Utentes de Sintra e Amadora são os que mais pedem consultas noutro hospital
São os utentes dos agrupamentos de centros de saúde de Sintra e da Amadora os que mais escolhem ter uma primeira consulta da especialidade num hospital diferente do da sua área de residência. De acordo com dados da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), entre 1 de junho de 2016 e 31 de julho deste ano, foram já 211 739 os utentes que, a nível nacional, optaram pela liberdade de escolha dentro do SNS, o que equivale a 10,4% do total de utentes referenciados para uma primeira consulta hospitalar a partir dos centros de saúde.
Os grandes centros hospitalares - Lisboa Central, Lisboa Norte, São João, Porto e Lisboa Ocidental - têm estado sempre no topo das escolhas. É para consultas de oftalmologia, dermatologia-venereologia, ortopedia, otorrinolaringologia e ginecologia que mais se procura um hospital diferente. Por norma, especialidades com mais tempos de espera.
Ainda segundo a ACSS, que estima que mais de 250 mil utentes possam optar pela livre escolha até ao final do ano, no top 5 dos agrupamentos de centros de saúde (ACES) que mais encaminham para outros hospitais estão os ACES de Sintra (31,1%), Amadora (28,8%), Oeste--Sul (24,3%), Grande Porto II - Gondomar (20,5%) e Loures - Odivelas (17,4%).
Maria João Barrau e Dora Vaz, presidentes dos conselhos clínicos dos ACES de Sintra e da Amadora, respetivamente, não têm dúvidas de que a escolha de outro hospital que não o Amadora-Sintra tem que ver com os tempos de espera. "Há muitos doentes que preferem ficar no Amadora-Sintra. O hospital não tem um problema de credibilidade, tem o problema de estar subdimensionado. Foi construído para uma população de 350 mil utentes e responde a 650 mil. Quando as pessoas têm um problema de saúde querem vê-lo resolvido o mais rápido possível", aponta Maria João Barrau, referindo que o hospital tem feito um esforço enorme para reduzir listas de espera.
Dora Vaz reforça: "Sempre que o hospital de referência consegue dar resposta às necessidades, as pessoas preferem ficar perto de casa, onde conhecem a instituição, onde se sentem familiarizadas. Quando falam com o médico de família perguntam se o tempo de espera é longo ou não. Através do Portal do SNS, vemos o tempo de resposta previsto, os serviços que estão mais disponíveis e dentro destes o utente escolhe o que é fácil para se deslocar ou que tem um familiar perto".
Os hospitais de Santa Maria, Cascais, Egas Moniz e Curry Cabral são os mais escolhidos e as especialidades que mais levam à mudança são oftalmologia, otorrinolaringologia e ortopedia, segundo dados da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. Os dois ACES têm e estão a desenvolver protocolos com o hospital Amadora-Sintra, em áreas como saúde materna e infantil e fisioterapia, entre outras, que permitem agilizar a resposta, permitindo que os exames que vão ser pedidos na primeira consulta possam ser feitos antecipadamente e diminuir tempo para chegar ao diagnóstico.
No lado dos que menos encaminham estão os ACES Cávado II - Gerês/Cabreira (1,4%), Pinhal Interior Norte (1,6%), Cova da Beira (2%), Douro II - Douro Sul (3%) e Guarda (10,9%). António José Santos Silva, presidente do conselho clínico do ACES Cova da Beira, explica que "os utentes sentem-se satisfeitos com o seu hospital de referência, nomeadamente com a qualidade dos serviços prestados no Centro Hospitalar Cova da Beira" e acrescenta que "oncologia é a principal especialidade que motiva o encaminhamento dos utentes para outro hospital". A ACSS está a preparar uma análise sobre as razões que levam os utentes a escolher ou não outro hospital, de forma a terem "mais informação sobre as preferências dos utentes do SNS".
O PCP questionou o Ministério da Saúde por causa do aumento dos tempos de espera e do atraso na marcação de consultas nos serviços de urologia do Hospital de São João e de gastroenterologia do hospital de Guimarães. Ambas as unidades explicaram que desde que a liberdade de escolha foi implementada aumentou a procura ao mesmo tempo que perderam médicos no serviço. A ACSS diz estar a acompanhar de perto a resposta dada aos utentes e lembra que já foram definidas as condições para pagar produção adicional de primeiras consultas, para que os hospitais possam ajustar a sua produção.
Para Miguel Guimarães, bastonário dos médicos, este é um sistema que não é justo, lembrando que há hospitais que têm de responder a uma população muito acima da capacidade ou falta de recursos humanos. "Isto cria desvantagens e pode tender a agravar a situação. As pessoas escolhem cada vez mais os hospitais centrais e, se forem dadas condições para estes tratarem mais doentes, vai centralizando cada vez mais os utentes nos hospitais centrais e os hospitais mais periféricos passam a ter menos doentes", diz.