Álvaro Beleza: “Portugal é um porto de abrigo e isso é uma vantagem para captar indústria militar”
Álvaro Beleza, presidente da SEDES - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, médico, assume-se como socialista liberal e foi mandatário da candidatura de Pedro Nuno Santos à liderança do PS. Foi o convidado o primeiro episódio da 2ª temporada do podcast Soberania, uma parceria com o OSCOT e a SEDES, no qual os temas em debate são a Segurança, a Defesa e a Justiça são os temas em debate.
Nesta estreia (que pode ouvir aqui no YouTube ou no Spotify) foi a Defesa que, naturalmente, até pelo atual contexto internacional, marcou a conversa o Francisco Rodrigues, presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT), e o João Annes, do Observatório de Segurança e Defesa da SEDES, ambos residentes do programa.
Se “Portugal está nesta situação absolutamente geoestratégica, vital para os Estados Unidos, para a Europa e não tem investimento adequado nas Forças Armadas, sublinhou Álvaro Beleza, recordando que a SEDES “mesmo antes da guerra na Ucrânia defendeu um maior investimento na Defesa: porque tem uma área marítima brutal, porque estamos no centro do no centro do Atlântico. E o centro do Atlântico ainda é o centro das duas maiores economias do mundo. É bom não esquecer que o maior espaço económico mundial é a Europa, mais a Grã-Bretanha, a Noruega e Suíça. Não é a China, é a Europa. A segunda maior economia são os Estados Unidos, não é a China. Nós estamos entre os dois maiores blocos económicos do mundo".
Além deste investimento, cujo aumento acredita que será consensual entre os dois maiores partidos, PSD e PS, Álvaro Beleza assinalou que “é preciso outro investimento que é nas pessoas”.
"Para ter paz, a Europa tem de se armar até aos dentes para ser dissuasora perante a Rússia e outros"
Álvaro Beleza, presidente da SEDES - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social
Isto é, completou, “a SEDES propôs um serviço de cidadania, mas não sei se isso vai chegar. Provavelmente vai ter que ir para um serviço militar obrigatório a nível europeu. Acho que estamos mais próximo disso. Para ter paz, a Europa tem de se armar até aos dentes para ser dissuasor a perante a Rússia e outros. E para ter autonomia estratégica perante os Estados Unidos, para ser uns Estados Unidos da Europa. A força só se equilibra com força. (…) temos que ter mais gente nas Forças Armadas, até para dizermos ao adversário que se for preciso, vamos para a guerra, porque, depois, isto é tudo perceções. (...) se não houver gente nas Forças Armadas, o inimigo não acredita. Acha que isto é uma brincadeira”.
"Deve-se preparar, não a geração que está agora em idade de cumprir o serviço militar, mas na seguinte, dos 12, 13, 14 anos, para uma nova dimensão de participação cívica também, mas também para as Forças Armadas”.
Francisco Rodrigues, presidente do OSCOT
Francisco Rodrigues, coronel da GNR na reforma, reconhece que se devia apostar “não na geração que está agora em idade de cumprir o serviço militar, mas na seguinte, dos 12, 13, 14 anos, prepará-los para uma nova dimensão de participação cívica também, mas também para as Forças Armadas”.
Desenvolver a indústria de defesa contribuindo para o crescimento económico também de outros setores foi uma solução defendida neste podcast.
João Annes sublinha que neste momento se está perante uma “mudança de paradigma”debatido a nível europeu que é “como é que podemos, com mais eficiência e mais eficácia, pôr as infraestruturas, a capacidade económica e fabril de produção civil ao serviço da capacitação militar. Mudámos o paradigma, mas mudámos sem termos feito um debate político sobre isso”.
Álvaro Beleza destaca a “vantagem” da localização geográfica do país. “Vamos ter que captar e investir mais nesta indústria militar porque Portugal é um porto de abrigo. E como porto de abrigo longe da linha da frente, tem uma vantagem em termos militares, pois a indústria de armamento e de munições deve estar o mais longe possível da guerra, não ao lado. (…) as fábricas de munições portuguesas eram das maiores de balas da NATO, porque estávamos longe da linha da frente”, afiança.
Para Annes, o país não está assim tão longe de um tipo de guerra que é a do ciberespaço. “Há uma guerra que está sempre próximo. Não é convencional. É uma conflitualidade sem quartel, porque não é assumida pelos Estados. Mas ela está presente. Aconteceram situações que, para mim, foram ataques às nossas infraestruturas críticas e até à nossa democracia, como foi o ciberataque ao grupo Impresa em que parte da memória histórica desapareceu”.
"Precisamos de uma Defesa Nacional capaz de mobilizar a vontade dos portugueses (…) Temos de ser muito mais ambiciosos. Os jovens respeitam a ambição, respeitam também as lideranças ambiciosas”.
João Annes, Observatório de Segurança e Defesa da SEDES
Em relação à Defesa em geral, João Annes sustenta que “precisamos de uma Defesa Nacional capaz de mobilizar a vontade dos portugueses (…) Temos de ser muito mais ambiciosos. Os jovens respeitam a ambição, respeitam também as lideranças ambiciosas”.
No “caderno de encargos”do OSCOT para a agenda eleitoral que trouxe, Francisco Rodrigues defendeu, entre outros, “acelerar a elaboração do conceito do conceito estratégico de Segurança Interna; avaliar e rever o modelo organizativo das forças de segurança, adaptando-o à nova realidade territorial; promover uma rigorosa avaliação à extinção do SEF; revisitar o enquadramento legal dos serviços de informações -uma das coisas que temos verificador ao longo destes anos é que, de facto, temos uns serviços de informações que nem sempre são aproveitados a favor daquilo que é o interesse nacional”.