Mendes é figura da tertúlia que discute política e não PSD
Reuniões integram figuras do PSD, incluindo potenciais líderes, mas participantes garantem que não se fala de política partidária. É mais uma tertúlia a reunir-se em Lisboa
São 15 pessoas, entre políticos e empresários, que se reúnem à quarta-feira uma vez por mês num restaurante na Rua do Alecrim. Na Charcutaria discute-se a atualidade política e áreas como a saúde, a segurança social ou o sistema financeiro naquela que é a mais recente tertúlia de Lisboa. O ex-líder do PSD Marques Mendes é uma das figuras de topo do grupo que - embora tenha vários sociais-democratas - rejeita conspirações: discute-se política e não partidos. Muito menos o PSD.
O facto de haver várias figuras do PSD, como o ex-líder, mas também o antigo secretário de Estado João Taborda da Gama, duas deputadas do PSD, o vice-presidente da bancada António Leitão Amaro e o ex-líder da JSD, Pedro Duarte, fez que nos bastidores se alimentasse a ideia de que dali poderia sair uma alternativa a Passos Coelho.
No entanto, contactados pelo DN, alguns dos presentes garantem que "nunca foi discutido nenhum partido, muito menos a liderança do PSD nos encontros". Quanto ao cenário de sair dali um candidato a líder ou uma "conspiração" para tirar o poder a Passos Coelho, as expressões não podiam ser mais esclarecedoras: "Tonteria", "não faz sentido", "dá vontade de rir".
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Nas tertúlias junta-se gente influente, não sendo por isso de estranhar que algumas sejam vistas como plataformas de lançamento. A de Marques Mendes não está imune a isso. Os ingredientes que podem dar um sabor a conspiração estão lá: o grupo integra o diretor de campanha de Marcelo nas Presidenciais, Pedro Duarte, que foi um dos "desalinhados" de Passos no Congresso e também Francisco de Mendia, que é próximo de José Eduardo Martins (mais do que "desalinhado", "crítico" de Passos). Tudo isto - aos quais se junta a presença de deputados do PSD - gerou desconfiança nas hostes sociais-democratas próximas de Passos Coelho.
Mas vários participantes na tertúlia ouvidos pelo DN rebatem a ideia. Um deles explica que "há gente mais próxima do PS, pessoas próximas de José Eduardo Martins, mas também alinhados com Passos Coelho. Não há sequer nenhuma linha, nem as pessoas estão preocupadas com isso".
A tertúlia é, no entanto, um think tank, que ajuda a formar opinião, como várias outras tertúlias que existem pela cidade de Lisboa. A ideia de criar o grupo partiu do advogado Gonçalo Carrilho, que partilha os órgãos sociais da Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios e convidou Marques Mendes para participar. Há ainda um terceiro promotor que se destaca no grupo: um colega de escritório de Mendes na Abreu Advogados, o fiscalista Pedro Pais de Almeida.
De acordo com um dos membros do grupo da Charcutaria, até agora este "reuniu-se duas vezes, uma em março e outra em abril, e discutiu assuntos da atualidade, como por exemplo o Programa de Estabilidade ou o Programa Nacional de Reformas". Os temas são tão diversos, que num dos encontros foi também discutida "a questão dos transportes".
Ao que o DN apurou, o grupo inclui ainda pessoas como o deputado do CDS-PP Diogo Feio, Francisco de Mendia, da Cunha Vaz, que também ajudou a recrutar diversas pessoas.
Nos eventos, como é hábito nas tertúlias, há convidados além do grupo de base, que normalmente são especialistas sobre o tema ou os temas em debate na sessão em causa.
O grupo tem algum recato e figuras influentes, mas um dos participantes explica que "é tudo transparente, não é nenhuma maçonaria. Simplesmente não é publicitado nem são convidados jornalistas, para que as pessoas possam debater os temas mais livremente".
Tertúlias na cidade
Além do grupo do restaurante A Charcutaria, existem outros em Lisboa. No restaurante Vela Latina, na zona de Belém, em Lisboa, há igualmente uma tertúlia que se reúne periodicamente para discutir atualidade promovida pelo economista Vítor Bento, no qual participam ou participaram figuras como o histórico do CDS António Lobo Xavier, o presidente dos CTT, Francisco Lacerda, o antigo ministro da Economia no governo de António Guterres Daniel Bessa ou o administrador do grupo Mello José Morais Cabral.
Há várias outras tertúlias que ocorrem pela cidade fora. Já há um ano, o antigo embaixador Francisco Seixas da Costa, no seu blogue, dava conta de como se desdobrava para participar em eventos deste género.
Francisco Seixas da Costa começava por revelar: "Faço parte de várias tertúlias. Nenhuma delas tem uma agenda de intervenção pública, mas em todas aprendo coisas úteis." O antigo secretário de Estado dos Assuntos Europeus explicava que as tertúlias, "como regra, congregam pessoas, homens e mulheres, que se sentem bem a falar umas com as outras, mesmo se oriundas de círculos muito diferentes e com perspetivas, políticas e não só, às vezes contrastantes".
Quanto à periodicidade, Seixas da Costa explica que "algumas dessas tertúlias são semanais, outras acontecem todos os meses, outras "quando o rei faz anos"", destacando que "umas são temáticas, outras de mero convívio, às vezes com copos e vitualhas à mistura."
Para Seixas da Costa, um "tertuliano militante confesso", a "tertúlia é uma magnífica terapia contra o sectarismo, a bem da tolerância. Ouvir os que pensam de forma diferente da nossa enriquece-nos. Conversar com quem connosco partilha identidades conforta-nos".
Há diversas outras tertúlias pela cidade que reúnem empresários, académicos e políticos. Algumas são até promovidas por obediências maçónicas.