Exames podem explicar queda nas ciências e subida na matemática

Alunos do 4.º ano estão em 13.º lugar na matemática e ultrapassaram a Finlândia. Mas nas ciências tiveram queda de 13 lugares.
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Os alunos do 4.º ano estão melhor a matemática, mas pior nas ciências. Dois resultados antagónicos que podem ter a mesma causa: os exames nacionais de Português e Matemática, introduzidos pelo anterior governo e entretanto já retirados do programa. Essa é pelo menos a interpretação da Associação de Professores de Matemática (APM). Para Nuno Crato, que criou estes exames, e para o presidente do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE) o que é claro para já é que é preciso dar mais atenção às ciências no 1.º ciclo.

Os resultados são do ranking TIMSS (Trends in International Mathematics and Science Study) - avaliação internacional sobre o desempenho das crianças que frequentam o 4.º ano de escolaridade a matemática e a ciências - que foi ontem divulgado e compara o desempenho de crianças de 56 países/regiões. Na matemática, Portugal ocupa agora a 13.ª posição, alcançando assim mais nove pontos que em 2011 e ultrapassando a Finlândia.

Um sinal positivo que pode ser apontado à atenção que foi dada a esta disciplina com a introdução das provas finais. "Numa primeira análise, congratulamo-nos com a subida a matemática, que já vinha de 2011, mas esta subida também levanta algumas questões", refere Lurdes Figueiral, presidente da APM. A professora acredita que esta subida além de estar ligada à formação contínua dos professores, também pode revelar "o favorecimento de uma disciplina, o que é negativo". " Deve haver um currículo equilibrado. Se a subida se deve ao desfavorecimento de algumas áreas disciplinares só temos a lamentar", aponta Lurdes Figueiral, comentando a quebra de 14 pontos nas ciências.

Os alunos portugueses ocupam agora a 32.ª posição, quando há quatro anos, tinham ficado na 19.ª. Uma quebra para a qual Nuno Crato diz não ter explicação. Apenas a certeza de que "temos que dar atenção às ciências". Sobre a hipótese de as ciências terem perdido peso porque não eram alvo de exame nacional, o ex-ministro refere que "é possível dar atenção às ciências e à matemática". "Não sei se foi isso que aconteceu, mas na medida em que se possa ter passado o que é importante é que se perceba que não é algo inevitável. O que devíamos fazer é dar importância a todas as disciplinas e ao estudo das ciências", defende.

Também o presidente do instituto que aplica estas avaliações internacionais em Portugal, Helder Sousa, explica que ainda é prematuro avançar com causas para a quebra. "Qualquer leitura é naturalmente é provisória e sempre superficial, temos um conjunto de questionários aos alunos, professores, pais e diretores e é preciso olhar para eles para perceber o que aconteceu com maior clareza." O responsável desvaloriza ainda o recuo de lugares - "a queda de 14 pontos não é particularmente significativa num estudo desta natureza, em que estamos a falar de uma escala de 0 a 1000". Ainda assim, acredita que estes resultados mostram que "é preciso investir mais nas ciências, não só numa perspetiva conservadora do ensino transmitindo conhecimentos dos professores aos alunos, mas pôr os alunos a ver ciência e a questionar o que estão a ver". Considerando que "o salto qualitativo que precisamos de dar é transmitir a capacidade de pensar e encontrar respostas para os problemas".

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