Ana Gomes e João Soares aumentam pressão sobre chefe das secretas
Ana Gomes e João Soares aumentaram ontem a pressão sobre a escolha de Júlio Pereira Gomes para secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa, ao defenderem a audição de outras testemunhas sobre o ocorrido em Timor-Leste em 1999.
"Estou ao dispor para ser ouvida no Parlamento, a quem cabe decidir se audições devem ser abertas. Mas, como está a polémica, já não se trata apenas de perceber o que foi o papel do embaixador [Pereira Gomes] mas de esclarecer um período complicado da nossa história", disse a eurodeputada ao DN.
João Soares adiantou que "há um conjunto de fontes importantes que têm de ser ouvidas", após escrever nas redes sociais que o embaixador Pereira Gomes "deveria renunciar já à possibilidade de vir a ocupar tal cargo [e] facilitando ao primeiro-ministro a tarefa de escolha de alguém para exercer aquelas funções". "Para se ser secretário-geral do SIRP é preciso, no mínimo, ter um perfil de coragem", que no caso do diplomata tem sido posta em causa face ao ocorrido após o referendo à independência em Timor.
A escolha de Júlio Pereira Gomes para chefe dos serviços de informações suscitou reservas a Ana Gomes, embaixadora de Portugal em Jacarta e quando o diplomata chefiava a missão portuguesa de observadores em Díli. Seguiram-se testemunhos de jornalistas presentes no local, coincidentes com o relato da eurodeputada e invocando documentos da época, dizendo que o embaixador não resistiu à pressão das milícias pró-indonésias e forçou Lisboa - que era contra - a mandar retirar os portugueses.
"A missão de Portugal evacuou dia 10" e com "o pessoal não essencial da UNAMET, quando a missão do Conselho de Segurança [CS] já estava em Jacarta comigo e que no dia 11 foi recebida em Díli por Ian Martin e oito dezenas de elementos da ONU - mas já não havia representação portuguesa", lembrou Ana Gomes, para quem o fundamental da presença dos portugueses "era o day after. E para a comunidade internacional ver o que se passava era fundamental o dia seguinte, aguentar o mais possível e com o CS a caminho".
Note-se que Pereira Gomes reafirmou há dias, ao Observador, que a decisão de sair coube ao governo e após ouvir "individualmente ao telefone" os envolvidos. E rejeitou retirar o seu nome: "Ponderei longamente antes de aceitar e não me candidatei ao lugar."
João Soares, deputado da Comissão de Defesa que vai participar na audição conjunta de Pereira Gomes com a Comissão de Assuntos Constitucionais em data a agendar, indicou como potenciais testemunhas os diplomatas que acompanhavam Pereira Gomes em Díli - António Gamito e Francisco Alegre, "o que quis ficar e não era suicida" -, jornalistas e agentes da PSP.
Com a comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais à espera de que o Ministério dos Negócios Estrangeiros envie a documentação pedida para preparar a audição de Pereira Gomes, o ministro da tutela reafirmou que o nome continua a ser "uma muito boa escolha" para chefiar os serviços de informações. Augusto Santos Silva, citado pela Lusa, disse estar-se "a proceder à pesquisa sobre os documentos para serem entregues à Assembleia da República", onde confia que "todos os esclarecimentos serão dados". "É uma boa prática que as audições parlamentares não sejam um proforma e se houver alguma dúvida ela seja esclarecida", enfatizou, dizendo "ter conhecimento dos factos que ocorreram em 1999 em Timor-Leste numa circunstância muito difícil".
Os partidos continuam expectantes e fazem depender o pedido de novas audições do que for dito pelo embaixador. "A audição é o momento central e chave face às acusações feitas, que são de uma enorme gravidade", afirmou Telmo Correia (CDS).
Com o PCP a manter que "qualquer posição" só "a partir da audição", o BE também aguarda por isso e pelos documentos. Posição idêntica tem o PSD, apesar de manter o aval dado ao nome de Pereira Gomes. Com VM