"Bandeira azul" das escolas arranca com 800 candidaturas
As candidaturas terminaram na passada sexta-feira e ainda não há números fechados mas, de acordo com os organizadores da iniciativa Escola Amiga das Crianças, foram pelo menos 800 as inscrições registadas. Uma adesão "muito acima das expectativas para uma primeira edição", diz ao DN o psicólogo Eduardo Sá, mentor do projeto que pretende criar uma "bandeira azul" da educação, destinada a escolas públicas e privadas, valorizando aspetos que vão desde a qualidade das infraestruturas disponibilizadas aos alunos à inovação dos projetos.
A ideia, explica Eduardo Sá, é criar um "selo de qualidade" que possa de alguma forma complementar e até contrariar os rankings elaborados com base nos exames nacionais, que considera "interessantes e úteis" mas também "de certa forma subvertidos e tornados num instrumento ao serviço do marketing, da publicidade e às vezes de batotices inacreditáveis".
"É importante que os alunos possam ter boas notas - ninguém espera o contrário", ressalva. "Mas às vezes a leitura que se faz da escola resume-se a isso e não a outras coisas que são importantes na formação do aluno. A escola está a andar muito depressa mas talvez ainda veja os alunos com uma lógica de funcionamento do século XIX quando já estamos no XXI", considera.
Entre as coisas que "não costumam fazer parte da equação" estão as infraestruturas que contribuem para o desenvolvimento integral dos estudantes e não apenas para o seu desempenho académico. Por exemplo, os recreios. "Se formos ver, os recreios cobertos nem sequer existem em muitas escolas", ilustra. "Às vezes parece que brincar é uma atividade de primavera--verão, quando devia ser de todo o ano", lamenta. Mas há muitos outros aspetos que se pretende "trazer à equação", desde "a qualidade da alimentação" aos próprios "projetos educativos".
Fomentar o "ciúme saudável"
O principal objetivo da iniciativa, esclarece, não é premiar "ideias extraordinárias" e sim destacar boas práticas que possam ser imitadas por todas as escolas e, em certos casos, incentivar os decisores políticos a investirem no que até agora é deixado para segundo plano. "As coisas simples é que fazem ideias extraordinárias", defende. "Tenho muita esperança de que em setembro, quando forem distribuídos os selos, comece a haver uma espécie de ciúme saudável, de forma a que aquilo que parecia mais uma ideia na educação se possa banalizar".
A apresentação desta ideia à Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), explica Eduardo Sá, nasce da convicção de que as estruturas que representam os encarregados de educação "podem ser um parceiro fundamental para mudar a escola de dentro para fora, uma entidade reguladora informal". Já o selo de qualidade é inspirado por iniciativas bem-sucedidas do género, "como as maternidades amigas da criança e a bandeira azul, nas praias".
Para Jorge Ascenção, presidente da Confap, a associação ao conceito da bandeira azul não é apenas um exemplo. "Estamos mesmo a pensar se será possível lançar uma bandeira que possa estar hasteada na própria escola", conta. "Queremos combater a ideia de que só as escolas que têm bons resultados são boas. Há muitas escolas que têm boas condições, bons professores, desenvolvem um excelente trabalho mas que depois, por diversas situações, não conseguem ter o mesmo destaque nos rankings."
O selo e a eventual bandeira, defende, permitirão "levantar um pouco a autoestima e o próprio querer das escolas. Às vezes existe alguma passividade, diz-se que isso não é possível. E o objetivo é também mostrar que é possível lançar e concretizar boas ideias".
A adesão a uma iniciativa que não foi muito publicitada mas "talvez já ultrapasse as quinhentas candidaturas" é, para Jorge Ascenção, um sinal de que este é um reconhecimento que muitos procuram: "Temos candidaturas de direções de escolas, de professores, de associações de pais. Toda a comunidade educativa tem participado", descreve.
Além dos selos, a comissão que está a avaliar as candidaturas (composta por Jorge Ascenção, Eduardo Sá, um representante da Leya Educação e mais elementos a designar) vai escolher um projeto vencedor, que terá direito a livros no valor de cinco mil euros oferecidos pela Leya Educação. O objetivo é, no futuro, envolver novos patrocinadores que possam também apoiar melhorias nas escolas selecionadas.