Passos diz conhecer casos de suicídio. Costa recusa contribuir com polémicas
Pedro Passos Coelho defendeu hoje que o Estado falhou e continua a falhar no âmbito da tragédia do incêndio de Pedrógão Grande.
"Não precisamos de aguardar por nenhum estudo, nenhuma avaliação, nenhuma auditoria, para saber que o Estado falhou. E eu quero acrescentar ainda está a falhar. Dez dias depois ainda está a falhar", afirmou o líder do PSD. "Eu tenho conhecimento de vítimas indiretas deste processo, de pessoas que puseram termo à vida, pessoas que em desespero se suicidaram e que não receberam em tempo o apoio psicológico que deveria ter existido", acrescentou Passos Coelho no final de uma visita aos bombeiros de Castanheira de Pêra, uma das regiões mais afetadas pelo incêndio, no qual morreram 64 pessoas.
Em reação a estas afirmações, o primeiro-ministro aconselhou prudência. "Devemos ser todos muito prudentes na produção de afirmações e no que noticiamos, porque por vezes a pressa é má conselheira", defendeu António Costa, lembrando o caso do avião Canadair cuja queda foi noticiada na semana passada mas a qual não aconteceu, em que "chegou a ser noticiada a nacionalidade de um piloto que tinha falecido". Costa garantiu que fala com base em fatos oficiais, e "não com base em rumores, em notícia avulsas, no diz-que-disse".
"Temos que falar com muita seriedade porque estamos a falar da maior tragédia humana que o país alguma vez viveu", acrescentou.
"Não vou estar aqui a entrar em debate com o líder da oposição, nem creio que seja isso que os portugueses esperam do Governo", disse também o primeiro-ministro. "Os portugueses esperam que o Governo se empenhe no esclarecimento de tudo, que contribua para a reconstrução e para a reposição da normalidade da vida daquelas populações. Neste momento não vou contribuir com polémicas, [porque] não tenho teses, não tenho pontos de vista", declarou.
Segundo António Costa, o seu dever "é criar as condições para esclarecer tudo e total disponibilidade para, tal como o líder da oposição propôs, a Assembleia da República crie uma comissão técnica independente".
"E que o Ministério Público tenha toda a informação disponível para realizar o seu inquérito. Vou aguardar serenamente as conclusões dessas informações. Mas eu não respondo antes de perguntar, nem concluo sem ser em função das informações que obtenho. Sobre polémicas, o líder da oposição fará as polémicas que entende, mas comigo não fará, porque não tenho um ponto de vista a defender", acrescentou, garantindo contudo que estão a ser feitos todos os esforços para prestar apoio psicológico às populações.
Entretanto, o ministro da Saúde assegurou hoje, em Sintra, que vai ser prestado apoio psicológico às populações afetadas pelos incêndios na região Centro, além dos 840 atendimentos já efetuados, bem como outros tipos de cuidados de saúde.
César Nogueira, presidente da Associação dos Profissionais da Guarda, também referiu esta manhã que muitos militares da GNR meteram baixa psicológica na sequência do incêndio e denunciou a falta de meios.
"Quando estamos perante uma tragédia com a dimensão que tivemos nesta circunstância todos temos falta de meios", admitiu Costa, falando da "dispersão, intensidade e diversidade" da mesma. No entanto, assegurou que todos os meios disponíveis foram alocados pelo Governo.
O presidente da Câmara Municipal de Pedrógão Grande garantiu à RTP que não tem informação de suicídio algum. "Boatos", disse Valdemar Alves, autarca eleito pelo PSD que concorre às próximas legislativas pelo PS como independente. "O que peço às pessoas é que não aceitem. Corram com os boateiros, porque efetivamente, graças a Deus, não há confirmação nenhuma de suicídios", afirmou, segundo o site da televisão pública. Também o presidente da Administração Regional de Saúde do Centro reagiu às declarações de Passos Coelho: José Tereso disse que, até esta segunda-feira, não é conhecido "nenhum caso de suicídio com ligação" ao incêndio.
Na sua intervenção em Castanheira de Pera, Passos Coelho também admitiu avançar com uma iniciativa legislativa caso o Governo não apresente rapidamente um mecanismo que possa compensar as famílias das vítimas de Pedrógão Grande.
"Há precedentes. Há muitos anos, quando aconteceu uma tragédia em Entre-os-Rios, o Governo de então demorou quatro dias a aprovar um mecanismo desta natureza. Na altura foi por uma resolução do Conselho de Ministros", disse.