Sócrates soma críticas ao PS de Costa. "Nunca seria PM sem ter ganho eleições"
José Sócrates explica esta quinta-feira, em entrevista à Antena 1, que "nunca teria sido primeiro-ministro sem ter ganho as eleições", admitindo que é uma coisa sua. E naquilo que parece ser uma soma de críticas a António Costa, diz que o Governo se precipitou com o decreto sobre o BPI e lamenta que, ao fim de um ano e meio, a direção do PS esteja calada sobre o seu caso.
Na entrevista - que será emitida pelas 10.00 na antena da rádio pública - o antigo primeiro-ministro reconhece-se um "apoiante deste Governo" socialista, onde tem "os melhores amigos políticos", como Augusto Santos Silva, reconhece-lhe "toda a legitimidade", mas, salvaguarda, não teria feito o que fez o atual secretário-geral do PS.
"Eu nunca teria sido primeiro-ministro sem ter ganho as eleições, mas esse é um problema meu, agora reconheço absolutamente toda a legitimidade a este Governo e toda a legitimidade ao António Costa." No entanto, aponta o dedo à "batalha política" que a direita "fez contra" o executivo socialista apoiado pelos partidos da esquerda no Parlamento, dizendo ser "inqualificável". Aliás, nota que "este Governo começou provisório mas já não é".
Sobre a atualidade política, Sócrates entende que "foi um erro político do Governo" (e talvez do Presidente da República) ter-se envolvido no caso do BPI, com um decreto feito à medida da situação deste banco. O ex-primeiro-ministro diz mesmo tratar-se de "precipitação", apesar de entender que o Governo terá atuado "com boa intenção" para "resolver um problema". Sócrates acusa o Banco de Portugal, questionando-se sobre "o que anda a fazer" a entidade que devia resolver estas matérias. Mas regressa ao Executivo de Costa, para notar que "o empenho foi excessivo" e dizendo esperar "que possa ser corrigido".
Marcelo "vai aprender"
Notando na entrevista com Maria Flor Pedroso que há "um ganho" com Marcelo, mais simpático e espirituoso que Cavaco que era "faccioso", Sócrates renova as críticas ao Presidente da República, por causa do "alvoroço em que transforma a Presidência da República" e "aparecer na televisão todos os dias a comentar os mais variados assuntos". Para Sócrates, Marcelo não sabe guardar um segredo, "mas com a experiência, vai aprender".
Mas também renova as críticas ao seu partido, por o PS ter "entregue a eleição a Marcelo porque desistiu da eleição". Afinal, nota, "mesmo quando se sabe que se vai perder não se pode desistir".
Silêncio "ao fim de um ano, um ano e meio?"
Já sobre o processo judicial em que está envolvido, o antigo secretário-geral do PS lamenta a falta de solidariedade dos seus camaradas. Afirmando que foi ele próprio que incentivou o distanciamento, logo a seguir, questiona-se: "Ao fim de três meses, seis meses, agora ao fim de um ano, um ano e meio?", lamenta-se, apesar de, desde muito cedo, Sócrates ter começado a apontar o silêncio da liderança socialista.
E recorda: "Eu estava na prisão quando - e bem - a direção do PS criticou Timor-Leste por o facto de haver um cidadão português estar preso há mais de seis meses sem acusação. Eu estou há ano e meio com o Estado a apontar-me o dedo, sem acusação..." Por isso, acusa Sócrates, "neste momento, quem está sob suspeita é o Ministério Público".