“Muitas das pessoas nem sequer veem os debates na televisão, mas apanham um ou outro momento na Internet”, lembra ao DN o professor de Ciência Política José Pedro Zúquete, numa análise sobre as reações aos frente-a-frente televisivos que arrancam esta segunda-feira à noite com o duelo entre o líder do PSD, Luís Montenegro, e o do PCP, Paulo Raimundo.“O que mais interessa é ter o melhor soundbite para se tornar viral nas redes sociais", acrescenta o politólogo, vendo esta extensão da campanha eleitoral como algo que, hoje em dia, é mais “acelerado, a correr”. Pelo menos em comparação com “o debate entre Mário Soares e Álvaro Cunhal em 76, por exemplo, que teve quase quatro horas”, explica José Pedro Zúquete, aludindo ao momento em que o então secretário-geral comunista contrapunha o socialista, que o acusara de querer instaurar uma ditadura em Portugal, com a célebre frase “olhe que não, olhe que não”. No final, foi Mário Soares o vencedor das eleições.Há 49 anos, este foi o mais longo debate televisivo, mas não foi o primeiro na história. Esse lugar, continua José Pedro Zúquete, pertence a um frente-a-frente nos Estados Unidos, em 1956, entre a “democrata Eleanor Roosevelt e a republicana Margaret Chase Smith”.Em relação à atualidade e em Portugal, o professor de Ciência Política diz que são tempos diferentes, até porque, “muitas vezes, no pós-debate, existe o choque entre o mundo dos comentadores, da bolha político-mediática, e o mundo das pessoas comuns, fora dessa bolha. Quem ganha para aqueles que estão nos estúdios, tantas vezes, não é quem ganha para aqueles que estão fora dos estúdios, em casa”, analisa José Pedro Zúquete.Neste sentido, “se houver um 'desastre', os debates são decisivos”. Por outro lado, “se não houver um 'desastre', então o debate é apenas mais um fator a juntar à guerra eleitoral, um entre tantos, e sem ser decisivo”, conclui.Também o professor de Ciência Política José Adelino Maltez, em declarações ao DN, vê os debates televisivos como pouco decisivos, centrando este argumento nos próprio protagonistas, até porque, defende, "depois de políticos de génio dramático, as nossas alternativas passam por homens comuns, com mera nota de suficiente mais". "Os debates não podem elevar o nível desta banalidade que, contudo, não é maligna. Temos de viver neste triste suficiente mais de simples polícias sinaleiros. Logo, não se vislumbra debates decisivos, porque eles só acontecem em tempos criadores e não em épocas de empatas", conclui.Os mesmos debates de há um anoA corroborar esta ideia e não totalmente afinado com o que Marcelo Rebelo de Sousa defendeu há uma semana, quando considerou que os debates televisivos podem vir a ser decisivos, também o professor de Ciência Política Riccardo Marchi disse ao DN que estes frente-a-frente “determinam muito pouco o sentido de voto dos eleitores”, por vários motivos, a começar pelo facto de a fórmula não ajudar.“30 minutos, a dividir por dois, com interrupções do moderador e perda de tempo em troca de galhardetes deixa muito pouco tempo para aprofundar temas do programa e contrastar aqueles do adversário”, explica Riccardo Marchi, acrescentando que “tudo é tratado de forma muito superficial, tipo soundbite. Portanto, têm muita pouca capacidade de fazer mudar o sentido de voto a quem já o tem claro ou de convencer os indecisos e chamar os abstencionistas."O que também não ajuda a esclarecer o público sobre em quem pode votar, continua Riccardo Marchi, são os próprio programas eleitorais dos partidos, que acabam por ser “pouco influentes para convencer o eleitorado. Ninguém lê programas calhamaços. Reduzidos a soundbite de TV, ainda menos.”Noutras circunstâncias, com candidatos novos, “desconhecidos politicamente do grande público”, “os debates televisívos podem ter um efeito importante”.Para justificar esta ideia, o politólogo dá o exemplo de “André Ventura a partir de 2020, quando conseguiu aumentar ainda mais a sua fama de matador nos debates das presidenciais de 2021”.O mesmo pode dizer-se de “Rui Tavares, cujo acesso aos debates ajudou a manter vivo o Livre após a crise Joacine Katar Moreira”, completa o professor.No entanto, “nestas eleições de 18 de maio, não há nenhum candidato novo, desconhecido, nem sequer como candidato a primeiro-ministro e que possa por isso beneficiar daquela pouca vantagem que os debates proporcionam. A isto junta-se o facto de que as últimas eleições foram há pouco mais de um ano. Portanto, os partidos não têm novidade nenhuma em termos programáticos e pouco podem fazer em termos