Nova aposta da NATO reforça papel de Portugal na aliança
O Atlântico Norte está a regressar ao centro das atenções militares da NATO, onde Portugal pode vir a ter um papel relevante enquanto país com grande passado e tradições marítimas. Em causa, segundo fonte oficial da Aliança Atlântica, está a crescente perceção da ameaça russa às vias de comunicação transatlânticas.
Como é que isso vai traduzir-se na prática em termos de intervenção de Portugal é ainda uma incógnita, até pelas restrições financeiras de Lisboa - que vai agora investir centenas de milhões de euros na aquisição de aeronaves de transporte militar e de helicópteros ligeiros para a Força Aérea, depois de o ter feito com a compra de dois submarinos novos e duas fragatas holandesas em segunda mão para a Marinha (a que se juntarão investimentos de menor dimensão em programas do Exército)
Mas o porta-voz da NATO, Piers Cazalet, num encontro com jornalistas ainda na antiga sede da Aliança em Bruxelas, dá como adquirido que Portugal vai ter "um papel importante" nessa nova área de intervenção operacional da Aliança.
Como? Através do contributo para a definição dessa nova política aliada, do acréscimo no empenhamento dos navios militares portugueses em missões no alto mar - as chamadas "blue waters" (águas oceânicas) - ou, por exemplo, da visibilidade dada pela presença em vários locais das costas europeias, assinala Piers Cazalet.
Em termos globais e no conjunto dos países aliados, haverá certamente um maior número de navios a patrulhar o Atlântico Norte e com maior visibilidade, como forma de fazer passar a mensagem de que os aliados estão preparados e têm a vontade para usar a força se necessário, explicou Piers Cazalet.
A importância das rotas transatlânticas em termos comerciais e económicos, ao nível dos transportes e da distribuição de bens e produtos, já não para falar do Atlântico Norte em termos de poder militar e ao nível da segurança, são aspetos cruciais nessa nova abordagem diplomática e militar da NATO no Atlântico Norte, perante o acréscimo das atividades marítimas da Rússia nessa área, observam fontes da organização.
Esse "papel importante", em termos de peso e influência, a desempenhar por Portugal com o regresso em força da NATO ao Atlântico Norte poderá passar pela nova estrutura de comandos aliada. Não se tratará de voltar a ter um quartel-general em território nacional mas de ocupar posições de relevo na hierarquia dos que já existem.
O facto de se prever um aumento significativo dos quadros de pessoal ao serviço da NATO, depois de anos de redução de efetivos, abre possibilidades nesse domínio - a concretizar por via das negociações a realizar e que só terminam por consenso entre os 29 países membros.
Mesmo o Ártico, que começa a ser uma área disputada pelos seus recursos naturais que o degelo está a tornar acessíveis e onde a Rússia tem vindo a fazer marcação de território, é também parte integrante do "intenso debate" em curso sobre o reforço da presença aliada no Atlântico Norte, observou uma outra fonte da NATO.
"Não se trata de militarizar o Ártico", embora essa pareça ser a intenção de Moscovo, mas sim de também fazer sentir a presença dos aliados, sublinhou esta mesma fonte, dada a importância das capacidades militares navais da Rússia (tanto de superfície como submarina, onde se inclui o fator nuclear).
Na prática, embora não seja assumido pela NATO, o regresso aos mares do Atlântico Norte traduzirá o reconhecimento da fragilidade a que chegaram as capacidades marítimas da organização. Para isso terão contribuído os vários anos de participação em operações terrestres, desde os Balcãs no final dos anos 1990 até ao Afeganistão e ao Iraque - a partir da década seguinte e na sequência do 11 de Setembro, quando pela primeira vez foi invocado o artigo 5º de defesa coletiva.
O jornalista viajou a convite da NATO