Médicos em privação de sono podem cometer mais erros

Desafios da prática clínica e futuro da investigação em Portugal vão estar em debate, na próxima sexta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian
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"O stress, a fadiga e o sono constituem três fatores que influenciam negativamente a atividade dos profissionais de saúde, interagindo entre eles". O alerta é feito por Paula Pinto, coordenadora da unidade de sono e ventilação não invasiva do serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte e uma das oradoras da conferência "Mais inovação, mais saúde", um evento científico promovido pela pela MSD Portugal, em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian e a Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa (SCML), que decorre na próxima sexta-feira, no auditório 2 da Fundação.

Os desafios da prática clínica são um dos temas em destaque na iniciativa, que reúne mais de 300 profissionais de saúde. Ao DN, a pneumologista Paula Pinto explica que "tendo em conta a atividade profissional inerente à prática da medicina, os profissionais de saúde estão sujeitos à realização de turnos que condicionam uma alteração ao nível do desempenho das suas atividades diárias, apresentando privação crónica de sono".

Em causa está o estilo de vida das sociedades modernas, aliado à exigência profissional, que "resultam numa redução do número de horas de sono, que levam a fadiga, cansaço e hipersonolência diurna, com um aumento do risco de acidentes de trabalho, podendo resultar inclusivamente em erros médicos".

De acordo com a também professora da Faculdade de Medicina de Lisboa, "a privação crónica do sono funciona para o organismo como um estado de stress contínuo", o que aumenta o risco de doenças cardiovasculares, diabetes e perturbações mentais, nomeadamente estados de ansiedade e depressão. Além disso, explica, quando o profissional de saúde está sujeito a situações de stresse, "não tem capacidade de resposta adequada", o que pode prejudicar o seu desempenho.

Gestão do stresse

Entre os vários profissionais de saúde, os médicos são, segundo a pneumologista, os mais afetados pelo stresse, sendo que os "intensivistas, os anestesistas e os cirurgiões" apresentam os níveis mais elevados.

Stresse, sono e fadiga são também problemas que afetam muitos doentes e a população em geral. "O estilo de vida das sociedades modernas, com o aumento do número de horas de trabalho e o aumento da disponibilização das novas tecnologias da informação tem sido responsável por um aumento da prevalência de vários distúrbios do sono, nomeadamente a privação crónica do sono, a insónia e os distúrbios relacionados com o trabalho por turnos".

Como enfrentar o problema

Como a grande maioria destes distúrbios estão relacionados com estilos de vida desadequados, Paula Pinto diz que "é necessário adotar estilos de vida saudáveis nas vertentes da saúde individual e da saúde dos profissionais". Refere-se a hábitos alimentares saudáveis, à prática de exercício físico e à "gestão adequada das atividades dos profissionais, sem excesso de horas de trabalho, permitindo escalas de turnos regulares e que respeitem os hábitos individuais de sono".

Por outro lado, é importante limitar o número de horas de manuseamento das novas tecnologias de informação, já que "a exposição à luz azul que os vários equipamentos fornecem, nomeadamente computadores, televisões, telemóveis e tablets, leva a um aumento da insónia e diminuição da qualidade do sono".

O futuro da investigação

Além dos desafios na prática clínica, a conferência "Mais inovação, mais saúde" vai debater os desafios e estratégias da investigação clínica em Portugal, contando com a presença de oradores como Marília Cravo, da Universidade de Lisboa, Carmo Fonseca, do Instituto de Medicina Molecular, Jorge Correia Pinto, da Universidade do Minho, e Isabel Palmeirim, da Universidade do Algarve.

Questionada sobre as grandes oportunidades nesta área, Paula Pinto defende que "passam por um maior intercâmbio de investigadores entre os vários países, levando a um aumento de projetos multicêntricos". A condicionar a investigação está o "aumento da exigência profissional dos médicos, que se tem agravado nos últimos anos pela redução do número de profissionais, com consequente diminuição do número de horas alocadas à investigação".

Ao longo do evento, os presentes são convidados a participar no "Meet the Science", onde serão apresentados trabalhos de doutoramento que se destacaram a nível nacional.

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