de reivindicação de uma governação de legislatura largamente positiva ou, do outro lado, de crítica radical aos falhanços da governação”,Sobre os argumentos que vão ser esgrimidos, Riccardo Marchi diz que é expectável que Luís Montenegro aposte “tudo no tema estabilidade e nos resultados positivos alcançados por este Governo no princípio da legislatura”.No outro lado da trincheira, “a oposição apostará tudo na questão ética, na irresponsabilidade da AD em precipitar a crise e na fraca performance governativa em perspetiva comparada com os resultados do governo Costa”.Ainda assim, diz o professor, “isso é muito pouco para mobilizar eleitorado, até porque é muito provável que a questão moral se torne central com discussões infindáveis sobre suspeitas, esclarecimentos dados ou não dados”.“Creio que seja por isso que Luís Montenegro preferiu expor-se o menos possível aos debates recusando os” que o oporiam ao BE, Livre e PAN, propõe o politólogo, sugerindo que o maior problema que o primeiro-ministro “terá é o desgaste de imagem pelo caso Spinumviva”, o que o terá levado a “evitar o mais possível vários pelotões de fuzilamento a disparar todos na mesma direção”.A estratégia para proteger MontenegroO líder do CDS, Nuno Melo, foi indicado, com forte contestação por parte da oposição, para debater com BE, Livre e PAN, substituindo nestes debates em concreto Luís Montenegro. O DN questionou a professora de Ciência Política Paula do Espírito Santo sobre eventuais motivos e consequências da coligação entre o PSD e o CDS não pôr a sua figura cimeira nestes frente-a-frente. A resposta pode ser no sentido de criar uma barreira protetora em torno do atual primeiro-ministro.Ainda assim, “as duas posições são legítimas e pode não ter propriamente uma regra”, explica a professora.“Há uma expectativa de que o líder da AD venha a debater, e pode ser estranho que, neste caso, o líder do segundo partido da coligação, que é o CDS, nem sequer esteja nas listas para deputados, daí que mesmo que ele viesse a ficar bem posicionado em determinados debates, na verdade o voto nunca seria naquela figura”, analisa a professora.Por este motivo, Paula do Espírito Santo diz que esta pode ser “uma estratégia eleitoral” no sentido de proteger Luís Montenegro, de “não o expor a alguma reatividade maior esperada por parte de partidos”.Por outro lado, BE, Livre e PAN, acrescenta a professora, “são mais reativos também porque estão numa posição de sobrevivência parlamentar”.Porém, “Luís Montenegro é o primeiro-ministro e é aquele que vai ser confrontado com um ano de governação e com todas as polémicas”, o que faz com que os debates possam “fragilizá-lo politicamente, porque vai ser confrontado e vai ser bastante escrutinado, mais do que todos os outros”, conclui a politóloga.Calendário dos debatesSegunda-feira, 7 de abril21h00 – AD vs. CDU (TVI)22h00 – CH vs. PAN (RTP 3) Terça-feira, 8 de abril21h00 – PS vs. BE (SIC)22h00 – CH vs. Livre (RTP 3) Quarta-feira, 9 de abril18h00 – CDU vs. Livre Quinta-feira, 10 de abril21h00 – PS vs. IL (RTP)22h00 – BE vs. PAN (CNN) Sexta-feira, 11 de abril21h00 – AD vs. Livre (TVI)22h00 – IL vs. CDU (SIC Notícias) Sábado, 12 de abril21h00 – PS vs. PAN (TVI)22h00 – BE vs. CDU (RTP 3) Domingo, 13 de abril21h00 –AD vs. PAN (SIC)22h00 – IL vs. PAN (SIC Notícias) Segunda-feira, 14 de abril21h00 – AD vs. IL (RTP)22h00 – BE vs. Livre (SIC Notícias) Terça-feira, 15 de abril21h00 – PS vs. CH (TVI)22h00 – IL vs. PAN (SIC Notícias) Quarta-feira, 16 de abril21h00 – AD vs. BE (RTP)22h00 – CH vs. CDU (CNN) Quinta-feira, 17 de abril21h00 – PS vs. Livre (SIC)22h00 – CH vs. IL (RTP 3) Segunda-feira, 21 de abril21h00 – PS vs. CDU (RTP)22h00 – CH vs. BE (SIC Notícias) Terça-feira, 22 de abril18h00 – Livre vs. PAN (RTP 3) Quarta-feira, 23 de abril18h00 – CDU vs. PAN (CNN) Quinta-feira, 24 de abril21h00 – AD vs. CH (SIC)22h00 – IL vs. BE (CNN) Segunda-feira, 28 de abril21h00 – AD vs. PS (RTP, SIC, TVI) Segunda-feira, 5 de maio9h30 – Líderes dos partidos com assento parlamentar (Rádio) Terça-feira, 6 de maioLíderes dos partidos com assento parlamentar (RTP) Quinta-feira, 8 de maioPartidos sem assento parlamentar (RTP) Todos os debates duram 25 minutos, à exceção de AD vs. PS, com 75 minutos. Não há debates na Páscoa nem no 25 de Abril. Em dias de jogo da Taça, há só um, às 18 horas..Marcelo considera que debates podem ser decisivos.Legislativas. Partidos rejeitam debater com Nuno Melo e querem Montenegro.Montenegro estupefacto com críticas à forma como coligação se organiza nos debates televisivos