Agência europeia quer prolongar missão no Mediterrâneo

Operação ÍNDALO, sob autoridade da Guardia Civil e coordenada pela Frontex, pode ser prolongada no tempo e área abrangida.
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Um minuto, "dois no máximo", é o que a tripulação do C-295 da Força Aérea tem para investigar e catalogar cada um dos "300 a 500 alvos" detetados nos voos sobre o Mediterrâneo ocidental, conta o major Veloso Rocha. E essas missões da Operação ÍNDALO são tão importantes que a Agência Frontex está a negociar o alargamento da sua área geográfica e duração com Madrid.

Essa operação de apoio à Guardia Civil espanhola tem natureza sazonal (de maio a outubro) e tornou-se "a operação mais importante" da UE em matéria de combate à droga e poluição marítima, explica a inspetora Ana Jorge, chefe da Unidade de Operações Conjuntas (sedeada em Varsóvia) da Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira (Frontex).

Só em estupefacientes foram já apanhadas cerca de 60 toneladas este ano. Depois, o facto de haver em 2017 "um aumento considerável do número de migrantes a atravessar" o Mediterrâneo "para as costas de Espanha" - mais de 10 mil quando comparados com os mais de quatro mil em 2016 - justificam a "negociação com Espanha" para "prever o alargamento da operação em área geográfica e no tempo", adianta Ana Jorge, inspetora do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) há cinco anos na Polónia.

Esse acordo, a concretizar-se, poderá implicar uma alteração no planeamento das missões da Força Aérea nas operações da também chamada Agência Europeia de Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras Externas dos Estados Membros da União Europeia, admitem fontes do ramo ao DN.

Estando prevista uma nova missão com um C-295 da Força Aérea ao serviço da Frontex, agora para apoio às autoridades policiais de Itália - a Operação TRITON - a partir do dia 1 de novembro, o prolongar da Operação ÍNDALO poderá levar à continuação da presença militar portuguesa com aquela aeronave na ajuda à Guardia Civil de Espanha, explica uma das fontes.

Contudo, para já "não há qualquer pedido para prolongar" a presença na base aérea de Málaga, a partir da qual são organizadas as missões para uma área de operações dividida em cinco zonas contíguas frente às costas de Marrocos e da Argélia (ver infografia).

Até à passada sexta-feira, o destacamento da Força Aérea que Marcelo Rebelo de Sousa visitou no passado dia 18 de setembro na companhia do chefe de Estado-Maior do ramo, general Manuel Rolo, realizou 300 horas de voo desde maio, informou fonte oficial da Força Aérea ao DN.

Note-se que o Presidente da República qualificou as operações coordenadas pela Agência Frontex, onde Portugal participa "desde a primeira hora", como "um dos grandes sucessos europeus" e na fronteira sul do Velho Continente.

Com uma tripulação de 15 elementos e núcleos de comunicações, intelligence e manutenção, a aeronave de vigilância marítima (VIMAR) detetou 13 079 alvos no mesmo período de tempo, dos quais 148 foram considerados "alvos de interesse" para as autoridades investigarem com detalhe.

O C-295 VIMAR da Força Aérea, além dos sistemas de comunicações, está equipado com sensores de reconhecimento e vigilância "essenciais ao apoio, deteção [até centenas de quilómetros], classificação e avaliação de alvos em ambiente marítimo". Tem ainda um radar com capacidade para detetar alvos de pequena dimensão no mar e um sistema eletro-ótico, com iluminador laser, para captar imagens de alta definição em infravermelhos e filmar mesmo com baixas condições de visibilidade, entre outras características.

Com capacidade para abranger 70 mil milhas náuticas por hora, o C-295 - como o P-3C, um dos quais integra a Operação SOPHIA em novembro - está a ser usado no combate à criminalidade transnacional, aos fluxos de migração ilegal, ao tráfico de droga, contrabando de tabaco, pesca ilegal ou, ainda, em missões de busca e salvamento.

Tendo feito mais de 730 missões para a Frontex desde 2011, a Força Aérea já patrulhou uma área equivalente a cinco vezes o espaço europeu - 37,4 milhões de quilómetros quadrados - e percorreu uma distância correspondente a quase 98 voltas ao mundo pelo equador (12,4 milhões de quilómetros).

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