Luís Montenegro no Conselho Nacional do PSD, com os ministros Pedro Reis e Miguel Pinto Luz atrás.
Luís Montenegro no Conselho Nacional do PSD, com os ministros Pedro Reis e Miguel Pinto Luz atrás.Foto: António Cotrim / Lusa

Trinta garantidos: Montenegro leva mais de metade do Governo para listas de deputados com poucas novidades

Quase todos os ministros e boa parte dos secretários de Estado são candidatos da coligação, que arrisca não se apresentar como AD. Fazer de 18 de maio um referendo à governação ditou escolhas.
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A elevada concentração de ministros e secretários de Estado por metro quadrado nas listas da coligação entre PSD e CDS-PP, aprovadas na noite de quarta-feira pelos conselhos nacionais dos dois partidos - tendo o PPM sido deixado de fora e ameaçado impedir a utilização da designação e da sigla Aliança Democrática (AD) -, reforça a ideia de que a estratégia de Luís Montenegro passa por transformar as legislativas de 18 de maio num referendo à governação realizada no último ano. Numa conjuntura em que se antecipa que os maiores partidos da oposição se concentrem no caso Spinumviva, que culminou na reprovação da moção de confiança que fez cair o Executivo e motivou eleições antecipadas.

“Mobilizámos para este combate o melhor que temos na nossa estrutura. E o melhor que temos na nossa estrutura está muito no nosso Governo. Se há coisa que vamos fazer nesta campanha eleitoral é prestar contas do que fizemos e explicar o que vamos fazer”, disse Montenegro, ao ser confirmado como candidato a primeiro-ministro pelos conselheiros nacionais do PSD.

Nas listas de candidatos da coligação, que PSD e CDS-PP continuam a acreditar poder apresentar-se a votos enquanto AD, só ficam a faltar quatro elementos do Conselho de Ministros. Apenas as ministras Margarida Blasco (Administração Interna), Maria do Rosário Palma Ramalho (Trabalho e Segurança Social) e Dalila Rodrigues (Cultura), tal como o ministro da Presidência, Pedro Duarte, que não deve tomar posse num eventual próximo Executivo de Luís Montenegro, concentrando-se na sua candidatura à Câmara do Porto.

Além daqueles que já tinham sido candidatos em 2024, como Nuno Melo, Joaquim Miranda Sarmento, Miguel Pinto Luz, António Leitão Amaro, Rita Alarcão Júdice e Ana Paula Martins, juntam-se os que na altura ainda estavam no Parlamento Europeu - Paulo Rangel (agora cabeça de lista pelo Porto), Maria da Graça Carvalho (Faro) e José Manuel Fernandes (Europa) - e ainda Fernando Alexandre (Santarém), Pedro Reis (Castelo Branco), Margarida Balseiro Lopes (Leiria) e Manuel Castro Almeida (Portalegre).

O reforço do peso do Governo nas listas também se aplica aos secretários de Estado, mantendo-se os que já tinham sido candidatos nas últimas legislativas, como Clara Marques Mendes, Emídio Sousa, Inês Domingos, João Moura ou José Cesário, mas “reforçando” Lisboa com Cristina Vaz Tomé (Gestão da Saúde) e Ana Isabel Xavier (Defesa Nacional), enquanto Pedro Machado (Turismo) entra na lista de Coimbra e Alberto Santos (Cultura) ganha lugar de destaque no Porto.

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Não por acaso, Luís Montenegro apontou para “aquilo que as portuguesas e os portugueses em casa se questionam”. A saber: “Vale a pena mudar de Governo? Para onde? Ou vale a pena reforçar este Governo? Para quê? É isto que um português vai colocar em cima da sua mesa de reflexão”. E explicar o que a coligação quer continuar a fazer, “em todas as áreas”, seja na Saúde, Educação, Habitação, Economia, Impostos, Segurança ou Imigração, estará também a cargo dos atuais governantes.

Mesmo com PS e Chega a adiarem anúncios para a próxima semana, em cima do prazo legal de 7 de abril para apresentarem listas de candidatos a deputados em cada círculos, antevê-se desde já um confronto direto entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos no círculo de Aveiro. Não será inédito, pois nas legislativas da 2015, o agora presidente do PSD e o secretário-geral do PS foram cabeças de lista no círculo de onde são naturais, com uma clara vitória para o espinhense Montenegro, candidato da coligação Portugal à Frente (45,4%), contra 26,9% do socialista sanjoanense.

Poucas entradas e saídas

Tirando a entrada em peso de ministros e secretários de Estado, que não deverão assumir o mandato se PSD e CDS voltarem a formar Governo, há escassas novidades. Entre as saídas destaca-se a da professora universitária e comentadora televisiva Liliana Reis, que em 2024 fora cabeça de lista da AD por Castelo Branco, de Sónia Ramos, que se candidata à Câmara de Estremoz, e da deputada algarvia Ofélia Ramos, tal como dos veteranos Emília Cerqueira, também empenhada nas autárquicas, nesse caso em Paredes de Coura, e Jorge Paulo Oliveira, que foi um dos maiores apoios do presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco - novamente cabeça de lista por Viana do Castelo -, tanto nas sessões plenárias como enquanto porta-voz da Conferência de Líderes.

Também de saída das listas de candidatos estão os sociais-democratas Carlos Eduardo Reis e Luís Newton, que suspenderam os seus mandatos ainda antes da dissolução da Assembleia da República, por terem sido acusados de crimes no âmbito do processo Tutti Frutti. Por isso mesmo, a manutenção do ex-secretário de Estado Hernâni Dias como cabeça de lista por Bragança teve de ser defendida por Montenegro no Conselho Nacional.

E a inclusão de Fernando Queiroga, presidente da Câmara de Boticas, como terceiro por Vila Real, gerou acusações de dualidade de critérios, refutadas por responsáveis sociais-democratas. Apesar de o autarca transmontano ter sido condenado em 2018 por crime de abuso de poder, o que alguns defendem constituir um entrave à disposição do PSD de não candidatar condenados em primeira instância por crimes que fossem cometidos no exercício de funções públicas, prevaleceu a interpretação de que isso só seria válido caso o candidato a deputado tivesse um processo pendente em primeira instância.

Entre as poucas novidades que se prevê existirem no grupo parlamentar do PSD, a não ser que a votação na coligação seja bastante superior do que em 2024, permitindo mais deputados, estão o presidente da Juventude Social Democrata, João Pedro Louro (11.º por Lisboa) - com o secretário-geral, João Pedro Luís, a ter igualmente hipóteses, se for possível eleger em Portalegre e Castro Almeida ficar no Governo -, Sofia Fernandes (3.ª por Braga), Francisco Figueira (cabeça de lista por Évora) e Bárbara Correia (3.ª por Faro).

No CDS-PP, que mandatou Nuno Melo para indicar os representantes centristas nas listas, Paulo Núncio será o quarto da coligação por Lisboa, o próprio Melo será segundo pelo Porto, com Álvaro Castelo Branco e João Almeida também prováveis. Mais incerta será a entrada de Telmo Correia na lista de Lisboa ou que Hélder Amaral aceite ser um dos nomes da coligação em Viseu.

30
membros do Governo de Luís Montenegro surgem nas listas aprovadas pelos conselhos nacionais do PSD e do CDS, incluindo os centristas Nuno Meloe Álvaro Castelo Branco. Esse número subirá para 32, entre um total de 59 elementos, caso Telmo Correia aceitar ser um dos candidatos do CDS - Melo foi mandatado para apontar nomes do partido - e a lista da coligação na Madeira incluir Cláudia Monteiro de Aguiar.

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