"Estamos a fazer tudo para fazer um banco de capitais portugueses"
Na tomada de posse na Câmara de Comércio e Indústria, Bruno Bobone e Paulo Portas defenderam importância da internacionalização
Ajudar as empresas a exportar e internacionalizar-se, descobrir novos mercados e assegurar que têm todas as condições para crescer e trazer crescimento ao país. É esta a missão que Bruno Bobone e Paulo Portas apresentam como prioritária, no novo mandato à frente da Câmara de Comércio e Indústria de Portugal (CCPI).
A missão passa também pela certeza de que o setor financeiro está sincronizado com as ambições das empresas e do país. E para isso há que assegurar que há instituições financeiras de capitais portugueses.
"O que fizemos foi o que a CCIP tem por obrigação fazer. Foi levantada uma questão em Portugal sobre a inexistência no futuro de bancos de capital português, que nós também achamos que é uma limitação ao desenvolvimento das nossas empresas e quando se começou a discutir este tema a CCIP achou que era o local adequado para juntar os empresários portugueses e desafiá-los a encontrar uma solução que permitisse ultrapassar essa questão", explicou o presidente da instituição, Bruno Bobone. "Ainda não tivemos resultados, não é um tema com simplicidade que permita ser resolvido em tão pouco tempo, mas estamos a desenvolver contactos para começar a conseguir lançar o desafio aos empresários", acrescentou.
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Ainda assim, Bruno Bobone acredita que "não compete à CCIP liderar o banco ou tomar a decisão de o fazer ou de comprar posição em bancos". O que se propõe é "fazer tudo para juntar os empresários portugueses à volta do projeto e para que saia daqui uma solução possível que dê cobertura ao que consideramos fundamental, que é ter em Portugal um banco de capitais portugueses." E há essa capacidade de investimento em Portugal? "Tenho dificuldade em perceber como é que alguém contou o capital português para ver se ele existe. Eu tenho consciência que há", concluiu o presidente da CCIP, assumindo-se otimista quanto à possibilidade de os empresários portugueses se juntarem para criar um banco ou comprarem uma participação numa instituição financeira. "Um empresário é sempre otimista."
O novo vice-presidente da Câmara de Comércio preferiu não comentar a questão da banca, mas antes focar-se na coerência do trabalho que desenvolverá nas novas funções. "É um trabalho bastante coerente e que aproveita no melhor sentido a minha experiência relativamente àquilo que tive de fazer quando fui chamado a responsabilidades de governação", disse Paulo Portas, na cerimónia de tomada de posse da direção da CCIP para o triénio 2016-2018. "Era essencial, num momento muito difícil para Portugal, dar prioridade grande à diplomacia económica, fazer tudo o que estivesse ao nosso alcance para apoiar as exportações e, sabendo que estas são muitas vezes o primeiro passo para a internacionalização das empresas, perceber que um país em economia global vence se vencer internacionalmente." E esse trabalho de apostar na diplomacia económica, de ajudar as empresas no sentido de "exportarem mais, para novos mercados, para diversificarem mercados e produtos e se internacionalizarem e perceberem que essas são bandeiras de Portugal no mundo" tem uma continuidade natural no setor privado, defendeu Paulo Portas.
Realçando a antiguidade da CCIP - "dois terços dos países do mundo não têm os 180 anos que tem esta câmara de comércio" - e a sua abrangência, já que ali estão inscritas mais de 40 câmaras de comércio bilaterais (de Portugal com outros países), Portas disse-se especialmente empenhado no crescimento do país, considerando "absolutamente natural" a transferência das suas funções governativas para o seu novo papel no setor privado. "No governo, com determinadas responsabilidades, no privado a ajudar as empresas portuguesas a exportarem mais, a termos mais empresas exportadoras, a exportarem para mais do que um mercado, descobrirem novos mercados e internacionalizarem-se."
"Trabalhamos com qualquer governo"
Questionados sobre como a conjuntura política atual influencia o trabalho da CCIP, Bruno Bobone e Paulo Portas falam a uma só voz: a Câmara de Comércio e Indústria de Portugal lida com todas as instituições e governos da mesma forma. "Somos pragmáticos nas questões políticas: trabalhamos com qualquer governo, com todas as instituições e nunca tivemos dificuldade em trabalhar com qualquer governo ou linha política do país", sublinhou o presidente da CCIP. Portas foi, porém, um pouco mais longe: "No fim do dia, são as empresas que exportam, que vendem, que crescem e criam emprego", pelo que o papel do governo, seja ele qual for, é "perceber a importância desse facto essencial e não obstaculizar o trabalho do setor privado".
Para Bruno Bobone, a mais-valia de contar com o ex-vice-primeiro-ministro é clara. "Depois de todo o tempo dedicado ao trabalho público em Portugal, ele tem as melhores condições e as maiores capacidades para ajudar a sociedade civil a continuar esse trabalho, tem relações e conhecimentos enormes na área da internacionalização e diplomacia económica, mas sobretudo tem grande experiência de estratégia de governação e de apoiar tudo o que é importante para Portugal."
Quanto ao triénio que a vem, Bobone diz que vai ser "de grande trabalho" e contribuição para o desenvolvimento da economia, depois de um primeiro trimestre de 2016 com as coisas "a correr muito bem". "As empresas estão lançadas para o mercado internacional", diz, e apesar de haver mercados que diminuíram por razões políticas ou económicas desses países, "estamos a fazer esforços muito grandes para criar novos mercados alternativos. As empresas portuguesas estão cheias de força para conseguir um crescimento internacional. "