Azeredo Lopes volta a descer no barómetro da opinião pública militar
A entrevista do ministro da Defesa ao DN criou-lhe mais uns quantos anticorpos entre o universo militar, desde logo por aparentar desconhecimento sobre o tipo de relação funcional com as chefias militares. Uma das principais críticas decorre da sua admissão - que dá título à entrevista de Azeredo Lopes ao DN e à TSF e que foi divulgada no domingo - de que poderá não ter havido furto de material de guerra nos paióis de Tancos.
"O ministro levantou todas as hipóteses do que poderia ter acontecido. Como bom académico, levanta e depois vai confirmar... só que Azeredo Lopes é ministro, pelo que deveria colocar para ele o que são hipóteses teóricas que não deveria dizer", comenta ao DN o coronel na reserva Nuno Pereira da Silva.
"É esse tato político que ele não tem. Como ministro, tem de procurar saber o que se passou, responsabilizar quem de direito e agir para que a situação não volte a repetir-se", sublinha aquele oficial superior do Exército - acrescentando, com base nos comentários lidos nas redes sociais, que a generalidade dos militares considera que "o ministro ainda não percebeu a instituição que lidera e dificilmente, com entrevistas destas, alguma vez conseguirá perceber".
Nuno Pereira da Silva admite, contudo, que o ministro Azeredo Lopes "não levantava esta lebre se não tivesse alguma informação ou algo de concreto... diz que é por absurdo, mas levantou essa hipótese".
Miguel Machado, tenente-coronel paraquedista na reforma e autor da página online Operacional, aborda a questão da confiança expressa por Azeredo Lopes "no chefe do Estado-Maior do Exército e não nos restantes militares porque não é um "superchefe de Estado-Maior do Exército"".
Por um lado, "o ministro dá ordens ao chefe do Estado-Maior do Exército [CEME] e isso não é um simples dever de tutela, como Azeredo Lopes diz... imagino que ele desconheça o que seja esse dever", sublinha Miguel Machado. Outras fontes militares, sob anonimato para falarem sem reservas, lembram que o ministro fez questão de agradecer aos entrevistadores uma pergunta que lhe permitia explicar, "para as pessoas perceberem", que a sua relação com as chefias "é de tutela" e não de direção - que é precisamente o que decorre da Constituição: "Compete ao governo [...] dirigir os serviços e a atividade da administração direta do Estado, civil e militar."
Para Miguel Machado, o titular da pasta da Defesa "tem de demonstrar confiança em todos e em cada um dos militares e em especial no corpo de oficiais generais, aqueles que estão em cargos de chefia e que executam a política de defesa" definida pelo governante.
"Um general comandante da Logística, do Pessoal ou Operacional tem um papel importantíssimo na execução da política de defesa, em alguns casos até mais do que o CEME, porque são eles que diretamente comandam grande parte da estrutura do Exército", lembrou Miguel Machado.
Um oficial general, na reforma, lamenta ainda que Azeredo Lopes tenha abordado os assuntos "só parcialmente". Exemplos? O ministro dizer que o Instituto de Ação Social das Forças Armadas (IASFA) não irá para a Segurança Social "mas não acrescentar como se resolve o problema" desse organismo. Ou, sobre o furto em Tancos, admitir que possa não ter existido.
Mesmo dizendo-o "por absurdo", argumentou esta fonte, Azeredo Lopes "teria de complementar" essa hipótese com o querer saber "onde é que está o material, quando é que houve desaparecimento ou se houve erro de contagem e o que tenciona fazer quanto a isso".