Incêndios. Ministra reafirma que não vai pedir a demissão
A ministra da Administração Interna reafirmou esta manhã o que sempre afirmou quanto ao apuramento de responsabilidades no caso da tragédia de Pedrógão Grande. "Não, não vou demitir-me", disse no Parlamento durante um debate marcado pelo PSD para discutir o relatório da comissão técnica independente sobre os incêndios.
Para Constança Urbano de Sousa "é pouco sério" quererem pedir-lhe explicações menos de 24 horas depois de o relatório ter sido divulgado, o qual revela que a ausência de um alerta precoce propiciou o elevado número de mortos. Além disso, o documento refere que se deviam ter retirado as pessoas das aldeias atempadamente, que houve falhas no comando dos bombeiros, que o SIRESP está "baseado em tecnologia ultrapassada" e "obsoleta" e que a presença excessiva de autoridades e da comunicação social junto do posto de comando operacional perturbou o combate às chamas.
"Pretender analisar, tirar conclusões a menos de 24 horas de ser conhecido um relatório desta dimensão é manifestamente pouco sério", defendeu. "Não vou tirar conclusões de notícias da comunicação social baseadas em parágrafos avulso e descontextualizados", disse a ministra, considerando que ainda "ninguém teve a oportunidade de ler com seriedade e cuidado" o relatório da comissão independente.
Tendo por base a nota da própria comissão distribuída ontem à imprensa, Constança Urbano de Sousa admitiu "que houve falhas", mas realçou que estas se arrastam há anos. "Falhou a prevenção, mas é uma falha que já tem anos, por isso este governo propôs e adotou medidas no âmbito da reforma florestal antes desta tragédia", afirmou, salientando que, segundo o relatório, "a maioria das mortes" se deveu a um fenómeno meteorológico extremo, o downburst, que não podia ser previsto.
A governante anunciou um Conselho de Ministros extraordinário, no dia 21, no qual serão tiradas conclusões.
No debate o PSD pediu por várias vezes que o Governo peça desculpas aos portugueses sobre o que aconteceu em junho passado em Pedrógão Grande, com o CDS-PP a pedir a demissão de Constança Urbano de Sousa.
O documento, nas palavras do deputado do PSD Luís Marques Guedes, é o primeiro ato de justiça para as famílias, não havendo agora espaço "para adiar ou fugir à assunção de responsabilidades".
"O Estado falhou" e cabe ao primeiro-ministro "pedir desculpa em nome do Estado", disse o deputado, afirmando depois que o PSD vai pedir a avocação em plenário de artigos da lei de compensação das vítimas que foram chumbados em comissão especializada.
Fernando Rocha Andrade, pelo PS, disse ser manifesto que houve falhas operacionais, mas lamentou que a "única preocupação do PSD" é "que alguém seja colocado no pelourinho".
Sandra Cunha, do Bloco de Esquerda, António Filipe, pelo PCP, e Heloísa Apolónia, do partido ecologista Os Verdes, tiveram discurso similar, coincidindo na ideia de que é cedo para tirar conclusões de um relatório que foi apresentado há menos de um dia.
Ao contrário, PSD e CDS-PP consideraram ser o momento para se debater o que aconteceu em Pedrógão Grande, que, segundo Nuno Magalhães, resultou de incompetência. "A começar pela sua, senhora ministra", disse, acrescentando que o Governo vai demitir o presidente da Proteção Civil mas que isso não chega e o CDS-PP não vai deixar que chegue.
Carlos Abreu Amorim, pelo PSD, pediu também a Constança Urbano de Sousa que assuma "as suas responsabilidades políticas", considerando que "mudanças em mais de dois terços da Proteção Civil" fizeram ruir a instituição.