Jorge Malheiros: Imigração "revela dinâmica económica atrativa"
O número de imigrantes com autorização de residência está aumentar. É um fenómeno positivo para o país?
É positivo, claro. Há uma relação entre dinâmica demográfica e dinâmica económica na generalidade dos casos. A imigração mais ligada a uma componente económica é uma boa notícia. Revela uma melhor saúde do país do ponto de vista social e económico. Com a retoma e a existência de um conjunto de setores que têm agora mais produção e mais procura, como o turismo, o comércio e outros serviços, começa até a manifestar-se a necessidade de mão-de-obra no nosso país. Vamos precisar de mais pessoas.
O Brasil é o principal ponto de origem dos imigrantes e com uma nova vaga mais qualificada. O que leva a isto?
Está a acentuar a entrada de brasileiros. Houve um momento de retorno dos brasileiros ao seu país, mas nos últimos quatro anos as entradas voltaram a ser superiores às saídas. Houve uma primeira vaga nos anos 1990, com gente qualificada. Foi a era dos médicos dentistas, do marketing, com pessoas como o Edson Athayde, e do audiovisual. Mais tarde, a imigração passa a ter qualificações mais baixas. E agora diversifica-se, com pessoal mais qualificado, com mais poder de investimento que aproveita as oportunidades existentes a nível de benefícios fiscais e também mantendo ainda as qualificações mais baixas/médias. Outro grupo importante é dos estudantes.
A imigração dos PALOP mantém-se elevada mas é diferente?
É diferente da brasileira. A qualificação elevou-se entre imigrantes dos PALOP, mas continua a ser mais baixa. Mas além dos brasileiros, dos PALOP e dos ucranianos, há um outro fenómeno mais recente, os asiáticos.
Quais as características?
A imigração do sul asiático - Índia, Paquistão, Bangladesh e China - cresceu muito e divide-se entre as áreas metropolitanas, sobretudo Lisboa, e as zonas rurais, em especial no Alentejo e no nordeste transmontano. Por um lado, com destaque para os chineses, dedicam-se ao comércio e à restauração. Outros estão mais na agricultura. Há ainda o caso dos tailandeses que estão quase todos no trabalho rural. Interessante é que a imigração para certas áreas periféricas, como o Alentejo e o interior norte, tem um crescimento de imigrantes superior a áreas urbanas. A agricultura intensiva precisa de trabalhadores e é isso que os leva para essas zonas. Na imigração, os da UE também aumentam, e chegam de vários países.
O cenário é então diversificado?
É um panorama muito diverso, que anuncia uma dinâmica económica maior. E não é só trabalho que faz chegar pessoas, é também o lado do investimento.
Ainda há milhares de irregulares...
Sim, mas a legislação portuguesa oferece atualmente a possibilidade de regularizar com justiça e correção. Há mecanismos a funcionar, embora possam ser um pouco lentos. Mas a abordagem caso a caso é uma opção correta e das mais justas.