o número de voluntários no programa.