Médicos dão formação a personal trainers para evitar lesões em ginásios
Os hospitais recebem cada vez mais casos de pessoas com lesões causadas por exercício em excesso. Desde tendinites até casos mais graves, como doença coronária, a atividade física mal programada tem riscos, e é para evitar esses problemas de saúde que médicos do Hospital da Luz vão ter hoje uma ação de formação com personal trainers de ginásios.
Depois do período das festas, esta é uma das alturas do ano em que os ginásios registam maior procura. O recomendado é que quem quer começar a fazer exercício seja avaliado por um médico, idealmente ligado à área desportiva, para que depois os fisiologistas ou personal trainers (PT) no terreno possam ter em conta os alertas clínicos. Mas na realidade o que se percebe é que esse acompanhamento é muito reduzido. "O exercício físico virou moda, mas o acompanhamento médico é baixo, percebendo-se que há muitos casos em que o nível de exercício é contraindicado para idade", indica Hélder Dores, cardiologista, médico militar do Exército e responsável pela consulta de cardiologia desportiva no Hospital da Luz. "Continuamos a ter pessoas a fazer exercício extremo e não são devidamente avaliadas, e tudo o que é em excesso é prejudicial."
Na prática, os médicos falam numa espécie de curva em U em termos de risco clínico associado ao exercício - ou falta dele: em que quem não faz qualquer tipo de atividade tem maior incidência de problemas de saúde; depois quem o faz de forma moderada reduz de forma acentuada o risco; e na outra ponta volta a subir a incidência de problemas como doença coronária ou arritmia em pessoas que fazem exercício em excesso.
É a pensar principalmente nestes últimos que uma escola de formação de PT - a Exercise School - pediu ao Hospital da Luz para organizar um dia de formação com médicos de várias especialidades (ortopedia, nutrição, cardiologia, pneumologia e até oncologia). "A ideia da reunião é ser multidisciplinar. Já temos reuniões de médicos destas áreas, outras de profissionais do exercício, personal trainers, mas a ideia aqui é cruzar as duas áreas. Vamos juntar profissionais de várias áreas em painéis com debates entre clínicos e profissionais do exercício", conta Hélder Dores, que reconhece que o PT tem um papel importante nesta área, porque pode ser o primeiro a perceber sinais de alarme.
E Hugo Moniz, CEO da Exercise School, garante que os profissionais do exercício estão habilitados para o fazer, embora ações como a de hoje sejam "fundamentais para estarmos cada vez mais fortes, pois todos os indicadores que os médicos nos possam fornecer são agregadores de valor". Apesar de reconhecer que "ainda há muito autodidatismo e excessos nesta área", este personal trainer numa grande cadeia de ginásios em Lisboa destaca o facto de haver cada vez mais pessoas preocupadas com a saúde e a estrutura física e menos com a linha. "Há dez anos, 80% dos utentes de ginásios estavam só preocupados com a parte estética, hoje serão 60%."
Uma das principais ideias que tanto o cardiologista do Hospital da Luz como Hugo Moniz vão levar à ação de formação de hoje é que as atividades baseadas na força têm os mesmos efeitos positivos na saúde que os exercícios cardiovasculares, e devem ser complementados. "Se for regulado e adaptado é saudável. O exercício de força tem os mesmos resultados na redução do colesterol e subida do colesterol bom, na redução de peso - logo na diminuição de risco cardiovascular -, no controlo da insulina, importante na prevenção da diabetes e no controlo da doença, em quem já a tem", enumera Hélder Dores. Nos idosos traz vantagens na estabilidade e no equilíbrio, o que lhes permitirá, por exemplo, ir às compras ou subir escadas. A longo prazo contribui ainda para a diminuição de hospitalizações. Benefícios que serão explicados hoje, entre as 09.00 e as 16.30, no auditório do Hospital da Luz.