"Eu sempre defendi, quer quando respeita a aliados, quer quando não respeita a aliados, que quem tem suspeitas de desvio de dinheiro público não se deve recandidatar”, sustentou ontem André Ventura sobre a condenação a quatro anos de prisão e ineligibilidade para se candidatar às eleições presidenciais da líder do partido de extrema-direita francês União Nacional (tradução da versão francesa Rassemblement National), Marine Le Pen, por ter desviado fundos do Parlamento Europeu para fins partidários.Com esta ideia em mente, o líder do Chega, cujo partido integra a mesma família política em Estrasburgo que o União Nacional - Patriotas pela Europa -, justificou a sua posição face à congénere francesa com o facto de considerar que também Luís Montenegro não se deve recandidatar, devido às “suspeitas que há de que esteve a receber dinheiro e que não devia, enquanto era primeiro-ministro”.“Eu não posso dizer o contrário, seja correto ou incorreto, em relação a alguém que é suspeito de ter desviado dinheiro público para a utilização partidária”, completou, insistindo que “quem é suspeito de desviar dinheiro público, em nenhum lugar do mundo deve ser elegível”.Horas antes das declarações de André Ventura, a deputada do Chega Rita Matias publicou na rede social X uma fotografia sua ao lado de Marine Le Pen, num encontro partidário, com a frase: “Cada líder político que não conseguirem derrotar nas urnas, vão eliminar pela via judicial. Subverter a democracia para ‘proteger a democracia’. Liberdade, igualdade e fraternidade uma ova.”Também Ventura fez uma declinação desta ideia, apontando o “risco” de que “as ineligibilidades se tornem uma forma de afastar opositores políticos. Nós já vimos isso no Brasil, vimos isso em França, e eu espero que a justiça tenha a noção em todo o mundo, e em Portugal também, de que não se deve substituir à democracia”, defendeu.“Acusações” e “confissões”Ao DN, o porta-voz do Livre, Rui Tavares, explicou que o “União Nacional, de Marine Le Pen, tentou, por várias estratégias dilatórias, fazer com que a justiça não funcionasse, mas a justiça funcionou com as leis que foram votadas por parlamentos democráticos, tanto ao nível europeu, como nacional, em França”. .Para Rui Tavares, com esta condenação a justiça “até funcionou de forma mais branda do que aquilo que a própria Marine Le Pen propôs durante a sua carreira, uma vez que ela defendeu que um crime de desvio de dinheiros públicos levasse à ineligibilidade - à interdição dos políticos para cargos eletivos - vitalícia”.Sobre os partidos da família política do União Nacional, Rui Tavares afirma que “não há nenhuma acusação por parte da extrema-direita que não seja, em geral, uma confissão. Aquilo de que eles acusam os outros é sempre aquilo que eles fazem”.Para sustentar esta afirmação, o deputado do Livre lembra que o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, “há 15 anos que é o chefe de Governo mais corrupto da Europa. O seu filho enriqueceu, a sua filha enriqueceu, o seu género enriqueceu, o seu pai enriqueceu, os seus amigos de infância enriqueceram, com o dinheiro de nós, com o dinheiro de europeus”. Para além de Le Pen, Rui Tavares lembra ainda o antigo presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que “até roubo de joias teve. Vamos a Trump, é o mais corrupto de todos”, conclui..O PAN destaca que esta condenação de Le Pen “demonstra o quão hipócrita é este partido e a extrema-direita, que usava o slogan ‘cabeça erguida, mãos limpas’, apesar de esta decisão judicial demonstrar que tinham as mãos bem sujas”.O partido pede ainda que não se esqueça de que “quando estas graves acusações de desvio de fundos europeus feitas a Le Pen já eram conhecidas, o Chega e André Ventura não hesitaram em convidá-la para diversos eventos públicos do partido, o que demonstra o seu falso moralismo”.