Escola pública de Barcelos líder na evolução dos alunos

Secundário. Básica e Secundária de Vila Cova teve desempenho 21,8% acima dos seus pares. Colégio do Rosário, no Porto, foi o melhor privado, numa lista com maior equilíbrio
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Em qualquer outro ano - numa já longa tradição de rankings das escolas - o desempenho da Escola Básica e Secundária de Vila Cova, Barcelos, teria passado despercebido. Apesar dos progressos assinaláveis feitos nos últimos anos, em particular no Português e na Matemática do secundário, o 80.º lugar nos rankings gerais, com uma média de 13,35 valores, seria apenas uma boa classificação, longe do destaque garantido pelos lugares do top 10, habitualmente ocupados por colégios privados.

Mas este ano há um novo indicador, chamado "percursos diretos de sucesso", que mede não os resultados finais mas a evolução que as escolas conseguiram que os seus alunos tivessem. E, neste, esta escola pública rural, onde cerca de dois terços dos alunos são pobres, beneficiando de apoios da Ação Social Escolar, é a melhor do país.

O novo ranking -baseado em dados que o Ministério já recolhia há algum tempo no 2.º e 3.º ciclo mas começou a divulgar apenas este ano, alargando-os também ao secundário - vem responder a uma lacuna, para muitos uma injustiça, que existe desde que se publicam estas listagens: os exames, sozinhos, não permitem distinguir com certezas o mérito ou demérito do que resulta simplesmente de contextos privilegiados ou desfavorecidos.

O que é este indicador?

O novo critério, agora aplicado pela primeira vez a rankings de escolas, é bastante mais complexo do que uma listagem feita com base nos exames. Em primeiro lugar, porque combina aspetos da avaliação interna com a externa: o que define o "percurso de sucesso" de uma escola é a percentagem de alunos que conseguiram, cumulativamente, fazer o secundário sem retenções e ter classificações positivas nos exames nacionais do secundário que realizaram.

Depois, porque - de forma a medir a evolução - apenas são comparados percursos de alunos com um ponto de partida semelhante. Ou seja: que estavam em igualdade de circunstâncias, em termos de desempenho - o ponto de partida são as notas das provas do 9.º ano, no caso dos indicadores do secundário - e de enquadramento socioeconómico.

Assim se explica que a Escola de Vila Cova, apesar de ainda estar nos 53,6% de percursos de sucesso, seja a melhor da lista. Comparada com as que lhe são equivalentes, teve um desempenho 21,8% acima da média. E essa é uma diferença que mais nenhuma escola, pública ou privada, conseguiu registar.

"Este indicador introduz justiça e complementaridade", defendeu aos jornalistas o secretário de Estado da Educação, João Costa, em novembro, na apresentação da ferramenta, que passou a estar acessível a todos os cidadãos a partir do portal Infoescolas. E ao gerarem-se listas de escolas com base nestes dados, acrescentou, "a mancha é completamente diferente e muito mais variada" do que acontece quando se faz um ranking baseado apenas nos resultados dos exames.

Outra vantagem, defendeu então o governante, é a eliminação do risco de manobras menos claras por parte de algumas escolas: "Este indicador não premeia a retenção e ao mesmo tempo não premeia a seleção de alunos, porque estamos a comparar alunos comparáveis", disse João Costa, para o qual os resultados dizem mais sobre a qualidade de ensino de determinado estabelecimento do que uma simples lista elaborada com base nos resultados dos exames: "Uma escola que recebe alunos de nível dez e os leva a 17 é uma escola muito melhor do que uma que recebe alunos de 15 e os leva a 17", ilustrou.

À primeira vista esta elaborada fórmula, bem com as justificações para a sua existência, poderão parecer apenas uma forma de tentar valorizar as escolas públicas, face à hegemonia cada vez mais acentuada dos colégios privados nos rankings baseados nos exames nacionais do secundário e nas provas finais do ensino básico.

Não há dúvidas de que o novo ranking apresenta as escolas públicas por um novo prisma, muito mais favorável. Para atestar esse facto, basta recordar que existem mais de duas dezenas de escolas estatais nas 50 melhores do ranking de sucesso do secundário, por oposição às três que figuram no ranking tradicional.

Privadas também dominam

Mas desvalorizar o indicador seria injusto, desde logo, para o setor particular e cooperativo, o qual - apesar do maior equilíbrio - continua a dominar nestas listagens. Em certa medida, os "percursos de sucesso" até vêm atestar que as escolas privadas não têm sucesso apenas por receberem alunos de meios mais favorecidos. Muitas delas também conseguem fazer evoluir significativamente a "matéria-prima" que recebem.

Com um desempenho superior aos seus pares em 19,6%, o Colégio Nossa Senhora do Rosário, do Porto - segundo da tabela -, prova ser capaz de transformar bons alunos em alunos excecionais. E essa é uma informação que não deixará de interessar a muitos pais.

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