Governo aperta controlo e provoca baixa no Turismo
Quando o governo tomou posse, João Cotrim de Figueiredo colocou à disposição da tutela o seu cargo de presidente do Turismo de Portugal (que ocupava desde novembro de 2013, nomeado pelo anterior secretário de Estado, Adolfo Mesquita Nunes).
Os novos responsáveis políticos pelo setor, Manuel Caldeira Cabral (ministro da Economia) e Ana Mendes Godinho (secretária de Estado do Turismo), reiteraram-lhe a confiança. Nada tinham a objetar a que Cotrim de Figueiredo, um gestor com larga experiência no setor privado (foi por exemplo diretor-geral da TVI), prosseguisse em funções.
Só que a corda partiu-se. Aparentemente, Ana Mendes Godinho - cujo currículo revela grande experiência como gestora pública no setor do turismo - queria reforçar o controlo do governo sobre a atividade corrente do instituto. E Cotrim de Figueiredo decidiu bater com a porta. Anteontem, antes de anunciar publicamente a demissão através de uma nota enviada à Lusa, o gestor enviou um e-mail a todos os trabalhadores do instituto.
Primeiro começou por elogiar os seus funcionários, falando num "conjunto de notáveis profissionais [que] têm sido capazes de levar a melhor neste setor tão exigente e granjear, por isso, o respeito e admiração daqueles que seguem esta atividade". Mas, segundo acrescentou, "é fundamental que o possam fazer com autonomia e com independência face aos ciclos políticos". Ora foi o problema.
"Foi exatamente por considerar que essa autonomia e essa independência estavam a ser postas em causa que tomei a decisão de sair. Entendo que a opção da nossa tutela de substituir à estrutura do Turismo de Portugal um conjunto de matérias técnicas é legítima, mas enquanto gestor profissional considero constituir uma inversão do caminho até agora percorrido", escreveu.
Numa outra nota pública em que deu conta da sua demissão, o gestor usou o mesmo argumento mas de forma mais suave. "Como gestor profissional, só posso aceitar assumir a responsabilidade por resultados se dispuser da independência de atuação técnica que é essencial ao sucesso de uma atividade tão competitiva e dinâmica como o Turismo, independentemente das legítimas orientações políticas emanadas pelo governo em funções, como aliás sempre referi publicamente."
No final da carta aos funcionários deixou um lamento: "Tenho pena de não ter oportunidade de acabar o que comecei, desde a modernização do funcionamento do Turismo de Portugal ao reforço da área do conhecimento ou do empreendedorismo, à continuada sofisticação da promoção. Tenho pena, sobretudo, de não continuar esta caminhada convosco. Há tanta gente boa e competente no Turismo de Portugal que o futuro do instituto (e o do Turismo!) só pode ser positivo". A todos agradeço a dedicação e o profissionalismo que raramente vi noutras organizações. Ficarei a torcer por todos vós", concluiu.
O ministro da Economia e a secretário de Estado reagiram à demissão elogiando Cotrim de Figueiredo pela obra feita no Turismo de Portugal e desejando-lhe as maiores felicidades nos seus projetos futuros.
Setor elogia demissionário
A Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) elogiou o trabalho de João Cotrim de Figueiredo à frente do Turismo de Portugal, esperando que a sua saída não abale "a direção inovadora" que estava a ser traçada.
"A APAVT recorda João Cotrim de Figueiredo como uma pessoa de bom trato, bem preparado e intelectualmente lúcido, com vontade e capacidade de trabalho em equipa, uma pessoa que se inseriu rapidamente no setor com uma lógica clara de trabalho coletivo que - pode ser dito já - esteve ligado a um excelente período do país enquanto realidade turística e a um trabalho, sem dúvida, inovador na área da promoção e da relação em geral com os mercados emissores", disse à Lusa o presidente da associação, Pedro Costa Ferreira. "O que podemos dizer, com toda a certeza, é que ficamos com a ideia de que este último diretor do Turismo de Portugal vai ser recordado pelo setor pela positiva, sem dúvida nenhuma."
Pedro Costa Ferreira acrescentou esperar que, "do ponto de vista do trabalho de promoção", este "possa ser mantido na direção que vinha sendo traçada" e que define assim: "Eminentemente técnica, uma direção que, uma vez mais, tudo leva a crer tem contribuído para os últimos resultados muito positivos do país. E, portanto, esperamos que esta saída não abale traves mestras do trabalho que vinha sendo feito na promoção."