Costa acredita que acordo com enfermeiros está "próximo"

Esquerda e direita criticaram o secretário de Estado da Saúde por dizer que é um "tormento" governar com esta contestação
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O primeiro-ministro acredita que está para breve um acordo com o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), que tinha anunciado esta semana uma greve para os dias três, quatro e cinco de outubro. "O SEP é o único que tem postura dialogante. Tenho otimismo de que seja possível (um acordo). A indicação que tenho por parte do ministro da Saúde é que estamos muito próximo de chegar a acordo", revelou António Costa em entrevista à TSF, que vai para o ar esta manhã.

O primeiro-ministro mostrou-se, no entanto, menos otimista em relação às outras estruturas sindicais que também ameaçam com greve em outubro. "Quando nos vêm propor um aumento salarial de 400 euros, nunca assumimos esse compromisso", sublinha, referindo-se à reivindicação do Sindicato dos Enfermeiros e do Sindicato Independente dos Profissionais de Enfermagem. "Com toda a franqueza tenho dificuldade em compreender a virulência deste protesto tendo em conta o quadro de negociação que está previsto", assinalou António Costa.

O SEP apoiado pelo Sindicato dos Enfermeiros da Região Autónoma da Madeira, reclama a revisão da carreira até ao final do primeiro semestre de 2018, a reposição das horas de qualidade (horas de trabalho feitas aos fins de semana, feriados e à noite) a partir de janeiro e a extensão das 35 horas semanais de trabalho a todos os enfermeiros antes de julho.

Outra contestação no setor é a protagonizada pelos enfermeiros especialistas em saúde materna, que retomaram a 24 de agosto um protesto de zelo contra a falta de pagamento da sua especialidade. Os enfermeiros não aceitam o subsídio transitório proposto pelo Governo, que representa um gasto anual de 14,4 milhões de euros.

Os médicos também podem juntar-se à onda de contestação. Esta quarta-feira, a Federação nacional dos Médicos divulgou um pré-aviso para um conjunto de greves rotativas a partir de 11 de outubro, de norte a sul do país, que culminará com uma paralisação total a oito de novembro.

O "tormento" do governo
Perante toda a crispação no setor e a miríade de reivindicações, o secretário de Estado do Saúde, Manuel Delgado, confessou sentir que "é um tormento governar nestas circunstâncias", quando o governo "não tem condições para responder a todas as reivindicações" que os profissionais apresentam, decorrendo daí a "dificuldade em chegar a acordos".

As declarações foram criticadas à esquerda e à direita e consideradas desadequadas por ex-ministros. Leal da Costa, que sucedeu a Paulo Macedo no governo PSD e viveu a pressão da troika, considera que "tormento deve ter sido força de expressão. Governar pode ser difícil, mas nunca tormentoso. Quereria dizer, possivelmente difícil ou complicado. Ninguém vai para o governo para ter facilidades", disse ao DN. O comentário do ex-ministro Correia de Campos limitou-se a uma frase: "Estive três anos como ministro e nesses três anos envelheci 10". A deputada do PS para a área da Saúde, Maria Antónia Almeida Santos, considerou a declaração "infeliz", mas que revelou mais um "estado de alma". "Julgo que queria partilhar a sua angústia por, nesta fase das negociações, não pode dar tudo a todos", afiançou ao DN.

Também o BE, PSD e CDS criticaram o secretário de Estado. "São declarações infelizes e manifestamente desadequadas de quem deve estar é a negociar para cumprir promessas básicas que são até do programa do Governo", afirmou Catarina Martins. "Vejo essa declaração como um assombro de verdade" e o "reconhecimento da falência de um modelo alternativo" de governação na área da saúde, disse à Lusa o deputado social-democrata Miguel Santos. Para Assunção Cristas o "tormento" existe, de facto, "mas o tormento dos utentes, dos doentes e dos profissionais dedicados que esperam e desesperam pelo cumprimento de expectativas pelo governo".

(Corrigida às 9:25: Primeiro-ministro disse "virulência" e não, como constava da versão inicial do texto, "violência")

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