"Nunca me passou pela cabeça ser bispo, muito menos de Fátima"
O seu nome de família é Marto, uma coincidência muito feliz ...
É uma coincidência curiosa. O meu pai chamava-se Serafim Augusto Marto e era de Vimioso, da aldeia de Santulhão. É a única família que conheço no Norte com este apelido. Perguntam se tenho algum parentesco com os pastorinhos, mas que saiba não. Quando foi da minha nomeação para bispo de Fátima, alguém intitulou: "Nossa Senhora foi buscar o quarto pastorinho."
Gostou do título?
Gostei, é um humor saudável. O humor é o sorriso do amor. Li isto uma vez e concordo. É de quem diz as coisas a rir mesmo as sérias.
Com esse nome, imaginou logo que poderia ser bispo de Fátima?
Nunca me passou pela cabeça ser bispo, muito menos de Fátima. Comecei como bispo auxiliar de Braga, morreu o bispo de Viseu e fui nomeado para lá, pensei que por ali ficaria. Passado um ano e meio já me estavam a bater à porta para vir.
Imagina porquê?
Talvez por ter escrito o artigo sobre Fátima, "Fátima e a modernidade, Profecia e Escatologia"...
Onde confessa que era cético em relação às aparições, artigo que mais tarde deu origem a um livro?
Exatamente. Havia um padre húngaro, já morreu, que era o da causa dos pastorinhos. Leu esse artigo, contou-me, e fez as diligências quer na Nunciatura quer no Vaticano para que eu viesse para Fátima. Eu não sabia nada disso.
Já se tinha convertido.
Sim, convertido entre aspas. Percebi depois o seu significado com a devoção dos crentes e aprofundei a mensagem de Fátima.
Se não acreditasse nos pastorinhos não viria para cá. Conhece algum bispo que não acredite?
Não conheço. Não viria para cá? Não sei, nunca se sabe.
Porquê a ordenação em Roma?
Houve um quiproquó com o bispo daqui, um equívoco de datas. Falámos numa data em setembro e o bispo pôs na agenda fins de setembro/outubro, só que eu tinha de estar em Roma para continuar os estudos. O bispo foi para a Alemanha, naquela altura não havia telemóveis, ninguém o localizava, e acabei por me ordenar lá.
Estamos a pouco mais de um mês da visita do Papa, está nervoso?
Não. Quando fiz o convite, a 25 de abril de 2015, ele deu-me a segurança de que viria a Fátima, com uma única condição: desde que tivesse saúde. Nunca pus em causa isso. Já preparámos a visita há muito tempo, está muita gente no santuário a trabalhar, um bispo não pode fazer tudo sozinho. Temos várias equipas: na logística, no protocolo, na preparação das celebrações, pelo menos estas três. Quanto à questão da segurança, é garantida pelo Estado e pelo Vaticano, que andam a trabalhar nisto há um ano. Está a correr dentro das perspetivas.
Quantos funcionários são?
Temos as equipas, os executores, o santuário tem 300 funcionários.
Ainda terá de ir a Roma?
Não, há uma comissão do Vaticano, coordenada por monsenhor Maurício Rueda, que tem vindo cá.
Como será nos dias 12 e 13 de maio?
O Papa estará na Procissão das Velas, preside à recitação do terço, retira-se entre as 22.15 e 22.30. Faz uma alocação e retira-se. Depois, ainda há missa à noite, que é presidida pelo cardeal secretário de Estado, o cardeal Parolin,
Este será o momento alto do seu episcopado?
É um dos momentos importantes enquanto bispo de Fátima, sinto como uma graça receber dois papas, de quem gosto muito.