Excesso de chumbos afasta Portugal do topo no ranking PISA
Alunos portugueses tiveram o melhor desempenho de sempre nos testes internacionais. Sò não somos dos primeiros porque estamos nos três países, de 72, que mais retêm os seus alunos
Em 15 anos de testes PISA, o programa internacional de avaliação da OCDE, os alunos portugueses passaram dos últimos lugares, em 2000, para classificações acima da média nas três áreas analisadas - Literacia Científica (501 pontos), Leitura (498) e Matemática (492). O que falta para chegarmos mais longe? A resposta está nos resultados: baixar a retenção, de forma consolidada, garantindo que mais alunos passam de ano aprendendo.
Se Portugal cumprir esse objetivo, mostram duas simulações feitas, a pedido do DN, por João Marôco, do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), coordenador da versão portuguesa do relatório PISA 2015, podemos passar de desempenhos medianos para os primeiros lugares, competindo com as potências asiáticas que hoje dominam os rankings.

Na apresentação dos resultados, ontem de manhã na Secundária de Santa Maria, em Sintra, o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, apresentou os chumbos como o aspeto mais negativo de uma evolução a todos os níveis favorável: "Estamos, infelizmente, numa montra em que não queremos estar: a dos três países da OCDE que apresentam maior taxa de retenção entre as mais de sete dezenas [72] de países ou economias que este relatório analisa".
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Aos 15 anos, lembrou, cerca de um terço dos alunos portugueses já contabilizam uma retenção ou mais, com os "custos anímicos, simbólicos e sociais brutais" que tal acarreta. A média entre os 35 países da OCDE, recordou, "ronda os 13%".Até que ponto é que essa realidade distorce a imagem internacional qualidade das aprendizagens feitas em Portugal?
Os testes PISA têm a particularidade de avaliar alunos de 15 anos independentemente do ano de escolaridade ou do tipo de ensino que estes frequentam. E esse dado tem penalizado sistematicamente os resultados nacionais. João Marôco, que também trabalhou os dados da edição inaugural do PISA, recorda que na altura, "tínhamos alunos com 15 anos no quinto e sexto ano de escolaridade. Apesar de serem poucos, obviamente puxavam a média para baixo", conta.
Da mediania ao topo
Hoje, já não aparecem alunos desses níveis. Mas de acordo com os dados do PISA 2015, 40% de todos os avaliados portugueses estão abaixo do 10.º ano de escolaridade, o chamado "ano modal" - de referência, que seria a regra sem insucesso. O que sucederia se baixássemos essa percentagem para 13% - a média dos alunos de 15 anos que já chumbaram na OCDE -, melhorando as competências dos que deixariam de ficar para trás? No campo da Literacia Científica, diz João Marôco, "a média nacional passaria para 534 pontos". Mais 33 do que os atuais 501. Passaríamos do 17.º lugar na OCDE (22 na lista total) para o terceiro lugar geral, apenas atrás de Singapura e Japão, e o segundo melhor da OCDE. Na Leitura, com 531 pontos, seríamos segundos, só abaixo de Singapura. Na Matemática, com 526 pontos, seríamos sextos.
Outro exercício - assumidamente mais otimista, ainda que vários países tenham taxas de retenção próximas do zero: considerar apenas os resultados dos alunos do 10.º ano nos testes de 2015: Ciências, 549 pontos, imediatamente abaixo de Singapura; Leitura, primeiro lugar, com 546 pontos; Matemática, 542 pontos, quarto lugar ex-aequo com o Taipé Chinês.
Cenários, reforce-se, que só fariam sentido se a redução de chumbos fosse acompanhada de aprendizagem. Passagens administrativas de pouco serviriam. No Reino Unido, recorda João Marôco, praticamente não há retenções até ao 10.º ano. E, no entanto, este país "não está melhor do que Portugal em termos de ranking"
David Justino, presidente do Conselho Nacional de Educação, avisa que estas simulações "têm algum sentido mas também limitações em termos metodológicos". Por exemplo, diz, "se conseguíssemos, acrescentando maior apoio aos alunos, que parte das retenções se tornassem em transições, provavelmente esses alunos evoluiriam para níveis de desempenho médios ou médios baixos". No entanto, lembra, a simples retenção já é uma desvantagem nestes testes, porque "significa que o aluno ainda não aprendeu uma parte da matéria avaliada". Por isso, não tem dúvidas: "há margem para evoluir" e, com menos retenções e melhores aprendizagens, obviamente que os resultados seriam muito melhores".