Fazer o "humanamente possível" para evitar novas tragédias
PM dedicou boa parte do discurso aos fogos, assumindo a tragédia mas elogiando a reação coletiva. Não esqueceu conquistas do ano
Os incêndios de junho e outubro - nos quais perderam a vida mais de cem portugueses - foram o tema dominante na mensagem de Natal do primeiro-ministro, António Costa. Numa mensagem transmitida na RTP1 e RDP, o chefe do governo assumiu que o ano que está prestes a terminar fica "dramaticamente marcado" pela tragédia. Mas enalteceu também a "coragem, altruísmo e entreajuda" de todos os que participaram no combate aos incêndios e nos esforços de auxílio às populações e de reconstrução que se lhes seguiram, deixando o compromisso de fazer o "humanamente possível" para evitar que os acontecimentos que chocaram o país se voltem a repetir.
"Não esqueceremos nunca a dor e o sofrimento das pessoas, nem o nível de destruição desta catástrofe", garantiu. "Foi uma tragédia para as famílias que perderam os seus familiares e os seus bens. Foi uma tragédia para as populações e as terras fustigadas pelo fogo. Foi uma tragédia para todo o País. Foi um momento de luto nacional, que sofremos coletivamente".
A também coletiva decisão de "não desistir, de não abandonar, de reconstruir o que foi destruído, de fazer renascer o que foi devastado" foi, para António Costa, o lado positivo da tragédia. Um lado que frisou ter testemunhado na primeira pessoa, nas "muitas visitas de trabalho" aos concelhos atingidos.
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"Não esqueço as pessoas que em Vila Facaia reencontraram um lar nas suas casas já totalmente reconstruídas, ou em São Joaninho, os voluntários que reconstroem as habitações dos que ainda aguardam regressar às suas casas. Ou em Oliveira de Frades, as empresas de madeira que, dias depois do incêndio, voltaram a laborar em instalações cedidas por outras empresas. Ou em Castanheira de Pera, os proprietários da serração destruída que tudo fizeram para continuar a pagar os salários aos seus trabalhadores", enumerou, prosseguindo com referências aos "pequenos agricultores que lutam para alimentar os animais cujas pastagens arderam", em Vila Nova de Poiares e Góis, "ou a Pampilhosa da Serra onde a celebração do Natal inspira este tempo de renascer".
Finalmente veio o reconhecimento do que está ainda por fazer, acompanhado da promessa...possível: "Reafirmo, perante os portugueses, o compromisso de acompanhar este esforço, o compromisso de fazer tudo o que tem de ser feito para prevenir e evitar, naquilo que é humanamente possível, tragédias como a que vivemos", assegurou.
Costa admitiu que esse desígnio passa por "melhorar a prevenção, o alerta, o socorro, a capacidade de combater as chamas". Porém, defendeu que a meta só será alcançável "concentrando-nos com persistência no que exige tempo, mas que é o mais decisivo e estrutural: a revitalização do interior e o reordenamento da floresta".
Prioridade "ao emprego"
A celebração dos resultados da governação ficou prudentemente para segundo plano no discurso. Mas não foi esquecida: "A verdade é que este ano vamos ter o maior crescimento económico desde o início do século, as empresas já criaram 242 mil novos postos de trabalho, a pobreza e a desigualdade diminuíram e o país cumpriu as metas orçamentais, registando o défice mais baixo da nossa democracia, assegurando a saída do Procedimento por Défices Excessivos", contabilizou.
Graças a estes resultados, considerou, é agora possível libertar recursos para "investir responsavelmente na melhoria do nosso sistema de ensino, do Serviço Nacional de Saúde, na modernização do país", sendo que "a descida das taxas de juro" é para Costa a prova do "caminho sólido e sustentável" que o País está a percorrer.
"Libertámo-nos da austeridade e conquistámos a credibilidade", sustentou. "Chegou o tempo de vencer os bloqueios ao nosso desenvolvimento", considerou, apontando o novo grande objetivo do governo: "O emprego está no centro da nossa capacidade de conquistar o futuro. Não apenas mais, mas melhor emprego. Essa é a prioridade que definimos para o ano de 2018".
Na mensagem de Natal do ano passado, recorde-se, António Costa tinha identificado a Educação como a principal prioridade para 2017, apontando como exemplos das medidas da tutela nessa área a generalização da cobertura da oferta gratuita de pré-escolar aos três anos de idade e a formação de adultos.